Em entrevista à revista Veja desta semana, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal Sergio Moro (Podemos) disse que será um “suicídio” eleger o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. Ao ser questionado pela Veja sobre em quem votaria em um eventual segundo turno entre Lula e o atual presidente, Bolsonaro, Moro respondeu que o Brasil “não corre o risco” dessa escolha. Moro promete que, caso seja eleito, irá reeditar operações policiais como a Lava-Jato, porque um dos focos de seu Governo será a retomada do combate à corrupção. Garantiu que dará autonomia e independência ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal. “A lista tríplice para a escolha do procurador-geral da República é um mecanismo importante. Fixar um mandato para o diretor-geral da Polícia Federal também”.
Moro disse ainda que “o Brasil não corre o risco de ter essa escolha trágica. Eleger Lula ou Bolsonaro é suicídio”, declarou Sergio Moro. Ele ainda garantiu à revista que sua candidatura “é a mais viável da terceira via” e que não abrirá mão de concorrer em prol de alguém que tem 1%, 2% ou 3%, o que pode ser entendido como uma referência ao nome de João Doria (PSDB), que tem aparecido com essa faixa de percentual nas pesquisas mais recentes de intenção de voto.
“Minha candidatura é a mais viável da terceira via, por que abrir mão dela? Não faz sentido eu desistir em prol de alguém que tem 1%, 2% ou 3%. Temos de respeitar todo mundo que quer colocar seu nome à disposição, mas é importante que, em algum momento, haja uma aglutinação em torno de um projeto e das pessoas que têm condições de realizá-lo”, disse o pré-candidato do Podemos.
Na entrevista, o ex-juiz ainda afirmou que seu principal adversário no primeiro turno é o presidente Jair Bolsonaro, e acusou o Governo Federal de não ter compromisso com o combate à corrupção e de não funcionar na economia.
“O adversário principal no primeiro turno é o Bolsonaro. Quero dar às pessoas a alternativa de que não é preciso tratar quem pensa diferente como inimigo. As pessoas sabem que esse Governo não tem compromisso com o combate à corrupção e que não funcionou na economia. Elas precisam de uma outra alternativa, inclusive para enfrentar o outro extremo, que é o Lula”, afirmou Moro.
Sergio Moro foi o juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato no âmbito do primeiro grau quando atuava na 12ª Vara da Justiça Federal de Curitiba. Foi ele quem condenou Lula, em dois processos, pela acusação de corrupção – o caso do Tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. As condenações foram confirmadas por instâncias superiores e Lula chegou a ficar preso. No entanto, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações, alegando que Lula deveria ter sido julgado pela Justiça do Distrito Federal e Territórios – pois, na época dos supostos crimes, ele era Presidente da República e residia em Brasília – e não pela Justiça Federal do Paraná.
Ainda na entrevista concedida à Veja, Sergio Moro disse que “é triste, constrangedor” concorrer com um político que ele, como juiz, condenou por corrupção:
“É triste, constrangedor. O Brasil está retrocedendo. Infelizmente, temos uma Justiça muito formal, que acaba privilegiando as pessoas poderosas em detrimento da aplicação da lei. Todo mundo sabe que aconteceram os crimes na Petrobras, que a empresa foi saqueada por um projeto de enriquecimento ilícito de pessoas inescrupulosas e de financiamento ilegal de partidos políticos, entre eles o PT. Assistir às anulações de condenações como as de Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e Lula é desalentador. Não é essa ideia de justiça que os brasileiros querem”.
Sergio Moro afirmou ainda que vai reeditar operações como a Lava-Jato, pois um dos focos de seu Governo, caso seja eleito, será a retomada do combate à corrupção. Garantiu também que dará total autonomia ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal. No caso da PF, vai estabelecer um antigo sonho da categoria: escolher o diretor-geral da instituição por meio de lista tríplice a ser votada pelos delegados federais:
“Hoje, os governantes não acham que combater a corrupção é prioritário. Se for eleito, as grandes operações policiais serão retomadas, garantindo independência e autonomia à Polícia Federal e ao Ministério Público, que já não são mais os mesmos da época da Lava-Jato. O poder infelizmente gera tentações e é preciso ter mecanismos formais para proteger as instituições. A lista tríplice para a escolha do procurador-geral da República é um mecanismo importante. Fixar um mandato para o diretor-geral da Polícia Federal também”.
Sobre a “a pecha de traidor” difundida pelos apoiadores do presidente Bolsonaro, Moro respondeu: “Tem muita gente sendo enganada. O Presidente mente ao falar que acabou a corrupção. Os mecanismos que levaram ao mensalão e ao petrolão voltaram com a aproximação com o Centrão e com a política fisiológica do toma lá dá cá. Bolsonaro não queria combater nada. Queria apenas se blindar, ficar longe do alcance da Justiça. Ele me disse que eu tinha de sair do Governo porque não aceitava protegê-lo de investigações. Prefiro ser alvo de críticas injustas e até de mentiras a permanecer como cúmplice de coisa errada”.
(Foto principal: Ruy Baron/Veja)