O delegado de Polícia Civil aposentado Sérgio do Nascimento Lucas, com MBA em Segurança Pública, Privada e Corporativa, sugere que a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo (Sesp) instale vigilância eletrônica nas delegacias e demais unidades da Polícia Civil onde não haja segurança armada. A sugestão do especialista vem num momento importante: nos últimos dias, delegacias de Polícia e até dois quartéis da Polícia Militar foram alvo de saqueadores, que invadiram as unidades para roubar armas.
Sérgio do Nascimento Lucas discorda da Administração da Polícia Civil por ter designado policiais (investigadores e agentes de Polícia) para vigiarem as unidades no período noturno e nos finais de semana, quando as delegacias ficam fechadas para o público. “Isso (designação de policiais para vigiarem prédios da instituição) é desvio de função. O maior prejudicado mais uma vez é a população, pois o efetivo atual já é deficiente para executar sua atividade-fim, que é a investigação de crimes”, diz Sérgio Lucas.
A sugestão do especialista Sérgio Lucas é no sentido de cada Delegacia de Polícia seja monitorada por câmeras internas e externas com sensores de presença e que o sistema esteja interligado ao Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes), que fica na Sesp.
Ao ser violado, é disparado um alerta ao Ciodes e os operadores poderão acompanhar em tempo real o que está acontecendo na unidade policial e, assim, enviar uma viatura da Polícia Militar ou da Civil ao local de forma imediata. A Chefia de Polícia, os superintendentes e delegados poderiam acompanhar as imagens em tempo real pelo celulares e tablets.
Para Sérgio Lucas, apenas cinco policiais civis são suficientes para monitorar todas as unidades de dentro do Ciodes, num revezamento de regime de plantão – um policial por cada plantão de 12 horas: “Esse sistema permite que pelo menos 50 unidades sejam monitoradas, tudo ao mesmo tempo e em tempo real, por apenas um policial”, assegura o especialista.
De acordo com Sérgio do Nascimento Lucas, o ideal seria a instalação de oito câmeras em cada delegacia, além de um gravador e oito sensores. O custo desse material, segundo o especialista, é hoje em torno de R$ 4 mil. “Trata-se de um valor que se paga apenas uma vez”; a manutenção é mínima”, ressalta Sérgio Lucas. Paralelamente, o Estado gastaria mais R$ 30 mil, também apenas uma vez, para instalação de monitores e adaptação para o monitoramento eletrônico no Ciodes, a ser acompanhado por um policial civil.
Além de mais seguro, o sistema eletrônico produz muito menos custo para o Estado: “Cada um dos cinco policiais deslocados para o monitoramento eletrônico recebe, por mês, em média R$ 5 mil, fora os encargos de Previdência. Do jeito que a Administração da Polícia Civil está fazendo hoje, o Estado está gastando muito mais. Hoje, a Chefia da Polícia desloca quatro policiais para cada unidade. Se levarmos em conta que 20 delegacias estão sendo vigiadas por investigadores ou agentes de Polícia, são 80 policiais deslocados de sua atividade-fim para vigiar prédios. O custo é muito maior do que o monitoramento eletrônico, que seria feito com apenas cinco policiais por mês”, informa Sérgio Lucas.
Ele faz ainda outra projeção: “Quando as mesmas 20 delegacias são protegidas por vigilância privada, o custo ao final do mês chega perto de R$ 400 mil, pois são quatro vigilantes para cada posto de 24 horas.”
Sérgio do Nascimento Lucas sugere, todavia, que as unidades policiais que abrigam em seu interior “atrativos para marginais”, como drogas e armas, devem ter também vigilância armada, além do sistema de monitoramento eletrônico:
“Falo de unidades como a Deten (Delegacia Especializada de Tóxicos e Entorpecentes), a Divisão de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio, a Delegacia Antissequestro, o Nuroc (Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas), o Pátio de Veículos (para onde vão veículos recuperados e ou apreendidos) e a Chefatura de Polícia Civil. É importante que essas unidades, além do monitoramento eletrônico, tenham ainda a vigilância armada, devido à complexidade de suas investigações e material e armamentos ali armazenados e atuações no dia a dia”, pontua o especialista.
Para Sérgio Lucas, além de proporcionar segurança, o monitoramento eletrônico nas delegacias facilitará até mesmo o trabalho dos gestores da Polícia Civil, que poderão requisitar imagens como forma de fiscalizar o trabalho nas unidades: “No caso de uma investigação de fato ocorrido no interior da unidade quando da necessidade de abertura de um PAD (Processo Administrativo Disciplinar), por exemplo, a Administração da Polícia poderá fazer uso das imagens gravadas para obter algum tipo de informação ou de provas”, ensina o delegado aposentado.
Sérgio Lucas também sugere que as prefeituras instalem na frente das sedes de cada Delegacia Regional, câmeras de monitoramento do lado de fora dos prédios, como forma de ajudar o Ciodes a controlar o fluxo de ocorrências e a permanência de viaturas no local:
“A tecnologia se faz presente e está aí para ser utilizada cada vez mais”, diz Sérgio do Nascimento Lucas.
Quem é o especialista Sérgio do Nascimento Lucas
Delegado de Classe Especial aposentado, Sérgio do Nascimento Lucas tem MBA em Segurança Pública, Privada e Corporativa; Curso de Análise de Riscos Estratégica; e Curso de Gestão Estratégica de Pessoas. Foi por duas vezes presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Espírito Santo (Adepol), presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Espírito Santo (Sindepes) de 2010 a 2013.
Tem vasta experiência no combate aos crimes contra o patrimônio. Foi o primeiro titular da Delegacia de Roubos a Bancos, numa época em que havia até dois assaltos a banco por dia na Grande Vitória e uma média de até cinco assaltos por semana. Foi o segundo chefe da Divisão de Repressão a Crimes contra o Patrimônio, num período em que eram registrados até 60 assaltos a ônibus por mês na Grande Vitória. Naqueles tempos, entre 1995 a 2000, Sérgio Lucas comparecia até duas vezes por mês para dar entrevista ao programa ‘Bom Dia Espírito Santo’, da TV Gazeta, para dar explicações à sociedade. Sérgio Lucas entrou na Polícia Civil em 1980, como detetive (investigador). Em 1991, foi nomeado delegado de polícia. Foi, por três vezes, chefe da Superintendência de Polícia Especializada (SPE) e, duas vezes, chefiou a Superintendência de Polícia Metropolitana. Foi também diretor da Academia de Polícia Civil (Acadepol) e professor da disciplina de Investigação Policial.