Jorge Figueiredo Gonçalves, Juarez José Xavier, Sérgio Camilo Gomes, Romildo Camporez da Silva e João Vanes dos Santos têm algo em comum. Os cinco são policiais civis. Há, entre eles, outra semelhança: os cinco “arregaçaram as mangas” e foram à luta: entraram na política e são vereadores. Entre eles há mais semelhanças: defendem o engajamento político dos profissionais da segurança pública. E lamentam e criticam algumas lideranças dos Policiais Civis que estão ávidos em criar mais entidades sindicais. Para os policiais-vereadores, a divisão da categoria enfraquece a luta dos policiais.
Os policiais civis capixabas têm dois representantes na Assembleia Legislativa: os deputados Euclério Sampaio (PDT), que é escrivão de Polícia aposentado, e Gilsinho Lopes (PR), delegado licenciado. Nesta reportagem especial, o Blog do Elimar Côrtes mostra como é o trabalho dos vereadores Jorge Figueiredo Gonçalves, Juarez José Xavier, Sérgio Camilo Gomes, Romildo Camporez da Silva e João Vanes dos Santos.
Jorge Figueiredo Gonçalves
O vereador Jorge Figueiredo Gonçalves (PROS) está em seu terceiro mandato. Ele é agente de Polícia e está lotado na 5ª Delegacia Regional (Guarapari). Era da turma de Investigadores do polêmico concurso de 1993. Seria nomeado a partir de 2011, mas preferiu abrir mão e permanecer como agente de Polícia, cargo que ocupa há 24 anos.
Ele defende o engajamento político dos policiais civis como forma de aumentar a luta em favor da categoria. Tenciona, um dia, chegar à Assembleia Legislativa. Já até ensaiou os primeiros passos, no ano passado, quando teve de entrar na disputa a pedido do partido:
“Não me preparei para disputar a eleição para deputado estadual e, mesmo assim, obtive 4.800 votos. Acho importante que os profissionais da segurança pública busquem seu espaço na política. Nós, policiais, temos que arregaçar as mangas e entrar na política. Sem engajamento, a categoria fica sem força”, diz Jorge Figueiredo.
O policial-vereador elogia o trabalho do Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo (Sindipol) em prol de toda categoria: “Existe uma força muito grande da diretoria do Sindipol em busca de melhoria para todos os policiais civis. Vale ressaltar que, com o governador Renato Casagrande, tivemos mais avanços. Uma pena que o atual governo (Paulo Hartung) não tenha um histórico de benefícios para os profissionais da segurança pública”, frisou Jorge Figueiredo.
Juarez José Xavier, o Juarez da Civil
O agente de Polícia Juarez José Xavier, conhecido nos meios políticos como Juarez da Civil, é o atual presidente da Câmara de Vereadores de Marechal Floriano. Cumprindo seu terceiro mandato legislativo, Juarez da Civil é do PSD. Por seis anos, ele foi policial militar e está há 24 anos da Polícia Civil. No dia 14 de outubro deste ano completa, portanto, 30 anos de atividade policial.
Natural de Laranja da Terra, Juarez da Civil se mudou para a Grande Vitória aos 14 anos de idade. Há 15 anos, saiu da Região Metropolitana e foi novamente em busca dos ares da montanha: residiu e trabalhou em Domingos Martins e agora está em Marechal Floriano, porém, lotado no Plantão da 11ª Delegacia Regional (Venda Nova do Imigrante). Também foi aprovado no concurso de Investigadores de 1993, mas optou em permanecer como agente de Polícia.
Juarez da Civil destaca a importância do engajamento políticos da categoria de policiais civis: “Um fator importante que vejo da presença do policial na política é a sua aproximação com a comunidade. É interessante um servidor público, que é o policial, ser representante do povo no poder público, que é o Legislativo. Como vereador, o policial adquire com mais facilidade a confiança da população, principalmente das vítimas e testemunhas de um crime. Às vezes, as pessoas têm medo de dar uma informação ao policial, mas fala com o vereador, que é o que acontece comigo. No Parlamento, recebo queixas diariamente que ajudam na minha atividade policial”, disse o policial-vereador.
Juarez da Civil pediu transferência para o Plantão da 11ª DP Regional (Venda Nova do Imigrante) porque, na Presidência da Câmara Municipal de Marechal Floriano, precisa dedicar-se todos os dias ao Legislativo, pois, além de comandar as sessões, é responsável pela administração da Casa.
Na atual legislatura, ele está há seis meses na direção da Câmara de Vereadores e já exerceu a Presidência do Legislativo municipal por dois anos, durante o segundo biênio de seu primeiro mandato como vereador.
Juarez defende a existência de somente um sindicato para representar todos os policiais civis: “A divisão da categoria só enfraquece a nossa luta sindical. Sempre fui contrário a essa divisão. No meu entender, deveria existir somente o Sindipol (Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo) para toda a categoria, para os ocupantes de todos os cargos na instituição.”
Juarez da Civil detalha também a forma com que policiais, que se tornam políticos, podem ajudar a Polícia Civil e, em geral, o sistema de segurança pública: “Quando no tornamos vereadores, temos mais chances de ir à Assembleia Legislativa e pedir ajuda aos deputados. Desta forma, tenho pedido aos parlamentares que nos ajudem a encontrar um novo prédio, em novo local, para a sede da Delegacia de Marechal Floriano. Onde está hoje, à margem da BR-262, a delegacia oferece riscos para os policias e os usuários.”
Juarez da Civil foi o primeiro policial da DP de Marechal Floriano, instalada em 2000. “Fiquei 15 dias trabalhando sozinho. Depois, chegaram delegado, escrivão e mais policiais. Aos poucos, fomos atraindo mais companheiros para a unidade. Logo após a instalação da unidade, realizamos uma operação em que prendemos 27 pessoas e apreendemos 33 veículos”, recorda o policial que também ajudou a investigar diversos homicídios na Região Serrana do Estado.
Sérgio Camilo Gomes
O investigador Sérgio Camilo Gomes, ou Camilo, do PRB, está em seu primeiro mandato como vereador em Cariacica. É uma pedra no caminho da administração do prefeito Juninho (PPS), que “peca, sobretudo, nas ações em favor da segurança pública”, avalia o policial-vereador.
Camilo, assim que assumiu o mandato em 2013, apresentou projeto de lei, aprovado pela Câmara Municipal, que previa o pagamento de horas extras para policiais civis e militares, lotados em Cariacica, para ajudar no policiamento do município em seus dias de folga.
“Era um projeto idêntico ao que existia na Serra, mas o prefeito Juninho vetou. O projeto seria por meio de convênio com o Estado: o Município pagaria somente as horas extras trabalhadas”, lembra Camilo.
Ele aponta o dedo para a ferida, o que pode justificar o fato de Cariacica ser uma das regiões mais violentas do Estado: “O Poder Municipal não tem política de segurança pública; fica só esperando pelo Estado. Possui alguns poucos agentes de trânsito, mas não tem Guarda Municipal. Ou seja, o prefeito (Juninho) se preocupa mais em arrecadar dinheiro com multas de trânsito do que estabelecer uma política de prevenção de crimes.”
Ressalte-se que Cariacica somente tem uma Secretaria de Defesa Social porque o vereador Camilo foi o autor do projeto de lei, apresentado em março de 2013, que autorizou o Município a criar uma Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social. Entretanto, como o prefeito Juninho não deve gostar muito de “segurança pública”, deu outro nome à secretaria: Defesa Social.
“Na verdade, ele (Juninho) instalou a Secretaria asta apenas para criar cargos comissionados”, sustenta Camilo.
Investigador de Classe Especial há 17 anos, o vereador Camilo entende que é importante os profissionais da segurança pública se engajarem politicamente: “Nós, policiais, temos uma visão de uma área que há muito foi esquecida pelos governantes, que é a segurança pública. Quando eleito, o policial leva sua experiência para o Legislativo e, assim, defende projetos de interesse da sociedade”, pontua Camilo.
Por isso, frisa o policial, a indignação com os “atuais políticos” o levou a se candidatar a vereador: “Muitos políticos têm interesses pessoais e de poder. Quando entrei na Câmara de Vereadores, consegui, com meus projetos de lei, acabar com muitos privilégios. Aqui em Cariacica, um dia depois de tomar posse, os vereadores tiravam férias, sem trabalhar sequer um dia. Um absurdo. Primeiro, apresentei um projeto de lei que acabou com o voto secreto. Consegui essa vitória graças ao apoio da imprensa”, recorda Camilo.
“Em seguida, apresentei projeto que acabou com as férias dos vereadores logo no primeiro dia de uma legislatura. Também apresentei, e foi aprovado, projeto de lei que corta o ponto dos vereadores que faltam a qualquer sessão sem justificativa. Temos sessões apenas duas vezes por semana, das 18 às 20 horas, e o sujeito ainda falta?”, questiona, indignado, o investigador-vereador Camilo.
Lotado na chamada “Alpha 10”, Delegacia de Vila Velha, Camilo também defende a união de toda a categoria de Policiais Civis como forma de obter mais conquistas: “Sou extremamente contra a divisão da categoria. A união faz a força. Quando se tem um único sindicato, se tem uma Polícia Civil muito mais forte. A divisão é interesse de determinados ocupantes de cargos, mas somente o Sindipol é o legítimo representante da categoria. Isso (divisão) é o que enfraquece as forças policiais.”
Outra guerra do vereador Camilo é ver aprovado projeto de lei que proíbe (e puna os infratores) a circulação de motinhas, do tipo Shineray, em rodovias federais e estaduais que cortam o município de Cariacica. O emplacamento de veículos de até 50cc, de acordo com a Legislação e o Código Nacional de Trânsito, compete aos Municípios, que teriam que fazer a regulamentação das motinhas.
“Os fabricantes das Shinerays alegam que elas só circulam em ruas e avenidas pouco movimentadas e dentro do bairro onde reside o piloto, mas não é isso que vemos em Cariacica. Aqui, as Shinerays transitam por todos os lados, sem qualquer fiscalização e com seus condutores correndo risco de sofrer ou provocar acidentes. Não há controle por parte do Detran e nem do Poder Municipal. Por isso, estou apresentando projeto de lei para que a Prefeitura de Cariacica regulamente o uso desses veículos em nosso município”, disse Camilo.
Romildo Camporez da Silva
O investigador Romildo Camporez da Silva (DEM) está em seu quarto mandato de vereador em Afonso Cláudio. Atualmente, ele é 1º secretário da Mesa Diretora do Legislativo Municipal. Na avaliação de Romindo, “no passado a população tinha um pensamento preconceituoso em relação aos policiais”. No entanto, Romildo Camporez disse ter sentido que, a partir do momento em que foi eleito pela primeira vez, em 2000 – para o mandato que começou em janeiro de 2001 –, percebeu a mudança de comportamento da sociedade:
“Agora, como vereador, passei a ter acesso às pessoas, às informações, o que ajuda no trabalho policial. A população tem mais confiança e mais liberdade com o vereador”, diz Romildo Camporez.
Ao longo dos quatro mandatos, ele tem apresentado projetos em favor do povo de Afonso Cláudio. Conseguiu reativar o Conselho Municipal de Segurança Pública, que, por sua vez, adquiriu e instalou quatro câmeras de videomonitoramento no centro da cidade:
“Também apresentei projeto de lei, já aprovado, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas dentro das escolas públicas municipais e estaduais e particulares em Afonso Cláudio durante festas. Por causa de bebedeira, tivemos até um homicídio em uma escola. Aprovamos também isenção do pagamento da taxa em concurso público para quem esteja desempregado ou recebe até três salários mínimos por mês. Ainda aprovamos lei que torna obrigatória em prédios públicos a construção de rampas de acessibilidade para cadeirantes. Também foi aprovada, antes de se tornar lei federal, a licença maternidade de seis meses. E hoje tramita na Câmara de Vereadores projeto de minha autoria que estabelece 20% de cota para afrodescendentes em concursos públicos promovidos pelo Município”, pontua Romildo Camporez.
Para todos os policiais civis – investigadores, agentes de Polícia escrivães, delegados, médicos-legistas, peritos criminais e papiloscopistas e outros –, Romildo Camporez, que está na PC há 23 anos, deixa a seguinte mensagem: “A divisão da categoria é maléfica para todos nós; ela enfraquece a luta. Por isso, defendo a existência de um sindicato único, que, a meu ver, é o Sindipol.”
João Vanes dos Santos, o Geovane
No dia 5 de julho, o escrivão João Vanes dos Santos completa 30 anos de Polícia Civil. Devido a grafia de seu nome, acabou recebendo o apelido de “Geovane”. E foi com esse nome (Geovane) que acabou conquistando a simpatia do povo de Jaguaré, no Norte do Espírito Santo, onde é vereador por três mandatos.
Em Jaguaré, trabalhou por 28 anos. Está há dois anos, porém, na 18ª Delegacia Regional (São Mateus), município vizinho:
“O policial conhece o que é necessário para a melhoria da segurança pública. Por isso, quando aliamos o trabalho policial com o político – no meu caso, na função de vereador –, temos melhores condições de ajudar a sociedade. Na função de vereador, busco meios para resolver nossos problemas, sugerindo projetos de leis para o âmbito estadual e federal, junto aos nossos parlamentares na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional. Penso que a segurança pública é de responsabilidade de todos”, afirma o vereador João Vanes, que é do Solidariedade.
Graças ao policial-vereador, a Prefeitura de Jaguaré instalou sistema de videomonitoramento nas ruas da sede do município. Também obteve resposta positiva da Polícia Militar, que disponibilizou mais policiais para o patrulhamento na região.
Filiado ao Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipol) e da Associação dos Escrivães, o vereador João Vanes também entende que a criação de mais sindicatos enfraquece a categoria de policiais:
“Temos de ter somente um sindicato, o que torna mais fácil a busca por nossos direitos em todas as instâncias. Não adianta a criação de muitas entidades, porque isso desfigura a força da categoria”, ensina o policial-vereador.