O deputado Sérgio Majeski tem demonstrado ser um político bem intencionado. Uma grata revelação da legislatura passada. Fala sempre aquilo que seus eleitores querem ouvir; está sempre na oposição, o que, para alguns, é o “politicamente correto”. Saiu do PSDB, que integrava o governo Paulo Hartung, e migrou para o PSB, do governador Renato Casagrande, que o ajudou a se reeleger em outubro de 2018. Majeski, porém, é oposição a Casagrande.
Majeski, às vezes, acerta no tom; às vezes exagera nas palavras, confundindo opinião e liberdade de expressão com acusações. Neste aspecto, pode, um dia, acabar perdendo a razão. Registre-se, todavia, que as propostas legislativas apresentadas e defendidas por Sérgio Majeski são sempre proativas, sobretudo, as da área da educação e outras sociais.
Por conta desse viés ideológico, de estar sempre na posição do contra, Sérgio Majeski tornou-se desde seu primeiro mandato figura fácil da imprensa. Se a pauta é para criticar o governo, chame o Majeski. Se é para falar da Escola Viva, chame o Majeski. Se é para criticar o Ministério Público ou o Judiciário ou o Tribunal de Contas, chame o Majeski.
E ele vai. Foi dessa forma que o deputado-professor caiu fácil na pauta do apresentador Mário Bonela e da repórter Eliane Gomide, naquela manhã do dia 17 de julho de 2019, em que ele concedeu entrevista ao telejornal Bom Dia ES, da TV Gazeta, cujo tema foi a aprovação de Projetos de Leis encaminhados pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo à Assembleia Legislativa.
Dias depois dessa polêmica entrevista de Majeski – em 31 de julho de 2019 –, o governador Renato Casagrande (PSB) sancionou as leis que preveem a criação de 307 cargos comissionados no Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) e a extinção de 65 cargos efetivos, preenchidos por concurso público, no órgão.
As duas matérias haviam sido aprovadas na Assembleia Legislativa no dia 16 de julho. Os projetos foram encaminhados à Ales pelo procurador-geral de Justiça, Eder Pontes, em nome do Ministério Público Estadual.
De acordo com o projeto, os cargos são divididos em 216 vagas de assessor de promotor de Justiça; 40 vagas de assessor especial; 45 de assessor técnico; três de assessor de Planejamento e Gestão; e três de assistente administrativo do Gabinete do Procurador Geral de Justiça.
Os cargos extintos representam uma economia de R$ 36,8 milhões por ano do orçamento do Ministério Público. Já os cargos criados, caso sejam todos ocupados, custarão R$ 28,9 milhões por ano. Como se vê, uma economia de mais de R$ 8 milhões por ano.
No entanto, essa economia não entra no radar do deputado Majeski e nem no da parte da imprensa capixaba. A entrevista de Majeski, ao vivo, foi concedida no segundo andar da Assembleia Legislativa, fora do Plenário, onde, em tese, Majeski poderia alegar possuir imunidade parlamentar para se expressar.
Na entrevista, o sempre diligente deputado preferiu não apenas emitir uma opinião sobre os projetos de modernização do Parquet estadual. Acabou fazendo graves acusações contra membros – promotores e procuradores de Justiça – do Ministério Público e da Assembleia Legislativa (deputados estaduais), sem, no entanto, citar nomes.
Na entrevista, Majeski afirmou que a aprovação dos Projetos de Leis encaminhados pelo Ministério Público teria ocorrido de forma “atropelada” e “no apagar das luzes”, situação que evidenciaria a aprovação dos mesmos já estariam previamente “combinada”.
O deputado disse mais: afirmou que a aprovação somente foi possível em razão de uma suposta “troca de gentilezas”, ou seja, que os membros da Assembleia Legislativa aprovaram os “pleitos do Ministério Público em troca de também terem atendida uma pretensão deles, sem que houvesse insurgência ou questionamento por parte do órgão fiscalizatório”.
Essa “troca”, afirmou o parlamentar na entrevista à TV Gazeta, persistiria no fato de que não fosse adotada nenhuma medida relativa à fiscalização da frequência e do trabalho de servidores do Poder Legislativo, diante da extinção do controle de frequência, Projeto de Lei que fora aprovado logo após a aprovação dos Projetos de Leis encaminhados pelo Ministério Público Estadual.
Sérgio Majeski encerrou sua performance, dizendo que a aprovação de um dos Projetos de Leis encaminhados pelo Ministério Público era para “driblar” a Lei de Responsabilidade Fiscal, e “enganar” a população capixaba.
Como se observa, as palavras do deputado-professor Sérgio Majeski estão longe de ser uma simples demonstração de liberdade de expressão, como parte da imprensa tenta fazer a sociedade acreditar.
O parlamentar se vestiu no papel de acusador, atingindo injustamente profissionais que, no dia-a-dia, são responsáveis por defender os interesses individuais dos cidadãos e da sociedade; são responsáveis pela defesa intransigente do Estado Democrático de Direito e das Constituições Federal e Estadual; são responsáveis pelo combate à corrupção e a outros tipos de delitos, inclusive o de calúnia e difamação.
O deputado Sérgio Majeski atingiu também seus colegas de Parlamento, aqueles que, em nome de um certo corporativismo, dificilmente punem outro deputado por suposta falta de decoro.
Como diz a censurada canção de Pepeu Gomes e Baby Consuelo, nos anos 80… “Você pode comer baseado/baseado em que você pode comer quase tudo…Porque o mal nunca entrou pela boca do homem/Porque o mal é o que sai da boca do homem…”