Pelo menos 56% dos capixabas defendem uma intervenção militar na segurança pública do Espírito Santo nos mesmos moldes da que foi decretada, há uma semana, pelo presidente Michel Temer no Rio de Janeiro. É o que revela pesquisa feita pelo instituto Ideia Big Data para o jornal O Globo.
A segurança pública capixaba está em crise – a maior de sua história – desde fevereiro de 2017, quando, por 22 dias, policiais militares fizeram “greve” – aquartelamento. Neste período, familiares dos policiais bloquearam todas as unidades da PM no Estado. Desde então, o Estado tem enfrentado altos índices de crimes contra a vida, patrimônio e outros. Ao mesmo tempo em que aumentou a violência, reduziu-se a capacidade da Polícia Civil em elucidar crimes.
A pesquisa foi feita nos dias 17 e 18 de fevereiro de 2018. O presidente Temer havia assinado o decreto de intervenção federal na segurança pública no estado do Rio no dia 16, numa sexta-feira. A pesquisa foi realiza no Rio, São Paulo, Espírito Santo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Foi feita via telefone pela técnica conhecida como URA (Unidade de Resposta Audível). De acordo com o Big Data, a margem de erro é de 2.35 para mais e ara menos.
Ao todo, foram ouvidas 4 mil pessoas. No Espírito Santo, foram 800 as pessoas entrevistadas. O instituto apresentou frases afirmativas para os entrevistados. E deu três opções como respostas: Concordo; Nem concordo; nem discordo.
A primeira frase foi: “A segurança pública no Rio de Janeiro deve melhorar com a intervenção federal”. Para os capixabas, 59% acreditam que vai melhorar; 23% “nem concordam” e 18% “nem discordam”.
Para os moradores do Rio, 75% acreditam que a segurança no Estado vai melhorar com a intervenção federal. Já entre os paulistas, 52% apostam na melhora da segurança; entre os pernambucanos m 62%; e, entre os gaúchos, 45%.
À afirmação feita pelo Ideia Big Data de que “A intervenção militar vai resolver o problema de segurança pública no Rio de Janeiro”, apenas 5% das pessoas entrevistadas no Espírito Santo concordam. Nos demais Estados, inclusive no Rio, esse percentual foi também a média das respostas.
Os capixabas foram os mais críticos quanto ao tema “O Exército é menos preparado que a polícia para lidar com a segurança pública”. Para esta afirmativa, 17% concordaram. No Rio, 14% concordam; contra 11% dos paulistas 13% dos pernambucanos e 15% dos gaúchos.
Com relação à afirmação “A segurança pública do meu Estado é melhor que a do Rio de Janeiro”, apenas 21% dos capixabas concordam; outros 39% “nem concordam” e 40% “nem discordam”. Neste item, os paulistas acreditam mais em sua polícia, pois 43% responderam que em seu Estado a segurança pública é melhor do que a do Rio.
Em resposta à afirmativa mais polêmica – “O meu Estado também precisa de uma intervenção militar na segurança pública” –, mais uma vez os paulistas são os mais satisfeitos com a sua polícia: somente 21% deles concordam; outros 38% “nem concordam” e 41% “nem discordam”.
Para os moradores do Espírito Santo, entretanto, 56% querem a intervenção militar em terras capixabas, enquanto 21% “nem concordam” e 23% “nem discordam”. O Estado de Pernambuco obteve o maior índice entre os defensores da intervenção: 71%, contra 46% dos gaúchos. Durante a “greve” dos policiais militares capixabas, tropas do Exército e da Força Nacional de Segurança estiveram no Espírito Santo.
Euclério Sampaio comenta resultado da pesquisa
Integrante da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Euclério Sampaio comentou o resultado da pesquisa instituto Ideia Big Data, para quem 56% dos capixabas defendem uma intervenção militar na segurança pública do Espírito Santo. Para o parlamentar, o atual governo (Paulo Hartung) trata com descaso as Polícias Militar e Civil, prejudicando, assim, a população:
“A pesquisa apresenta o que o senso comum já vem sentindo há algum tempo. O atual governo promoveu o sucateamento das forças policiais; cortou combustíveis das viaturas. O atual governo persegue policiais e lideranças das entidades de classe dos policiais militares e civis. Tem ainda o baixo salário, o efetivo reduzido. Por enquanto, só há promessas de realização de concursos públicos agora em ano eleitoral. Os policiais que se aposentam não são substituídos. Enfim, para o governo Hartung está tudo bem na segurança pública, mas não é isso que o povo”, pontou Euclério Sampaio.
Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), professor Renato Sérgio de Lima, os dados da pesquisa são preocupantes e significam que o sucesso de uma política de segurança pública depende, também, da integração entre prevenção e repressão:
“Os dados da pesquisa indicam que o nível do medo da violência está fazendo com que a população brasileira clame por ações sem, nem mesmo, refletir sobre os efeitos perversos que elas podem ter. Uma intervenção federal não pode ser banalizada e é hora de encararmos de frente os gargalos federativos e republicanos da área. Não podemos ficar nos improviso permanente”, frisou o professor Renato.
Saiba Mais
O instituto Ideia Big Data é uma multinacional que trabalha com inúmeras técnicas de pesquisa para diversos segmentos e áreas de atuação. Para se ter ideia da importância da empresa, o Ideia Big Data e a LMP (Liegey Muller Pons), da França, anunciaram recentemente a união das operações no Brasil com a ambição de transformar as campanhas eleitorais brasileiras de 2018 com uma combinação entre uso tecnologia de Big Data, contato direto para otimizar recursos de campanha e mobilização.
A LMP foi responsável por toda a tecnologia utilizada com êxito pelo Movimento En Marché, que elegeu o presidente francês Emmanuel Macron.