O delegado de Polícia Civil Augusto Marques Giorno é graduado em Direito pelo Centro Universitário da Cidade (2007), do Rio de Janeiro. Possui especializações em Direito e Administração Pública pela Universidade Gama Filho (2008) e em Ciências Penais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2009). Tem uma boa experiência na área de Segurança Publica, tendo exercido durante 12 anos o cargo de Inspetor de Polícia Civil no Estado do Rio, o equivalente a investigador no Espírito Santo. Ele atua na área de Direito, com ênfase em Direito Criminal.
Carioca, Augusto Giorno assumiu o cargo de delegado de Polícia Civil do Espírito Santo em outubro de 2014. Hoje, ele trabalha na Delegacia Patrimonial da 7ª Delegacia Regional de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado. Já se sente adaptado em terras capixabas.
Os 12 anos de policial no Rio, no entanto, foram de muita luta e fortes emoções. Em uma diligência de rotina, levou um tiro na orelha, mas um dos criminosos tombou. Nesta entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, o delegado Augusto Giorno conta como foi trabalhar no Rio; fala de uma das prisões mais importantes que realizou na carreira – a de um dos líderes do Comando Vermelho – e dos três amigos e colegas de unidade que, como ele, foram inspetores de Polícia e agora exercem outra atividade na carreira policial:
“Nós quatro decidimos mergulhar nos estudos para buscar outros sonhos dentro da carreira policial. Eu e mais dois fizemos concurso público e nos tornamos delegados de Polícia Civil: eu, aqui no Espírito Santo; o Alexandre Neto, no Rio; e o Samuel Nery, em Belo Horizonte. Já o Ricardo Barcelos fez Faculdade de Medicina, virou médico e agora é perito-legista (que, aqui, os capixabas chamam de médico-legista) também no Rio”, diz Augusto Giorno.
Blog do Elimar Côrtes – O senhor atua como delegado de Polícia no Espírito Santo desde quando?
Delegado Augusto Marques Giorno – Desde outubro de 2014. Sou da turma do concurso de 2013, o último realizado pelo Estado. Entrei na segunda chamada. Cheguei, fiz o Curso de Formação na Acadepol e fui designado para fazer estágio na Delegacia da Praia do Canto, onde aprendi muito com as doutoras Cláudia Dematté e Laíssa Lacerda. Depois, fui para o Plantão da Regional de Vitória e agora estou em Cachoeiro de Itapemirim.
– Quando entrou e quando saiu da Polícia Civil do Estado do Rio?
– Ingressei na Polícia do Rio em abril de 2002 e saí em outubro de 2014 para vim para o Espírito Santo. Lá no Rio, passei por diversas unidades, como as delegacias de Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste, a DP da Cidade Nova (Centro), Brás de Pina, próximo ao Complexo da Vila Cruzeiro e, finalmente, no município de Piraí, que fica no Sul do Estado do Rio.
– O senhor teve de encarar troca de tiros com bandidos cariocas?
– Sim, por diversas vezes. Em 2004, durante uma diligência de rotina na Baixada Fluminense, fui baleado. Levei um tiro na orelha do lado direito. Eu e meus dois colegas nos deparamos com uma situação de assalto e tivemos que tomar providência. Os criminosos reagiram e me feriram. Houve troca de tiros e um dos assaltantes morreu.
– O senhor pode relatar alguma experiência que o marcou pessoal ou profissionalmente?
– Minha atuação na polícia do Rio se divide em duas partes: a atuação diária, quando eu entregava equipes de investigação; e quando me vi necessidade de encarar os estudos para me preparar para a carreira jurídica. Nessa segunda fase eu pedi transferência para as Delegacias de Plantão e aproveitava os dias de folga para estudar.
O que marcou na primeira fase foi a prisão de um dos grandes líderes do Comando Vermelho da época. Fomos prender o criminoso em Fortaleza, no Ceará. Essa prisão marcou nossas carreiras – minha e de outros três inspetores –, porque teve grande repercussão. Ficamos uma semana em Fortaleza realizando levantamentos e planejando a prisão do bandido que, dentro da hierarquia do Comando Vermelho, estava entre os 10 mais importantes. As investigações para a localização e prisão do criminoso duraram quatro meses.
O curioso é que essa prisão foi feita por mim e mais três amigos inspetores. Nós quatro decidimos mergulhar nos estudos para buscar outros sonhos dentro da carreira policial. Eu e mais dois fizemos concurso público e nos tornamos delegados de Polícia Civil: eu, aqui no Espírito Santo; o Alexandre Neto, no Rio; e o Samuel Nery, em Belo Horizonte. Já o Ricardo Barcelos fez Faculdade de Medicina, virou médico e agora é perito-legista (que, aqui, os capixabas chamam de médico-legista) também no Rio.
Tivemos (esta equipe) histórias interessantes e de sucesso. Em uma delas, apreendemos viaturas clonadas do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio) na Vila Cruzeiro. Os traficantes roubavam veículos e depois faziam a adaptação, deixando os carros como se fossem viaturas do Bope. As investigações, depois da apreensão, apontaram que, como os criminosos queriam dominar outros territórios, eles usavam viaturas clonadas para transitar com mais facilidade pelos bairros, principalmente no período da madrugada. Assim, fardados e com ‘viaturas’, eles faziam incursões em territórios rivais.
Tivemos, juntos, uma atuação importante no combate ao tráfico de drogas e, em razão desse trabalho, fomos deslocados para Brás de Pina, na Via Cruzeiro.
– Vê alguma semelhança de atuação dos criminosos carioca com os capixabas?
– Vejo que aqui no Espírito Santo os bandidos têm muito mais respeito pela polícia do que no Rio. Os criminosos cariocas têm um perfil de confronto. Aqui, a polícia é mais respeitada.
– E o senhor bê semelhança ou diferenças no modo de atuar das polícias do Espírito Santo e do Rio?
– No Espírito Santo, a estrutura interna da Polícia Civil é bem melhor do que a do Rio. No Rio, investigador e escrivão acabam fazendo a mesma função, pois a instituição da chamada Delegacia Legal acabou com essa divisão de funções.
No Rio, o policial que faz atendimento nas delegacias distritais, é responsável pela investigação que ele atendeu. Aqui, há plantão e equipe de investigações. No Espírito Santo, as Delegacias Especializadas têm uma atuação mais forte. Já no Rio, as delegacias distritais, diferente daqui, é que têm atuação mais consistente e estão em praticamente todas as regiões.
Porém, posso garantir que tenho muito orgulho de ter sido policial civil no Rio e agora tento orgulho de ser policial civil, no cargo de delegado de Polícia, no Espírito Santo.
– O que o senhor implantou na Delegacia Patrimonial da 7ª Delegacia Regional de Cachoeiro como forma de melhorar o atendimento ao público?
– Assumi no dia 29 de junho deste ano e temos muito trabalho. Com o apoio de nosso chefe da 7ª Delegacia Regional (Cachoeiro), doutor Antônio de Oliveira Pinto; e do superintendente Regional Sul, doutor Paulo Rogério de Souza da Silva, pudemos implantar algumas medidas na Patrimonial. Criamos um setor de atendimento ao público, na intenção de dar a vítima de crimes contra o patrimônio um atendimento diferenciado e prioritário. Outra medida foi tornar mais célere a investigação. Para isso, estabelecemos investigação em bloco. Sabemos que o delinquente pratica roubo cotidianamente. Então, fazemos levantamento e planejamento para facilitar as prisões. Exemplo é que identificamos um sujeito com mais de 10 roubos, sempre atuando do mesmo modo. Estamos tendo também apoio muito importante de outros colegas delegados, como os doutores Felipe Vivas, da Dipo (Delegacia Penais Outras) e Guilherme Eugênio, da DP de Crimes Contra a Vida.
Na organização administrativa, deixamos um escrivão sendo responsável pelos Inquéritos Policiais instaurados até 2014 e o outro para trabalhar nos atuais inquéritos. Estamos priorizando também investigação de roubos praticados com violência. Assim, identificamos uma quadrilha que vinha atuando na região, assaltando comerciantes e empresas sempre nos dias de pagamento dos funcionários.
Entendo que somente uma investigação qualificada tem condições de levar ao Ministério Público e à Justiça elementos para que o autor de um crime tenha condenação de acordo com seus atos praticados. Não sou muito adepto do bordão que diz que ‘a polícia prende e a Justiça solta’. Nada disso, Entendo que o promotor de Justiça precisa ter elementos fortes para levar a denúncia ao Juízo e o acusado seja condenado.
– Como o senhor analisa a atuação do Sindicato dos Delegados de Polícia do Espírito Santo (Sindepes), tendo à frente o doutor Rodolfo Laterza, na Presidência, junto com os demais membros da Diretoria?
– Os dirigentes do Sindicato dos Delegados de Polícia estão no caminho correto, pois mantêm diálogo com todos os poderes constituídos. Não se consegue nada com radicalismo. Qualquer medida radical não vai resolver nada. Por isso, parabenizo o presidente do Sindicato, o doutor Rodolfo Laterza, e toda a Diretoria por estarem buscando sempre o diálogo, equilíbrio. É isso: temos que pautar nossas ações, seja na vida pessoal, profissional e sindical, pelo diálogo.