A saída da senadora Rose de Freitas do MDB – antigo PMDB – para o novo partido Podemos, do senador paranaense Álvaro Dias; a demandada de diversos deputados estaduais do mesmo MDB para outras siglas; a decisiva entrada do ex-governador Renato Casagrande (PSB) como pré-candidato ao governo do Estado; e a decisão do deputado estadual Sérgio Majeski em sair do PSDB e migrar-se para o PSB para disputar uma das duas vagas ao Senado Federal, significam, definitivamente, que o governador Paulo Hartung perdeu de vez o controle da política e dos políticos no Espírito Santo. Neste cenário, só resta ao Partido dos Trabalhadores honrar a sua tradição e lançar a ex-deputada federal Iriny Lopes como pré-candidata ao governo estadual.
O desfecho que se deu na noite de sábado (07/04) parece ter sido muito positivo para os partidos e políticos que fazem oposição ao governo Hartung. Imaginava-se que Hartung iria prender a senadora Rose de Freitas no MDB. Não conseguiu. Rose ficou aguardando qual seria a decisão de Paulo Hartung, que resolveu permanecer no MDB para ser candidato à reeleição.
Rose, todavia, deu xeque mate em Hartung ao ir para o Podemos, algo que ela já articulava há algum tempo, pois sabia que os donos do MDB no Estado – Hartung e o deputado federal Lelo Coimbra – não deixariam que ela fosse a vencedora na convenção estadual do partido para disputar o direito de representar o MDB no pleito ao governo do Espírito Santo.
Para a democracia, é excelente que a senadora Rose de Freitas garanta sua participação na disputa ao Palácio Anchieta. Oficialmente, estão colocadas duas fortes pré-candidaturas pelo lado da oposição – Rose e Renato Casagrande – e uma da situação, que, com certeza, é a do próprio governador Paulo Hartung – ele chegou a ensaiar renunciar ao cargo para se candidatar ao Senado, mas desistiu da ideia.
O jornal A Tribuna traz em sua edição deste domingo (08/04) a possibilidade de o pernambucano André Garcia, que até sexta-feira (06/04) era o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, disputar o cargo de governador, sob a bênção de Hartung. Essa possibilidade é apenas fogo de palha ou balão de ensaio, pois tanto Hartung quanto André Garcia reconhecem que o pernambucano não tem qualquer chance de vitória, pois sua passagem na Sesp foi muito pífia.
O que a oposição avalia agora é, tendo Rose de Freitas na luta, se é bom ir com candidatura única – a própria Rose ou Casagrande – no primeiro turno ou com duas, para uma união no segundo turno. Os pré-candidatos entendem que um primeiro turno sempre é melhor para quem está no poder, que tem a máquina nas mãos – e sabe usá-la, que é o caso do governador Paulo Hartung. Já o segundo turno é igual para todos, tanto na divisão de tempo de propaganda no rádio e na TV, quanto nos debates.
Outro importante cenário para a oposição foi a migração do deputado Sérgio Majeski para o PSB. Saiu do ninho tucano, onde era boicotado, e foi para o partido de Renato Casagrande para disputar uma das vagas ao Senado.
Por outro lado, o PPS, do prefeito Luciano Rezende, ganhou o empreendedor Marcos Do Val, fundador do CATI, empresa pioneira de treinamento policial que atravessou fronteiras, indo do Brasil para outros lugares do Mundo, como EUA e Europa. Marcos Do Val é uma referência mundial em segurança, sendo, inclusive, instrutor da SWAT.
São dois nomes de peso que abraçaram a pré-candidatura do ex-governador Renato Casagrande e que, com certeza, estão tirando o sono de Ricardo Ferraço e Magno Malta, dois senadores que terão de ralar muito para conseguir renovar seus mandatos nas eleições de outubro.
O importante para a democracia e para a sociedade capixaba é que a oposição sairá fortalecida. Para fechar esse cenário, torna prescindível que o PT entre na disputa. Hoje, o nome viável dos petistas é o da ex-deputada federal Iriny Lopes.
O PT precisa aproveitar o momento e lançar candidato à disputa ao governo do Estado não só para contribuir e melhorar o debate, mas, sobretudo, para defender o legado do partido e de seu líder maior, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso depois de ser condenado pela acusação de corrupção e lavagem de dinheiro no episódio do Tríplex de Guarujá, dentro da Operação Lava-Jato.
Iriny é forte, é guerreira e sabe bater. É o melhor nome do PT capixaba. É diferente do atual presidente do partido, o ex-prefeito de Vitória João Coser, complicado com a Justiça devido a diversos processos de Improbidade Administrativa a que responde e por ser um hartunguista de carteirinha. Portanto, o nome de Coser estaria totalmente descartado para defender, no Espírito Santo, o legado de Lula. Pelo menos na visão dos petistas históricos.
A situação ficou tão difícil que o governador Hartung perdeu até mesmo o controle sobre o DEM, que hoje passou a ser comandado pela deputada federal Norma Ayub e por seu marido, o deputado estadual Theodorico Ferraço. Da família Ferraço, Hartung controla somente o senador Ricardo Ferraço (PSDB), que corre o risco de não se reeleger.
Os novos dirigentes do DEM tiveram a coragem de “expulsar” o até então seu xerife, o delegado federal aposentado Rodney Miranda, que passou para a história como um dos piores secretários da Segurança Pública capixaba e um dos piores prefeitos de Vila Velha. Rodney Miranda é afilhado político de Paulo Hartung e a saída dele do DEM deixou o governador mais ainda desguarnecido.
O perfil de Paulo Hartung é o do político que evita entrar em dividida; é o do tipo que teme um confronto. Por isso, o campo está fértil para a oposição se fortalecer, caminho livre e propício para o surgimento de outros nomes.
É aí que entra a ex-deputada Iriny Lopes, do PT, que transita com tranquilidade no campo da esquerda capixaba. Iriny é uma pessoa respeitável, que sempre teve uma conduta ilibada, mesmo que defenda pontos de vista mais radicais em termos de política. Iriny Lopes tem história forte na esquerda capixaba.
Por conta do drama – justo, aliás – que o ex-presidente Lula passa dentro de uma cela da Polícia Federal em Curitiba, é importante para o PT que o partido lance candidatos Brasil afora para defender o projeto lulista. João Coser não tem compromisso com a história do PT, diferente de Iriny Lopes. A prisão de Lula, portanto, obriga o PT a ter candidatos a governador no Espírito Santo e em outros Estados.
Para o mercado político, então, as pré-candidaturas de Renato Casagrande, Rose de Freiras e do PT (com Iriny Lopes) colocariam o governo Hartung a ataques em diversas frentes. Como costuma dizer o próprio Hartung, “o jogo é jogado” e está posto. Resta sabe até onde ele tem disposição para enfrentar esse time, que também sabe que “jogo é jogado” e “lambari é pescado”.
Com uma oposição livre, quem ganha é a democracia; quem ganha é a sociedade capixaba, que não precisa mais ficar presa ao passado da tal unanimidade, pois, como dizia o saudoso Nélson Rodrigues, “toda unanimidade e burra”.