Alexandre Sant’Ana de Brito é Investigador de Polícia Civil desde 1997 – é da turma do emblemático concurso de 1993. Está lotado, atualmente, no Serviço de Controle de Patrimônio Permanente da instituição policial. Mais do que policial, Alexandre de Brito é Historiador, Mestre e Doutor em Psicologia (Social) pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Esta experiência acadêmica levou o investigador-doutor a entrar no mundo literário. Alexandre de Brito uniu-se à professora paulista Laura Câmara Lima para escrever o livro ‘Entardecer de Estações: Representações de Morte, Perda e Luto’, editado pela Appris e que vai ser lançado no dia 12 de maio, a partir das 18h30, na Livraria Logos localizada no Shopping Jardins, em Jardim, da Penha, Vitória.
O livro descreve como os modos de morrer são engendrados sócio-historicamente com os modos de viver e apresenta resultados de três investigações empíricas sobre morte, perda e luto. Os autores explanam como mudanças na socialização e na urbanização fazem com que o lugar da morte e dos mortos seja transferido da ritualização em praças públicas, igrejas e lares, para a institucionalização em hospitais, funerárias e cemitérios; e discutem como as ciências da saúde desenvolvem terapêuticas voltadas à luta pela vida “a todo custo”, fazendo com que perda e luto sejam vistos como fracasso e patologia.
Segundo os autores, a obra alerta para a necessidade de ressignificação dos papéis de especialistas em saúde, moribundos e familiares na condução da experiência da perda e luto. A revisão do paradigma organicista em vigor parece, aos autores, essencial ao reexame das antinomias saúde versus doença, indivíduo versus sociedade e à ressocialização da morte como experiência de vida.
Trata-se, segundo o doutor Alexandre Sant’Ana de Brito, de uma obra acadêmica: “O livro é uma adaptação de tese que defendi em meu doutorado. É, portanto, um trabalho acadêmico”, explica o escritor-investigador.
Na graduação, Alexandre Sant’Ana de Brito estudou sócio-antropologicamente um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no interior do Espírito Santo. No Mestrado, empregou a teoria das Representações Sociais ao estudo da profissionalização dos policiais civis capixabas. Já no Doutorado, empregou a teoria ao estudo da morte, perda e luto.
Além de policial civil, Alexandre de Brito é professor universitário: leciona para os cursos de Direito e Administração na Faculdade Nacional (Finac) e Psicologia no Instituto de Ensino Superior e Formação Avançada de Vitória (IESFAVI).
Sua parceira no livro ‘Entardecer de Estações: Representações de Morte, Perda e Luto’, Laura Câmara Lima, é psicóloga e Mestre e Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP/ doutora em Psicologia Social pela École des Hautes Études em Sciences Sociales de Paris, onde estuou a Teoria das Representações Sociais. Tem28 anos de experiência como professora pesquisadora ligada a universidades brasileiras, francesas e americanas.
Atualmente, Laura Lima está vinculada ao Instituto Saúde e Sociedade da UNIFESP e desenvolve pesquisas e intervenções relacionadas às representações sociais, à saúde mental no trabalho, à psicodinâmica do trabalho e ao ensino em Ciências da Saúde.
“Como objeto social a morte é mais do que a falência do corpo: ela é repleta de significados”, diz Alexandre Sant’Ana de Brito
“Essa compreensão pode orientar planos de ações que levem em consideração as particularidades dos grupos sociais atendidos, suas solicitações rituais, suas limitações infraestruturais ao atendimento de suas demandas materiais e simbólicas. Mais diretamente sobre a saúde, os profissionais da saúde, deve-se tomar em conta as crenças das equipes de especialistas e o quanto elas podem estar interferindo na execução dos trabalhos, principalmente nos hospitais, mas (e também) quando de decisões em Justiça. Aí pode haver um embate entre práticas cientificamente orientadas e práticas atravessadas pelo senso comum. O que se espera da ciência é que, nos limites de suas descobertas, atue com precisão, planejamento e protocolos. Falhas na formação superior de profissionais, por exemplo, ocasionadas por lacunas nos estudos tanatológicos, podem ocasionar de os profissionais não estarem devidamente preparados para lidar com as situações limítrofes oferecidas pelo dia a dia da profissão, no caso, a morte, a perda de pacientes.
Mais propriamente sobre as polícias, pode-se considerar que atuações descuidadas como a não utilização de coletes, tendo-os, podem indicar despreparo profissional, assim como receio de assumir que experimentaremos sempre riscos, sempre. Mas assumir isso pode ser custoso emocionalmente, principalmente em profissões que lidam com violências. Portanto, retomar discussões de morte e vida, e renaturalizar a finitude pode ser uma chave de entendimento de que, não o risco de morrer deve ser a tônica da análise, mas sim os cuidados em nome da (própria) vida que devem estar em evidência. Daí, a máxima morre-se como se vive, e o seu contrário.”