O norte-americano Ronald Cotton foi processado por estupro e roubo nos idos de 1985. O detalhe é que ele tinha um álibi: estar em outro lugar no momento do crime. A polícia investigou esta alegação – e a constatou falsa. Seguiram-se, então, uma condenação e a pena de prisão perpétua.
Uns dez anos depois Ronald Cotton conseguiu provar sua inocência através de um exame de DNA. Mais um caso, pois, de erro judiciário. Calcula-se, a propósito, que 1% dos condenados estejam cumprindo pena injustamente nos EUA.
Alguém teve, no entanto, a curiosidade de estudar o álibi apresentado. Afinal, sendo inocente, por qual motivo teria ele se defendido através de uma mentira? Esta pergunta proporcionou uma descoberta fascinante, descrita recentemente pela revista britânica “Economist”.
Apurou-se que Ronald Cotton estava, sim, no lugar por ele indicado – porém uma semana antes! Esta falha na memória foi, aliás, o fator decisivo para sua condenação. A partir daí dois pesquisadores recrutaram 51 voluntários para uma experiência. Ao longo de um mês todos eles tiveram registradas suas localizações a cada momento.
Encerrada a coleta de dados os pesquisadores aguardaram uma semana. E então começaram a perguntar a cada um dos participantes onde estavam em dado momento. As respostas chocaram: estavam incorretas em aproximadamente um terço das vezes.
Porém, mais há: em 19% dos casos os participantes indicaram, com segurança, o dia correto da semana – mas erraram de semana! Em 8% dos casos estavam corretos quanto ao horário, porém errados quanto ao dia! Um contraste surpreendente.
Partiu-se, então, para a análise dos ambientes em relação aos quais houve erro. Nova surpresa: as falhas de memória foram substancialmente maiores em relação a locais cujas propriedades acústicas eram similares!
É quando passamos a perceber o quão pouco sabemos sobre nosso cérebro. Sobre as próprias origens de comportamentos aparentemente inexplicáveis. Até sobre a Justiça.
Calcula-se que em torno de 1,8 milhão de pessoas estavam presas nos EUA em meados de 2020. Apliquemos sobre este total o índice de 1% de erros judiciários. Serão 18.000 presos. Dir-se-ia, com ares de conformismo, que erros são inerentes a qualquer processo humano. Pode ser. Mas e se for você ou algum ente querido seu a deles ser vítima?