Pela primeira vez desde que foi presa e autuada em flagrante pela Polícia Civil no dia 22 de fevereiro de 2019 pela acusação de, supostamente, tentar extorquir o ex-deputado federal Carlos Manato, que ocupa o cargo de secretário Especial da Casa Civil do governo do presidente Jair Bolsonaro – ambos são do mesmo partido, o PSL –, a comerciante Simone Lima Silva decidiu se manifestar.
Em entrevista exclusiva ao Blog do Elimar Côrtes, Simone, que foi solta ainda na Audiência de Custódia, realizada no mesmo dia da prisão, garante que é inocente. E mais: afirma que iniciou relacionamento amoroso e estável com Manato em 2014 e que foi vítima de uma armação feita pelo ex-parlamentar, por causa de ciúme:
“Eu tive um relacionamento amoroso com o Carlos (Manato) desde 2014. Ele mentiu ao declarar que me conheceu somente uma semana antes do flagrante montado para me prejudicar, mandando seu motorista me entregar R$ 10 mil, dos R$ 25 mil que ele (Carlos) disse que iria me dar para eu abrir uma loja na Glória, em Vila Velha”, disse Simone. (As fotos de Simone publicadas nesta postagem foram cedidas pela própria comerciante e, segundo ela, tiradas da sacada do apartamento que Manato e a família possuem na Praia da Areia Preta, em Guarapari).
Simone se refere a Luiz Dayr Dilon Júnior, motorista e amigo pessoal de Carlos Manato há décadas. Luiz Júnior sempre foi assessor parlamentar de Manato, que cumpriu, até fevereiro deste ano, quatro mandatos de deputado federal.
Carlos Humberto Manatto nasceu no Alegre, Sul do Espírito Santo, em7 de agosto de 1957. É médico e sócio de hospital na Grande Vitória, junto com sua esposa, a agora deputada federal Soraya Manato. Carlos Manato, como ele se identifica, foi deputado federal por quatro mandatos consecutivos e nas eleições estaduais de 2018, se candidatou a governador do Espírito Santo, ficando em segundo lugar no primeiro turno – o vencedor foi Renato Casagrande.
Ao chegar para a entrevista, Simone fez questão de ler na íntegra artigo do jornalista Elimar Côrtes sobre a postura da Polícia Civil e da delegada Rhaiana Bremenkamp, da Delegacia Especializada de Defraudações e Falsificações (Defa), na condução de sua prisão em flagrante:
“…Neste caso, a Polícia Civil fez a imprensa acreditar que o alvo da extorsão da moça era Luiz Dayr Dilon Júnior, que trabalha para o ex-deputado Carlos Manato como motorista…No dia 22 de fevereiro, ao ser interrogada pela delegada, Simone, todavia, conta sua versão. Diz que seu alvo era o CARLOS, conforme consta em depoimento. Simone revela, inclusive, que fora amante do CARLOS por um ‘período’. Simone afirma que sabia que CARLOS era casado, mas ela, na época, era solteira. Depois, decidiu se casar e deixou CARLOS…Não se trata aqui de escrever um enredo de traição. O que se quer aqui é uma postura mais clara, transparente e profissional da Polícia Civil. A mesma polícia que expôs Amaro Neto e Luiz Durão, hoje protege o CARLOS’’.
Interrompida pelo jornalista, Simone respondeu a seguinte pergunta: “E a delegada te perguntou quem era o Carlos?”. Simone respondeu afirmativamente:
“Sim, várias vezes. Eu respondi: doutora, o Carlos é o Carlos Manato, ex-deputado federal, candidato ao governo do Estado do Espírito Santo no ano passado. Mas ela (delegada) não colocou essa informação no Auto de Prisão em Flagrante que foi para a Justiça. Eu insisti com a delegada, e ela me pediu o vídeo que estava no meu celular que comprovaria o meu relacionamento amoroso com o Carlos. Eu dei o celular nas mãos da delegada e ela disse: ‘Ah, tá!”.
Ficou por isso mesmo e Manato, embora tenha dado entrevista ao site de notícias Folha do ES falando da suposta chantagem e negando ter sido amante de Simone, não aparece, ainda, como “vítima” no episódio. A vítima ainda é seu assessor-motorista, que nunca teve nada com Simone.
Simone diz ter conhecido Manato em 2014, em um restaurante de Vila Velha, por intermédio de um amigo comum, o ex-vereador de Linhares Rodrigo Fumaça. “A partir dali, tivemos um romance, mesmo eu sabendo que ele era casado com a doutora Soraya”, afirma a moça.
A partir dali, diz Simone, ela conheceu o Brasil. Foi para Brasília duas vezes, sempre com Manato, e afirma que ficava hospedada no apartamento funcional do parlamentar, que foi, inclusive, corregedor-geral da Câmara Federal.
Foi a partir de 2014 que Simone conheceu outras duas jovens, identificadas como Suzy e Jarina, também amigas de Carlos Manato. Suzy teve chance até mesmo de conhecer os Estados Unidos e a Europa.
Simone diz que sempre falava com Manato que queria formar uma família, casar-se e ter filhos. O ex-deputado, porém, alegava que jamais se separaria da agora deputada Soraya. Por isso, informa Simone, ela acabou se separando ao amante e se casou com outro homem, com quem tem um filho de dois anos, o que, na visão dela, teria provocado ciúmes em Manato.
“Mas em 2018 meu casamento chegou ao fim. Carlos Manato acabou descobrindo que eu havia me separado e me telefonou, se colocando a minha disposição para me ajudar no que fosse necessário. Ele me convidou para comer uma camarão VG, que sabe que eu gosto muito, na casa dele de praia, na Areia Preta, em Guarapari. Eu já havia frequentado a residência, quando estávamos juntos. Foi nessa ocasião, do retorno do nosso relacionamento, que o Carlos Manato me ofereceu R$ 25 mil para eu montar uma loja de roupas, na Glória. Ele já havia ajudado outra amiga, na Serra, que é a Jarina, dona de uma loja. Nesse sentido, ele é muito bom”, diz Simone, que prossegue:
“Foi aí que veio a armação. Carlos (Manato) disse que mandaria seu motorista, Luiz Júnior, me entregar R$ 10 mil, no shopping em Vila Velha. Alegou que ele não poderia aparecer ao meu lado por ser um homem público. E que depois me daria o restante do dinheiro. Na época, ele me fez assinar um documento, em que eu jamais tornaria esse assunto publicamente. O resto da história as pessoas conhecem: que foi o flagrante montado”.
Simone garante que não fez chantagem a ninguém e que tem como provar fala a verdade. “O Carlos Manato é quem mente quando diz que me conheceu uma semana antes do flagrante. Ele pagou as cirurgias de silicone que implantei em meu corpo; ele me deu um Gol zerado quando nos conhecemos. Me trazia perfumes e bolsas importadas. Por que mentir?”
Para tentar provar na Justiça que diz a verdade e que jamais tentou extorquir o homem forte de Bolsonaro no Espírito Santo, Simone fala da decoração do apartamento funcional de Manato em Brasília:
“São cinco quartos, sendo duas suítes e um quarto pequeno, que era da dona Céu, que ele (Carlos Manto) contratou para as tarefas domésticas. Na cozinha havia uma mesa redonda com quatro cadeiras. Na sala de jantar uma mesa com oito cadeiras. A mesa é retangular. No corredor, há um banheiro social para visitas. Eu dormia no quarto do Carlos, numa suíte”, afirma a moça.
Simone descreve também o apartamento de praia de Manato em Guarapari: “Eu frequentava o local quando a família não estava lá. No local há uma sacada, com uma gigantesca banheira hidromassagem. Uma geladeira de bar, para guardar cervejas; uma geladeira pequena vermelha; adega com vinhos, uísque, etc.”
A advogada de Simone, Carolina Prado, foi procurada pelo Blog do Elimar Côrtes. Preferiu não se manifestar, sob a alegação de que o Inquérito Policial, que ainda não foi transformado em processo – o caso está sob análise do Ministério Público –, tramita em segredo de Justiça.
Outro lado
Na tarde de terça-feira (23/04), depois de entrevistar Simone, o Blog do Elimar Côrtes ligou para o celular de Carlos Manato, cujas ligações caíram na caixa postal. O Blog tentou ter acesso ao teor das declarações dele na Polícia Civil, mas o Inquérito está em sigilo de Justiça. Ele acabou sendo ouvido em novas diligências. De acordo com fontes da Defa, Manato refirmou o que dissera em entrevista: que conheceu Simone uma semana antes do flagrante e que fora vítima de extorsão.
Em 27 de fevereiro deste ano, Manato se manifestou ao Folha do ES. Na ocasião, ele garantiu que nunca houve vídeo íntimo com a Simone. “Ela mesma atesta isto. Logo, o crime que está sendo investigado não é sobre crime sexual e sim sobre extorsão”, enfatizou Manato na época..
O ex-deputado enviou ao Folha do ES “dois documentos considerados importantes para desvendamento de dúvidas”. O primeiro foi que Simone teria assinado “a confissão do que considera a verdade. O segundo é o B.O policial que antecede o fragrante da polícia na prisão durante a entrega de R$ 10 mil que seria a isca para colocar ponto final na pretensão da Simone Lima”.
Prossegue o Folha do ES: “O ex-deputado fez questão de contar detalhes da história que teve início há 15 dias. Seu assessor insistiu para que dessa atenção a uma mulher que desejava emprego. Num trajeto até Vila Velha, aonde o Manato iria dar entrevistas nas emissoras locais, no carro, de carona, conversaram sobre a pretensão de emprego, em que ela contou um monte de ‘mentira’ sobre a vida dela, objetivando alcançar um cargo no Gabinete da esposa de Manato”.
Diz o jornal online: Chegando em Guarapari, descrevendo o ocorrido, Manato disse que ela vendo que não teria emprego, perguntou se o mesmo poderia pagar uma boleta de R$ 3 mil. O ex-deputado disse que não tinha nem R$ 100,00 no bolso. “Foi quando ela me ameaçou e disse que gravou conversa no carro e que iria me comprometer. Eu não me importei e disse que ficasse à vontade, pois não disse nada impróprio e nem toquei nela”, narra.
Passado algum tempo, afirma o ex-deputado, Simone lhe ligou e disse “que tinha provas contra mim, gravações e nem sei o que, pois nunca tive nada com essa mulher. Então eu disse que não trataria mais de nenhum assunto e que ela procurasse meu secretário a partir dali. Foi quando meu assessor (mais conhecido como Júnior) e meu advogado fizeram o Boletim de Ocorrência e preparam o flagrante, pois eu dei a certeza a eles de que não havia nada a temer”.
(Atualizado às 12h51 de 24/04/2019)