O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria sido pressionado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Democratas), a recuar em seu negacionismo em relação à Covid-19 e passar a apoiar a vacinação em massa contra a doença no Brasil. A pressão, seguida de supostas ameaças, surtiu efeito: Bolsonaro mudou o discurso e agora defende qualquer vacina contra o vírus mortal.
Os EUA temem que as novas cepas da Covid-19 que surgiram no Brasil se espalhem pelo Planeta e provoquem novo caos sanitário. Biden teria determinado o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, a procurar o presidente Bolsonaro para demonstrar a preocupação dos norte-americanos com o surgimento de novas cepas da Covid-19 em solo brasileiro. Há quem diga, porém, que a pressão dos EUA teria sido feita em forma de “recomendação”.
O governo dos EUA entende que o Brasil é o país mais omisso em relação ao combate à Covid-19 por conta do negacionismo de seu Presidente da República e do até então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazzuelo.
Além de negar por muito tempo a gravidade da doença, Bolsonaro estimula a aglomeração de pessoas e critica o uso de máscara, além de defender remédios cuja eficácia continua sem comprovação científica. O próprio Bolsonaro já foi contaminado pela Covid-19.
O Brasil bateu mais uma triste marca na pandemia nesta terça-feira (23), registrando mais de 3 mil mortes por Covid em um dia pela primeira vez. Foram 3.158 mortes pela doença nas últimas 24 horas, totalizando 298.843 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no país nos últimos 7 dias chegou a 2.349, mais um recorde no índice.
Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +43%, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença. É o que mostra novo levantamento do consórcio de veículos de imprensa sobre a situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h de terça.
O contato do embaixador Todd Chapman com Bolsonaro teria ocorrido na primeira quinzena deste mês de março de 2021, quando a pandemia completou um ano no Brasil. Segundo fontes diplomáticas em Brasília, Champan teria feito ameaças, dizendo que o Brasil poderá sofrer “severas sanções” no campo econômico e político.
Coincidentemente, no dia 10 de março o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos/Rio), o filho 01 do Presidente da República, pediu que os cerca de 55 mil seguidores que o acompanham em um grupo no aplicativo Telegram compartilhassem e ajudassem a viralizar uma imagem de Jair Bolsonaro com a frase “nossa arma é a vacina”.
O mundo político observa que o posicionamento de Jair Bolsonaro pró-vacina é bastante diferente do apresentado por ele ao longo de 2020. O Presidente chegou a criticar o uso da Coronavac, de origem chinesa, e se mostrou defensor de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, como a Hidroxicloroquina e a Ivermectina, por exemplo.
Políticos ouvidos pelo Blog do Elimar Côrtes disseram não acreditar que o governo americano tenha feito ameaças diretas a Bolsonaro. Pode ter feito ‘recomendações’:
“O presidente Bolsonaro é um sujeito que não muda. Ele pode até dizer que aceita, mas um minutos depois nega tudo”, ponderou um parlamentar.
“Ele é absolutamente imprevisível. Bolsonaro só segue as redes sociais e obedece somente seus três filhos políticos: o senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro”, resumiu outro parlamentar.
Um exemplo dado da mudança repentina de Jair Bolsonaro foi seu discurso na noite desta terça-feira (23/03) em um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão no qual relacionou ações de governo para aquisição de vacinas e disse que estão “garantidas” 500 milhões de doses até o fim do ano.
Ao longo dos 12 meses de pandemia, os brasileiros viram o Presidente colocar em dúvida a eficácia da vacina do Instituto Butantan, que chamava de vacina chinesa. Mas, no pronunciamento de terça-feira, disse que sempre foi a favor das vacinas.
“Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas. Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal”, afirmou Bolsonaro no pronunciamento.
De acordo com especialistas, há pelo menos três variantes que surgiram no Brasil nos últimos meses: a P1 (de Manaus), a P2 (do Rio de Janeiro) e agora a N9. A primeira já é internacionalmente classificada como uma “variante de preocupação“ (Variant of Concern ou VOC, na sigla em inglês). Isso porque as pesquisas indicam que é altamente transmissível e poderia deflagrar casos mais graves.
Além dela, há outras duas VOCs registradas no mundo: a do Reino Unido (B.1.1.7) e a da África do Sul (B.1.351). E pesquisadores cogitam atualmente inserir mais variações originárias dos Estados Unidos (B.1.427 e B.1.429) nesse grupo do barulho.
Aquelas outras duas linhagens nascidas no Brasil ainda são classificadas como “variantes de interesse“ (Variant of Interest, VOI). Ou seja, elas apresentam mutações potencialmente perigosas, porém ainda faltam estudos aprofundados que confirmem isso.
“Há dezenas dessas pelo mundo, e receber essa classificação já é um alerta. A N9, do Brasil, tem a mesma mutação observada em outras variantes com transmissibilidade alta”, disse o virologista José Eduardo Levi, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, em entrevista à Veja Saúde.
O governo dos EUA teme que as mutações surgidas no Brasil não consigam ser imunizadas com as vacinas já produzidas. A vacina da Oxford, por exemplo, não protege a variante encontra na África do Sul.