Quem conhece o governador Paulo Hartung, sabe perfeitamente que ele adora ser elogiado por saber escolher os craques de seu time – secretariado. Neste seu terceiro mandato, Hartung procurou mesclar quadros técnicos com políticos profissionais. Ele já está no terceiro ano e oito meses do terceiro mandato como governador e não disputa à reeleição.
Quem conhece a trajetória do governador, sabe perfeitamente que Hartung jamais demite um secretário de Estado por incompetência. Hartung é do tipo do governante que não gosta de “queimar” seus craques. Até porque, detesta ser criticado por ter escolhido mal; de ser criticado por ter escolhido, em vez de um craque, um perna de pau.
Neste terceiro governo, no entanto, Paulo Hartung avaliou mal algumas escolhas. No comando da Segurança Pública, então, o governador promove um tremendo “barata voa”. Ninguém se entende. O resultado é o aumento da violência: mais homicídios; mais crimes contra o patrimônio (os jornais vêm noticiando diariamente a onda de arrombamentos ao comércio, deixando no prejuízo os maiores pagadores de impostos do Estado, que são os lojistas); a expansão do domínio do tráfico pelas ruas do Estado, dentre outros delitos.
Neste instante, Paulo Hartung deve estar com os poucos cabelos arrepiados ao ouvir inúmeras falácias que saem da boca de seu novo secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, o coronel Nylton Rodrigues.
Na semana passada, para explicar que o Estado iria passar a evitar ataques ao comércio, o secretário-coronel Nylton disse que a Polícia Militar iria usar helicóptero para combater arrombamentos, que acontecem à noite e de madrugada. O coronel-secretário Nylton Rodrigues foi motivo de piadas nas redes sociais e nas mesas de bares.
Nesta terça-feira (21/08), o secretário-coronel Nylton Rodrigues voltou a ser alvo de chacota por parte da população capixaba, ao declarar, ao jornal A Gazeta, que “o tráfico não comanda nada e nem dita regra alguma”, e “quem dita regra no Espírito Santo são as autoridades constituídas”.
É surreal, para não dizer uma viagem, a fala do secretário-coronel. Rsrsrsrsrsrsr
Nylton Rodrigues usou o discurso para tentar justificar a ausência do Estado na periferia da Grande Vitória. Tanto que os jornais A Tribuna e A Gazeta desta terça-feira apresentam reportagens sobre diversos bairros em que o domínio sobre comércio e moradores e órgãos públicos é dos…traficantes.
Os jornais voltaram a abordar o assunto porque, na noite do último sábado (18/08), a jovem Thaís Oliveira Rodrigues, de 22 anos, foi assassinada por traficantes no bairro Morada da Barra, próximo a região de Terra Vermelha, em Vila Velha. Ela tinha ido ao local buscar um bolo de aniversário para comemorar mais um ano de vida da mãe e da irmã.
Thaís foi morta porque a motorista do carro em que ela estava – que é sua tia – desobedeceu a Lei do Tráfico. A tia da jovem “simplesmente esqueceu” que, para entrar no bairro Morada da Barra – e em outros bairros também da Grande Vitória –, motoristas têm que circular com vidros abaixados e luz interna acessa. Uma prova de que o Estado do Espírito Santo está totalmente ausente. Uma demonstração da falácia do secretário-coronel Nylton Rodrigues: quem manda são os traficantes.
O coronel-secretário Nylton Rodrigues deveria reconhecer que a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo, há quase quatro anos, está afastada da sociedade. Como ex-comandante-geral da Polícia Militar, Nylton deveria saber que a PM está afastada da sociedade capixaba desde o aquartelamento de fevereiro de 2017.
Como “chefe da Polícia Civil” –, sim, é o secretário-coronel Nylton Rodrigue quem manda na Polícia Civil –, Nylton deveria reconhecer que a Polícia Civil está afastada da sociedade e prova maior disso é o grande número de arrombamentos a lojas que, se tivessem sendo investigados, seriam reduzidos e os criminosos presos.
Um dos comentários mais elegantes sobre a falácia do coronel-secretário Nylton Rodrigues, no Facebook – onde ele é alvo de piadas constantemente –, veio do advogado Tadeu Fraga, da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros (ACS/ES) e da Associação dos Militares do 4º Batalhão.
Ao analisar o conteúdo da entrevista dada por Nylton ao jornal A Gazeta (cujo título é Secretário: “O tráfico não dita regra alguma”), Tadeu Fraga cita o que o neurologista francês Jules Cotard escreveu em 1880, sobre “O Delírio da Negação”, uma síndrome psiquiátrica de severidade variada:
“O ‘delírio de negação’ é uma condição mental específica, do tipo transtorno psicótico, em que a pessoa afetada gravemente detém a crença delirante de que ela não existe. Isso mesmo, você leu certo: no estágio acentuado do delírio o indivíduo nega a si mesmo e passa a desconfiar da própria existência, apesar de toda a evidência em contrário.
A ‘Síndrome de Cotard’ (homenagem ao neurologista francês que sistematizou a doença, o parisiense Jules Cotard) também se apresenta de forma branda em 55% dos casos, nos quais, paradoxalmente, o sujeito não chega a negar a própria existência, porém rejeita com veemência e sem constrangimentos fatos que, pela natureza, são irrefutáveis, a exemplo da morte.
E agora, fez sentido o conteúdo matéria???”
Mais uma vez, a população do Espírito Santo se torna alvo de constrangimento por conta da falácia de um secretário-coronel que insiste em negar os fatos.