Numa tentativa de transmitir para a população que têm prestígio com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e com o primeiro escalão do Governo Federal, o ex-homem forte do PSL no Estado e ex-deputado federal Carlos Manato e a mulher dele, a médica e deputada federal Doutora Soraya Manato (PSL), estão usando as redes sociais para surfar nas ondas da tragédia que abalou o Espírito Santo, com a morte de sete pessoas por conta das fortes chuvas que atingiram a região Sul capixaba.
O casal gravou vídeos e postou em suas redes sociais, afirmando ter sido responsável pela vinda de representantes do Governo Federal ao Espírito Santo para atuar junto aos demais órgãos na ajuda aos municípios atingidos pelas chuvas. Mesmo se fosse verdade, trata-se de um fato que não se deve dar publicidade. Não se faz publicidade com a vida alheia e nem com o sofrimento de um povo.
Não é só Carlos Manato e Soraya Manato que vêm tirando proveito da tragédia. O deputado estadual Capitão Assumção postou um vídeo, com uma denúncia duvidosa, em que um homem chega a chorar ao dizer que uma assistente social “do Governo do Estado” estaria exigindo documentos, como CPF e Título de Eleitor, de pessoas desabrigadas e desalojadas em Iconha e que estariam em busca de doações.
Com expressão deselegante, o deputado Assumção compartilhou o vídeo e ainda comentou: “CANALHA! MIL VEZES CANALHA! Governador Esquerdista Renato Casagrande não está liberando colchões doados aos moradores afetados pela chuva”.
Também sem checar a veracidade do vídeo e se a história é verdadeira, o ex-deputado Carlos Manato foi no mesmo sentido: “MUITO TRISTE: Governo do ES cria barreiras para entrega de colchões em Iconha. Em vídeo voluntário se emociona, implora por ajuda, e relata que crianças estão dormindo no chão”.
Sobre o vídeo compartilhado por Carlos Manato e Capitão Assumção, o Governo do Estado negou, nesta terça-feira (21/01), que tenha disponibilizado servidores para distribuir doações nas cidades do Sul. Por meio de nota, o secretário de Estado do Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social em exercício, Severino Alves da Silva Filho, informou que não há nenhum servidor da Pasta atuando na distribuição de donativos às vítimas das chuvas que atingiram municípios da região Sul do Espírito Santo.
Ele comunica ainda que nesta terça-feira, dia 21, será encaminhada uma equipe ao município de Iconha para levantamento e cadastro de famílias afetadas pelo desastre. “Desde o ocorrido, o Governo do Estado não tem medido esforços para atender a população das cidades duramente castigadas pelas chuvas”, diz a nota.
Carlos Manato, que hoje exerce atividade empresarial, atua nas redes sociais como se ainda fosse parlamentar e aproveita a tragédia para vender a imagem de alguém proativo e que está sempre em busca de soluções para o Espírito Santo.
“VITÓRIA!. Conseguimos um representante do Governo Federal para ajudar os municípios do Sul do Estado que foram atingidos pelas fortes chuvas. Vamos continuar na luta!”. Em seguida, ele convida as pessoas a assistirem seu vídeo sobre o mesmo assunto.
Em outra mensagem, Carlos Manato diz: “Amigos de Iconha, Vargem Alta e Alfredo Chaves, eu e a deputada federal Dra. Soraya Manato estamos buscando ajuda, junto a Defesa Civil Nacional, para minimizarmos o sofrimento da população, após as fortes chuvas que atingiram os municípios. Mas, precisamos também de auxílio das Prefeituras, para que essa ajuda seja efetivada”.
Em janeiro de 2019, Carlos Manato foi nomeado chefia da Secretaria Especial para a Câmara da Casa Civil. Era o homem forte de Jair Bolsonaro no Espírito Santo. No entanto, perdeu o cargo depois de se envolver em um escândalo sexual em que, supostamente, seria vítima de uma possível extorsão por parte de uma comerciante capixaba que revelou ter sido amante do ex-deputado.
A mulher de Manato, Doutora Soraya Manato, que é deputada federal em primeiro mandato, também aproveita a oportunidade para surfar na tragédia:
“Com foco em ações na área da saúde para as cidades do Sul do Estado atingidas pelas fortes chuvas, eu e Manato nos reunimos hoje com o diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres, Armin Braun e o Secretário Leno Queiroz, representantes do Ministério do Desenvolvimento Regional. Acertamos também todas as medidas disponibilizadas pelo governo de Jair Bolsonaro para reconstrução da infraestrutura dessas cidades que foram arrasadas pelas últimas chuvas”.
Em outro vídeo, Soraya Manato diz que já manteve contato com as prefeituras das cidades atingidas e orientou os gestores a prepararem toda documentação para que ela leve a Brasília para que haja liberação rápida dos recursos financeiros para a população e para os municípios.
É outra propaganda, no mínimo, enganosa por parte da parlamentar. Isso porque o governador Renato Casagrande já assinou o Decreto nº 092-S, de 20 de janeiro de 2020, que declara Estado de Calamidade Publica nos municípios de Alfredo Chaves, Iconha, Rio Novo do Sul e Vargem Alta, afetada pela tempestade, conforme Instrução Normativa 02/2016, do Ministério da Integração Nacional. O decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado desta terça-feira (21/01).
O deputado federal Evair de Melo é outro que, inclusive, tem visitado os municípios atingidos pelas chuvas. Evair de Melo chega ao absurdo de vestir colete da Defesa Civil. E garante ter protocolado, nesta terça-feira (21/01), “no Ministério da Defesa, um requerimento de providências para que seja autorizado o deslocamento de militares profissionais da área da saúde com objetivo de atender os municípios capixabas que foram afetados pelos desastres climáticos no sul do Estado do Espírito Santo! Neste momento é extremamente necessário contarmos com uma equipe de Força-Tarefa Logística Humanitária, composta por médicos, nutricionistas, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos em enfermagem, com o apoio de ambulâncias/helicópteros, para que a população das regiões atingidas pelas fortes chuvas dos últimos dias receba o melhor e o mais rápido atendimento possível!”.
Diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres é major do Corpo de Bombeiros capixaba
O chefe do Setor de Relações Pública do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Wagner Borges, explicou na tarde desta terça-feira (21/01) que foi a própria Coordenadoria Estadual da Defesa Civil que manteve os primeiros contatos, com apoio do governador Renato Casagrande, com o Ministério do Desenvolvimento Regional para buscar o apoio do governo Federal nas ações que visam reduzir os impactos da chuva nos municípios atingidos. Não houve interseção de nenhum agente político na questão.
A ajuda primordial está sendo dada pelo diretor do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), Armin Braun, que, aliás, é major do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santo. O major está no Estado desde a última sexta-feira (17/01) quando começou a chover forte.
“O nosso Corpo de Bombeiros e a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil pediram ao major Braun que fosse dada uma resposta mais rápida possível para a chegada da ajuda federal. E ele ajudou e continua nos ajudando nesse sentido. Além disso, o governador Renato Casagrande deu carta branca para que o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil tocassem as ações. O próprio governador pediu e as instituições elaboraram o decreto da Calamidade Pública nos municípios. O decreto é de autoria do Executivo Estadual. Se deixássemos para que cada prefeitura produzisse seu decreto, iria levar mais tempo, pois a questão burocrática poderia atrasar a chegada de recursos federais. O Estado foi célere nessa questão e, assim, graças à iniciativa do Governo Estadual, os recursos chegarão mais rapidamente às pessoas necessidades”, disse o tenente-coronel Wagner.
A tragédia
A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDEC) divulgou na tarde desta terça-feira (21/01) mais um boletim com números da tragédia. A informação é de que sete pessoas foram mortas até o momento: quatro em Iconha e três em Alfredo Chaves.
Os desalojados e desabrigados somam 2.290 pessoas. Dessas, 2.204 estão desalojados, sendo 1.107 em Alfredo Chaves, 941 em Vargem Alta, 92 em Anchieta, 55 em Iconha e 9 em Rio Novo do Sul. De acordo com a Defesa Civil, das 78 pessoas desabrigadas, 52 estão em Vargem Alta, 22 em Iconha e quatro em Rio Novo do Sul.