A Tropa de Choque do Batalhão de Missões Especiais (BME) da Polícia Militar demorou duas horas para começar a agir com firmeza e dispersar um grupo de manifestantes contra o impeachment da presidente Dilma Roussef, na manhã desta terça-feira (10/05), no Centro de Vitória. Deveria agir mais rápido e com mais força. Depois da promover violência. manifestantes foram “comemorar” a baderna no famoso Bar do Geraldinho, ao lado do Banestes da rua Graciano Neves, no Centro da capital capixaba.
A maioria dos cerca de 80 manifestantes, todos ligados à Central Única dos Trabalhadores, ao PT e a outros sindicatos que defendem Dilma, foi para o Centro praticar atos de vandalismo e agressões. Tanto que eles colocaram fogo em pneus nas avenidas Getúlio Vargas e Jerônimo Monteiro, impedindo a circulação de veículos – ônibus e carros de passeio. Também agrediram fisicamente três jornalistas.
Um dos agressores jogou bombas em cima do repórter André Falcão, da TV Gazeta. Esse agressor foi identificado como Camilo de Lélis Santos Cardoso. Foi preso pela Guarda Municipal e levado ao 1º Distrito Policial (Vitória), no Horto. Depois de autuado em flagrante, pagou fiança de R$ 5 mil e foi solto. Estava acompanhado de quatro advogados. Camilo saiu da delegacia primeiro que a sua vítima.
O protesto começou antes das 6 horas. A Tropa de Choque só chegou às 7h50 ao local. Antes, apenas homens do Policiamento Ostensivo estavam na Cidade Alta, protegendo o Palácio Anchieta, e no trecho das avenidas Jerônimo Monteiro e Getúlio Vargas, onde se concentravam os manifestantes.
É difícil acreditar que somente nesta terça-feira o Comando de Polícia Ostensiva Metropolitana, ao qual o BME está subordinado, tenha tomado conhecimento das manifestações. Desde o final de semana, o protesto já vinha sendo anunciado pelas redes sociais ligadas ao Partido dos Trabalhadores.
A PM não pode ser surpreendida – quando essa surpresa acontece, quem perde é o Estado e, consequentemente, a sociedade. A PM tem que se antecipar aos fatos e impedir que cenas como a de hoje aconteçam e prejudicam a população.
A Tropa de Choque deveria ter chegado ao Centro antes dos manifestantes. Outras unidades da PM deveriam ter fechado as entradas de Vitória e realizar blitz em veículos, pois muitos dos manifestantes levaram caixas e mais caixas de bombas para a cidade, numa demonstração de que jamais queriam a paz.
Enquanto a PM tentava apenas negociar – como se fosse possível negociar com baderneiros – os manifestantes colocaram fogo nos pneus que eles haviam levado para a confusão. Daí em diante, os ônibus e demais veículos foram impedidos de circular. Passageiros tiveram que descer dos ônibus e seguir viagem a pé para o trabalho, escolas, consultas médicas e a outros compromissos.
A PM errou. Não se deve negociar com transgressores. Quem impede o livre acesso de pessoas está desrespeitando a Constituição Federal, ainda mais por uma causa irresponsável, que é a defesa de uma Presidente que cometeu crimes de Responsabilidade Fiscal e agora vai ser cassada.
Em entrevista ao Gazeta Online, o próprio secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, reconhece a falha: “Se houve erro, foi ter esperado demais para agir”, respondeu ele diante de jornalistas que insistem em ouvir reclamação justamente dos manifestantes, que se queixam pela “forma truculenta” com que a PM agiu. A PM não foi truculenta; ela agiu para garantir a ordem e a lei. Quando a Tropa de Choque agiu, os manifestantes liberaram as avenidas e os carros puderam circular.
André Garcia avaliou como fundamental a ação da Tropa de Choque da PM na manifestação. Segundo ele, o único erro foi ter esperado mais de duas horas para a Tropa dispersar os manifestantes.
“Tentamos o diálogo quando soubemos do protesto, mas não conseguimos negociar. Não vamos mais permitir que fechem vias em manifestações dessa maneira. Se alguém for apostar no caos, não vai ‘se criar’ no Espírito Santo”, explicou André Garcia.
Os repórteres Geilson Ferreira (TV Vitória) e André Falcão (TV Gazeta) foram atingidos com chutes por manifestantes. Um policial militar apartou a confusão e lançou spray de pimenta nos agressores. Já a repórter Suellen Araújo, da TV Vitória, foi atingida durante uma entrada ao vivo.
Uma das dirigentes do Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo, Suzana Tatagiba usou as redes sociais para compartilhar a indignação diante das agressões. Ela acompanhou as equipes de TVs agredidas ao 1º Distrito Policial:
“Como jornalista e dirigente sindical da categoria é inadmissível que trabalhadores em protesto partam para a agressão contra trabalhadores jornalistas que estão nas ruas exercendo somente o direito de trabalhar na cobertura de um legítimo protesto. Não aceito esta agressão aos nossos colegas, repudio veementemente, e nossa entidade vai pedir apuração dos fatos e punição a quem se propõe a participar de uma manifestação séria e depois, irresponsavelmente, transforma tudo em baderna e confusão”, publicou.
O secretário de Segurança Pública do Estado, André Garcia, também se pronunciou nas redes sociais e lamentou as agressões dos manifestantes à imprensa capixaba na manhã desta terça-feira.
“Lamento os atos de vandalismo e de desrespeito ao trabalho da imprensa capixaba presenciados no inicio da manhã desta terça-feira, em um protesto intempestivo realizado por movimento sindicais. Além de impedir os capixabas de chegarem aos seus locais de trabalho, mostraram total descontrole ao agredir vários jornalistas. Buscamos o diálogo durante todo o momento, mas tivemos que usar a força policial para liberar o trânsito. Por conta disso, para as próximas manifestações, agiremos preventivamente e não vamos permitir que o trânsito seja interrompido e a população prejudicada. Caso haja intransigência por quem insiste em prejudicar o direito de ir e vir da população, não exitaremos em garantir a lei e a ordem”.
ABERT e ANJ repudiam as agressões sofridas por jornalistas
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiam os atos de violência e intimidação contra os repórteres André Falcão, da TV Gazeta, Geílson Ferreira, da TV Tribuna, e Suellen Araújo, da TV Vitória, durante cobertura de manifestação em favor da presidente Dilma Rousseff, nesta terça-feira (10), em Vitória (ES).
“Além de ameaças com bombas de gás lacrimogêneo, as equipes de TV foram agredidas com chutes e socos por manifestantes que participavam do protesto. A ABERT e a ANJ consideram inaceitável a repetição de ataques a jornalistas no exercício da profissão nas várias cidades brasileiras. Tentar impedir o acesso à informação, direito fundamental previsto na Constituição Brasileira, é violar a liberdade de expressão, instrumento indispensável para a democracia. A ABERT e a ANJ pedem às autoridades do estado do Espírito Santo a apuração rigorosa dos fatos e a punição dos responsáveis”, informou a nota.