No momento em que o delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, tenta desqualificar a jovem que denunciou um estupro coletivo – ele foi afastado do caso pela Chefia de Polícia fluminense –, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou nota nesta segunda-feira (30/05) em que registra sua repulsa, indignação e reprovação ao caso do estupro coletivo de uma jovem de 16 anos na capital carioca.
De acordo com a ADPF, “para um País que se pretende livre da violência em geral, a agressão sexual noticiada é emblemática.” Frisa a nota que “ainda que mulheres possam, no rigor jurídico, responder criminalmente como autoras de estupro, é sabido que as vítimas, em regra, comumente, são elas, não eles.”
A nota prossegue afirmando que “a ADPF é uma entidade que defende atribuições técnicas e temas correlatos ao cargo de Delegado de Polícia Federal, expoente no universo da segurança pública e majoritariamente ocupado por homens.”
Justamente por isso, afirma, “em um contexto social que revela que o estupro se baseia em uma cultura machista, a ADPF acredita que sua manifestação tem força simbólica para fomentar o respeito às mulheres.”
O caso da jovem alvo de estupro coletivo ultrapassa aspectos de segurança pública, porque apregoa a subalternidade feminina, o que deve ser inaceitável para homens na sociedade contemporânea, diz a nota da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal.
“O estupro, coletivo ou não, significa a precarização da vida das mulheres. É um crime repugnante, mas, é, sobretudo, um ato de selvageria que retira o sentido de humanidade de todos; de um país inteiro”, afirma a diretoria da ADPF.
Para a entidade, “num momento de orgulho pela atuação técnica dos profissionais envolvidos na Operação Lava-Jato, o episódio do estupro coletivo gera um sentimento de vergonha sem fim e impõe uma reflexão premente sobre como o Brasil deve educar seus cidadãos.”
Por isso, salienta a nota, “os Delegados de Polícia Federal estão à disposição da sociedade para combater a criminalidade que avilta direitos humanos e violenta mulheres.”
De acordo com versão online do jornal Extra, durante uma conversa num grupo de WhatsApp, o delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), desqualifica a jovem que denunciou um estupro coletivo a ele. No texto, o delegado – afastado do caso neste domingo, após um pedido da então advogada da vítima, Eloisa Samy – afirma que não houve estupro.
“Alguns esclarecimentos sobre os fatos”, começa ele, para em seguida dizer que o “termo de declaração da adolescente foi filmado”. E vai além, afirmando: não houve estupro. Ele ainda comenta a entrevista da jovem ao “Fantástico”, na qual ela contou detalhes sobre como se sentiu após o estupro coletivo: “No ‘Fantástico’ era outra pessoa. Sabe que temos fortes indícios de que não existiu estupro”. O delegado ainda faz referência ao estado das partes íntimas da jovem no vídeo.
Já a delegada Cristiana Bento, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima (DCAV) do Rio, disse, nesta segunda-feira (30/05), durante coletiva na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, Zona Norte do Rio, não ter dúvidas de que a garota de 16 anos foi vítima de um estupro.
A menina denunciou o crime e disse ter sido violentada por 33 homens. “A minha convicção é de que houve estupro, tanto que o rapaz aparece no vídeo manipulando a menina. A gente agora quer identificar quantas pessoas participaram”, afirmou Cristiana Bento.
A garota de 16 anos esteve, na manhã desta segunda-feira, na Secretaria Estadual de Direitos Humanos do Rio. Ela saiu do local às 13h15, acompanhada da família e de policiais que fazem sua escolta. A jovem andava muito rápido, não falou com a imprensa e seguiu para o subsolo, onde uma van a aguardava.
A menina ingressou no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), um projeto federal intermediado pelo Estado. Segundo a subsecretária de Direitos Humanos, Andrea Sepúlveda, a adolescente está desde a semana passada com escolta:
“Foi detectada uma ameaça grave (contra a jovem). Estamos muito preocupados com a segurança dela. Estamos ainda na fase emergencial do programa, mas ela já está sob proteção e num local seguro. A inclusão dela (no programa) pode implicar que seja transferida para outro município, Estado ou até outro país, de acordo com a gravidade. No caso dela, é provável que vá para outro Estado”, explicou a subsecretária.
(Com informações também do Portal do jornal Extra)