Dados da Anistia Internacional indicam que na cidade do Rio de Janeiro, que vai sediar os Jogos Olímpicos deste ano, pelo menos 307 pessoas foram mortas pela polícia carioca em 2015. Significa dizer que um em cada cinco homicídios cometidos na cidade foi praticado por policiais em serviço. As autoridades têm falhado não só em investigar e levar estes crimes à Justiça, mas também ao optar por reforçar a repressão a protestos pacíficos, afirma a Anistia Internacional no Brasil.
Segundo a ONG, de janeiro a março deste ano, homicídios decorrentes de intervenções policiais na cidade do Rio cresceram 10% em comparação ao mesmo período de 2015. Somente neste mês de abril, 11 pessoas já foram mortas pela polícia no Rio.
“Apesar da promessa de legado de uma cidade segura para sediar os Jogos Olímpicos, as mortes decorrentes de operações policiais têm crescido progressivamente nos últimos anos no Rio. E também assistimos, durante a repressão aos protestos, pessoas gravemente feridas por balas de borracha, bombas de efeito moral e até mesmo armas de fogo usadas pelas forças policiais”, afirma Atila Roque, diretor Executivo da Anistia Internacional Brasil.
“Até o momento, a maior parte dos homicídios cometidos pela polícia não foi sequer investigada, a regulamentação de armas menos letais e o treinamento dos agentes não foram implementados e as autoridades ainda tratam manifestantes como inimigos públicos”, completou.
“Ainda há tempo nos próximos 100 dias para que as autoridades e o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos assegurem que nenhuma operação policial viole direitos humanos. Nossa expectativa é que as forças policiais do Rio de Janeiro abordem as questões de segurança pública de forma preventiva, preservando o direito à vida em vez de adotar a estratégia de ‘atirar primeiro, perguntar depois’”, observou Atila Roque.
Segundo ele, há “um aumento no uso desnecessário e excessivo da força pela polícia no Estado do Rio” nos últimos anos, “levando a muitas mortes”. As vítimas são majoritariamente jovens, negros, moradores de favelas e periferias.
No ano de 2014, quando o Brasil sediou a Copa do Mundo, a polícia matou 580 pessoas, 40% mais do que em 2013. O número em 2015 foi ainda maior: 645 mortos.
De acordo com a Anistia Internacional, não é possível relacionar diretamente o aumento dos homicídios cometidos por policiais com os preparativos para os Jogos Olímpicos. No entanto, as estatísticas “revelam um claro padrão de uso desnecessário e excessivo da força, violência e impunidade que colocam em xeque as instituições responsáveis pela segurança pública.”
Em agosto de 2015, a Anistia Internacional lançou o relatório “Você matou meu filho: homicídios cometidos pela Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro”, no qual detalhou práticas de operações policiais em Acari após a realização da Copa do Mundo de 2014. O documento apontou que a grande maioria das mortes em operações policiais naquela favela tinha fortes evidências de ter sido execuções extrajudiciais.
“É preocupante ver que homicídios decorrentes de intervenção policial continuam a acontecer diariamente no Rio e em outras cidades brasileiras, enquanto que as respostas das autoridades continuam a ser totalmente insuficientes. A dor por estas vidas perdidas atinge principalmente moradores de favelas e outros territórios em risco, vitimando em sua maioria homens jovens e negros”, destaca Atila Roque.
(Com informações do Portal da Anistia Internacional)