Na noite do dia 27 de junho de 2001, a bancária Virgínia Estela Amorim foi fuzilada com quatro tiros de pistola, no bairro Mata da Praia, em Vitória, quando tinha 41 anos de idade. Virgínia foi morta por um matador de aluguel – contratado pelo mandante do crime – quando descia de seu carro e entrava em casa, onde sua filha de 5 anos e a empregada da residência a aguardavam.
Quatorze anos se passaram e o assassinato de Virgínia até hoje não foi elucidado. O Inquérito Policial está sem solução na Força Tarefa da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, criada por ordem do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2010, para elucidar homicídios cujos inquéritos encontravam-se parados até 31 de dezembro de 2007.
No Espírito Santo, até aquela data, eram 18 mil inquéritos sem solução. Do tempo em que a Força Tarefa começou a trabalhar, em 2010, até agora, pelo menos 12 mil já foram solucionados, relatados e encaminhados à Justiça para julgamento, ou arquivados por falta de autoria – 4 mil ainda estão sendo investigados.
Um dos inquéritos sem solução é o que deveria apurar o assassinato de Virgínia Amorim. E, por mais contraditório possa parecer, Virgínia foi fuzilada justamente seis anos depois de entrar para uma família de policiais civis. Ela era divorciada. Porém, em 1995 casou-se com o agora escrivão de Polícia Civil aposentado Jeferson Forattini Peixoto de Lima.
Na época da morte de Virgínia, Jeferson estava preso. Ele foi indiciado pela Polícia Federal, denunciado pelo Ministério Público Estadual e julgado e condenado pela Justiça pela acusação de integrar uma quadrilha de receptação de cargas roubadas de caminhões e por formação de quadrilha.
Mesmo condenado, Jeferson Forattini foi aposentado por invalidez, sem ser submetido a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Jeferson é irmão de dois delegados: Ismael Forattini Peixoto de Lima e Ana Cristina Forattini de Lima. Ismael é o atual chefe da Divisão de suprimentos, Zeladoria e Manutenção da Polícia Civil, enquanto sua irmã, Ana Cristina Forattini, é a diretora de Divisão de Recursos Humanos da PC e secretária do Conselho de Polícia Civil – ambos são da cúpula da instituição e, mesmo assim, dão demonstração de não ter nenhuma força política, profissional e nem técnica para fazer o inquérito andar – é como se os irmãos Ismael e Ana Cristina não tivessem prestígio junto aos colegas delegados de Polícia.
Na verdade, a Polícia Civil, desde os primeiros momentos do assassinato, jamais ouviu alguém que pudesse agregar informações importantes ao Inquérito Policial, apesar de um dos primeiros policiais a chegar ao local do assassinato tenha sido o delegado Ismael Forattini, que foi à residência na condição de cunhado da vítima e para dar proteção à sobrinha de 5 anos, além de providenciar a liberação do corpo de Virgínia para sepultamento junto aos demais familiares da bancária. Na condição de marido, o escrivão Jeferson Forattini, que estava preso na época, foi ouvido duas vezes, “mas em nada ajudou nas investigações”. Por isso, até hoje, a Polícia Civil garante que não sabe quem é o assassino e nem o mandante.
Nos bastidores, investigadores da DHPP relatam que o matador de aluguel contratado para matar a bancária Virgínia Amorim – que trabalhava na agência do Banco do Brasil do Shopping Vitória – teria sido um pistoleiro conhecido como PJ, que, mais tarde, foi assassinado como queima de arquivo, em Santo Antônio, Vitória.
Um dia após a morte de Virgína, o primeiro delegado a trabalhar no caso decretou por iniciativa própria sigilo nas investigações. Naquela ocasião, “sigilo” era a forma que alguns poucos delegados encontravam para não dar satisfação à opinião pública sobre uma investigação. E, assim, à base do sigilo, a investigação do assassinato da bancária caiu no esquecimento das autoridades.