O novo secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo, coronel da Polícia Militar Alexandre Ofranti Ramalho, assumirá o cargo nesta terça-feira (07/04) com missões bem planejadas: dar um freio de arrumação na PM, da qual ele foi comandante-geral, e reduzir os índices de homicídios.
A mudança na Pasta foi anunciada na tarde desta segunda-feira (06/04) pelo governador Renato Casagrande (PSB), que decidiu substituir o atual secretário, Roberto de Sá, a quem agradece pelos serviços prestados nesses 15 meses de Governo.
Na verdade, uma decisão que Casagrande já vinha planejando, depois de sentir que Roberto Sá estava sendo boicotado por parte do oficialato da Polícia Militar. Decisão esta tomada ainda no domingo (05/04).
O boicote se traduz em números. Em março de 2017, um mês depois da “greve” dos policiais militares, que o coronel Ramalho teve que enfrentar arduamente, o Estado registrou 103 assassinatos, depois de registrar quase 400 em fevereiro, mês do movimento dos policiais. Em março de 2019, foram 86 mortes.
Em 2017 e em 2018, os policiais nada conquistaram com o governo Paulo Hartung. Pelo contrário: milhares foram punidos com processos administrativos, dezenas foram expulsos, mas, mesmo assim, sob o comando do coronel Ramalho, que àquela altura assumira o comando-geral da Corporação, foram para as ruas trabalhar. O coronel Ramalho soube punir quem, de fato, deveria ser punido por ter cometido crimes militares e transgressões disciplinares.
Em março de 2020, depois de conquistar a anistia concedida pelo governador Renato Casagrande, reajuste salarial que nenhuma outra categoria de servidores públicos obteve – somente os operadores da segurança pública –, mudanças nas Leis de Promoção e outras vantagens, alguns desses mesmos policiais travaram um movimento silencioso, o de boicote ao trabalho do secretário Roberto Sá. Ao boicotar o secretário, eles boicotaram o próprio Estado e a população.
Resultado: 143 homicídios em março, 40 a mais do que o registrado em março de 2017. Ingratidão tem sido a palavra-chave que vem rondando a caserna. Os mesmos policiais que promovem o boicote são os mesmos que tiveram as portas do Palácio Anchieta abertas para o Governo ouvir suas demandas e reivindicações. Diferente do Governo anterior, Casagrande sempre defendeu o diálogo como forma de ouvir as entidades de classe e a sociedade.
O coronel Ramalho assume o comando da Segurança Pública com a liberdade de reduzir os índices da violência e o de promover mudanças, sobretudo, no Alto Comando da Polícia Militar. Nos próximos dias, deverá anunciar a exoneração do atual comandante-geral da PM, coronel Márcio Sartório, considerado um “grande sindicalista”.
Sartório é apontado por todos como um oficial que gosta muito de reclamar e reivindicar – o que, do ponto de vista somente da tropa, é legal –, mas cujo legado tem sido “zero” no quesito do combate à violência – algo ruim do ponto de vista da sociedade, que paga os salários dos servidores públicos.
O carioca Roberto Sá, que assumiu o comando da Sesp em janeiro de 2019, com a posse do governador Renato Casagrande, pagou um preço alto também por ser de fora do Estado. Nos bastidores da Segurança Pública capixaba, o que mais se ouvia um ano e quatro meses depois é se o Estado, de fato, precisava de alguém de outra região para comandar a Segurança Pública.
O bairrismo falou mais alto também para justificar a sabotagem que alguns integrantes, sobretudo da Polícia Militar – tanto de oficiais da ativa, quanto da reserva –, dispensaram a Roberto Sá, que é delegado de Polícia Federal e foi tenente-coronel da PM do Rio.
Ao longo dos últimos meses o próprio governador Casagrande e seus assessores mais próximos já vinham observando que era nítido que parte dos oficiais estava boicotando o ex-secretário Roberto Sá. Nas ruas, no entanto, os praças, em sua maioria, vinham mantendo o empenho.
Os sargentos, atualmente, estão na função de CPU, assim não há como obrigar a base a fazer boicote. Não se viam mais ações coordenadas para frear a guerra do tráfico. Esse padrão não é normal, pois geralmente a PM intensifica ações em locais onde o crime (sobretudo homicídios) está em alta. E diante do boicote, Roberto Sá não estava conseguindo impor seu plano e nem fazer a turma trabalhar.
Se implantar no âmbito da Sesp o trabalho que fez quando comandou o Comando de Policiamento Metropolitano (CPOM), o agora secretário Ramalho vai poder estabelecer planejamento adequado para frear os assassinatos.
O novo secretário da Segurança Pública, coronel Ramalho, chega, portanto, para colocar novamente ordem na caserna. O que mais se vê nas redes sociais de alguns oficiais e praças são ataques à figura do Governador do Estado sem que haja qualquer reação ou indignação por parte do Comando Geral da Polícia Militar.
É como se o atual comandante, coronel Márcio Sartório, fizesse vista grossa para o que lê, ouve e vê. De repente, é isso mesmo: certa vez, perguntei a ele, no Palácio Anchieta, antes de uma reunião da cúpula da Segurança Pública com o governador, o que poderia ser feito em relação aos policiais militares que passavam o dia atacando e criticando o governador Renato Casagrande pelas redes sociais, inclusive, em algumas situações, com fakes news (notícias falsas) e memes:
“Isso é liberdade de expressão”, foi o que o comandante-geral da PM me respondeu. “Já os fake news são crimes”, completou.
Tá aí o resultado da tal “liberdade de expressão”. Um militar, seja ele da ativa ou da Reserva Remunerada, não pode criticar o Governador de Estado, que é o comandante-em-chefe da Polícia Militar. Assim como não pode criticar também o Comandante-Geral e nenhum superior.
Currículo
Alexandre Ofranti Ramalho, 50 anos, ingressou na Polícia Militar do Espírito Santo em 1991, tendo sido o comandante-geral da Corporação entre abril de 2018 e janeiro de 2019. É coronel da PM e atualmente ocupava o cargo de secretário municipal de Defesa Social em Viana.
Durante os 29 anos de serviço na PMES, Ramalho comandou o antigo Batalhão de Missões Especiais, o 1º Batalhão, o Comando de Polícia Ostensiva Metropolitano, além de ter exercido diversas outras funções.
Coronel Ramalho é bacharel em Administração e pós-graduado em Segurança Pública. Possui cursos de Operações Especiais, de Entradas Táticas com Uso de Explosivos, avançado de Negociação para Policiais, Explosivos Não Convencionais, dentre outros.
(Texto atualizado e corrigido às 6h50 de 07/04/2020)