A chefe de Polícia Civil, delegada Gracimeri Soeiro Gaviorno, está isolada no comando da instituição. As últimas decisões tomadas, que indicam retaliação contra quem ela acredita não comungar com seus pensamentos, deixaram revoltados até mesmo delegados que compõem o Conselho de Polícia, os chamados “cardeais”.
Seus amigos e amigas mais próximos afirmam que Gracimeri Gaviorno se tornou uma autoridade centralizadora e prova, com seus atos, que não tem experiência para ser uma boa gestora. Teria sido, portanto, uma má escolha do governador Paulo Hartung.
Diferente do que ocorria no início de sua gestão, agora poucos são os delegados-cardeais que vão ao seu gabinete. Os que tentam manter diálogo cordial e institucional com a chefe de Polícia, Gracimeri Gaviorno não atende nem os telefonemas: manda dizer que está com a agenda ocupada. No entanto acompanha, sobretudo, pelo whatsapp, o que se diz dela.
Nesta semana, Gracimeri Gaviorno exonerou o chefe da Divisão Fazendária, delegado Hélio Moreira de Menezes, que já foi chefe de Polícia Civil por duas vezes: no governo de José Ignácio Ferreira e na segunda gestão de Paulo Hartung. Vale ressaltar que, no governo de José Ignácio, a ainda jovem e bem menos experiente Gracimeri era integrante da equipe do Programa de Planejamento de Ações de Segurança Pública (Pro-Pas), mas não foi lá que ela aprendeu o que vem colocando em prática agora. No Prop-Pas, ela trabalhava com os melhores oficiais da Polícia Militar e delegados de Polícia Civil.
Por acreditar que Hélio Moreira teria facilitado a entrada de equipes de reportagens da TV Gazeta e da Rádio CBN ao edifício Valia, no centro de Vitória, onde ficam a Divisão Fazendária e outras unidades, Gracimeri o “castigou”, como se o delegado fosse criança: coloca um delegado especial para ser delegado-adjunto da Delegacia Especializada de Acidentes de Trabalho.
Trata-se de um desperdício do dinheiro público, porque Hélio Moreira vai exercer um cargo que, em tese, é ocupado por delegados iniciantes ou que ainda não chegaram ao posto mais alto da Polícia Civil capixaba, que é o Especial.
Junto com Hélio Moreira, a chefe de Polícia transferiu também da Divisão Fazendária três escrivães por acreditar que eles teriam procurado a imprensa para reclamar da falta de papel ofício para confecção de boletins de ocorrências e das péssimas condições de trabalho .
A delegada-chefe, desde que chegou ao comando da Polícia Civil, tem tomado decisões que indicam “para a destruição da operacionalidade de nossa polícia”, avalia um delegado que, até pouco tempo, fazia questão de ter trânsito livre com Gracimeri Gaviorno.
“Preferi me afastar; ela não nos ouve. Só ouve gente ligada ao Palácio Anchieta. Ela ignora até o doutor André (André Garcia, secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social que, na teoria, seria o chefe imediato da Chefe de Polícia).
Diferente do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Marcos Antônio Souza do Nascimento, Gracimeri Gaviorno não está sabendo lidar com a política financeira imposta pela equipe econômica do governo Hartung a todos os órgãos públicos. A PM enfrenta a crise e os cortes de recursos financeiros sem estardalhaços, seguindo, porém, as orientações do governador, mas sem ferir e alterar a operacionalidade da corporação. Seus oficiais têm demonstrado um alto grau de capacidade técnica e competência para gerir a crise.
Já a Polícia Civil cortou até acesso à internet para dezenas de delegacias, algo inimaginável em qualquer parte do Planeta. Uma Polícia Judiciária trabalha, sobretudo, com informações. E hoje em dia, muitas das informações sobre crimes e criminosas podem ser obtidas por meio das redes sociais.
Faltou criatividade na questão da internet. Bastava procurar ajuda no mercado que encontraria. Nenhuma empresa de internet deixaria uma instituição importante para a sociedade ao sistema de Justiça e Segurança Pública sem acesso à rede internacional de comunicação. Em vez de procurar alternativas, os auxiliares de Gracimeri Gaviorno na área financeira da Polícia escolheram o caminho mais absurdo: cortar a internet.
Outros cortes são até aceitáveis num momento de crise. Entretanto, a Chefia de Polícia suspendeu contrato com empresa de vigilância privada: no lugar dos 58 profissionais que faziam a vigilância de prédio da Polícia Civil, Gracimeri Gaviorno mandou para seus lugares investigadores e agentes de Polícia, que passaram a trabalhar como porteiros, em vez de atuarem na atividade-fim policial.
Em contrapartida, Graciemeri Gaviorno renovou contrato com empresa de publicidade no valor de R$ 700 mil, conforme ato publicado no Diário Oficial do Estado do dia 23 de fevereiro deste ano.
“Nossa chefe está cada vez mais isolada por causa de suas decisões impensadas. Ela tem dificuldade em lidar com as entidades de classe e de aceitar críticas. Ou melhor, não aceita nem nossos conselhos”, diz outro cardeal.
No mesmo dia em que exonerou o delegado Hélio Moreira, Gracimeri Gaviorno mexeu com um dos principais líderes dos delegados: Rodolfo Queiroz Laterza, justamente o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Espírito Santo (Sindepes). Mandou-o para uma delegacia distrital, em Santo Antônio, Vitória, apesar de seu invejável currículo e perfil operacional – atuava na Delegacia Especializada Antissequestro (DAS), como delegado-adjunto.
Mais um erro de avaliação: à coluna Victor Hugo, em A Gazeta, de sexta-feira (08/05), Gracimeri Gaviorno alegou falta de demanda na DAS. Ora, esqueceu tudo que aprendeu com o ProPas. Naquela época, em que o cidadão capixaba tinha sensação de segurança nas ruas, oficiais da PM e delegados de Polícia ensinavam – inclusive para a doutora Gracimeri – que ”a polícia tem que perseguir o não fato”, justamente para evitar o fato.
A DAS não investiga o seqüestro somente depois que ele é consumado; seus delegados e policiais investigam também a presença de quadrilhas de seqüestradores e bandidos que praticam extorsões na Grande Vitória e no Estado. Antecipam-se aos fatos com o objetivo de evitar o crime. A alegação da chefe de Polícia ao jornal A Gazeta demonstra, assim, mais um exemplo de sua inexperiência para o cargo.
Rodolfo Laterza é um dos delegados que comandaram duas das mais importantes operações policiais no Estado: Pixote e Derrama, que colocou na cadeia políticos, servidores públicos e empresários acusados de corrupção. À época, ele atuava no Núcleo de Combate às Corrupções Criminosas (Nuroc) e as operações ocorreram no governo de Renato Casagrande.
Delegado investiga bicheiro poderoso, fecha cassinos clandestinos e, mesmo assim, vai perder o cargo
Outro remanescente daquela equipe do Nuroc é o delegado Ícaro Ruginski Borges Nascimento Silva. Recentemente, ele foi transferido da Delegacia Especializada de Tóxicos e Entorpecentes (Deten) junto com o titular da unidade, Diego Yamashita. Os dois ajudaram a transformar a Deten numa das unidades mais operacionais da Polícia Civil: em 2013, suas equipes prenderam mais de 400 traficantes no Espírito Santo.
A Chefia de Polícia colocou o delegado Ícaro para trabalhar na DP de Jardim Camburi, em Vitória, e na Delegacia de Costumes e Diversões (Decodi). Nesta segunda unidade, ele começou a fazer um trabalho feroz de combate aos jogos de azar, como caça-níqueis, cassinos e jogo de bicho.
Já havia aberto Inquérito Policial contra um dos maiores bicheiros da Grande Vitória, Roberto Rodrigues, além de outros procedimentos investigatórios. Também fechou diversas casas de jogos – cassinos clandestinos – em Vitória e Vila Velha desde o pequeno período em que foi deslocado para a Decodi, em janeiro deste ano.
Mas na sexta-feira (08/05) recebeu cartão vermelho: foi retirado da Decodi e ficará somente em Jardim Camburi. Motivo: alguém na Polícia Civil deve detestar o perfil operacional e combativo do jovem delegado Ícaro Ruginski. O ato da saída do delegado Ícaro da Decodi da Decodi já foi publicado no Diário oficial, mas sem citar seu nome. Apenas informa que estão cessados os efeitos da Instrução de Serviço que “estendeu as atribuições do Delegado Titular do 6º Distrito Policial – Jardim Camburi, até a Delegacia de Costumes e Diversões, subordinado à SPE” (Superintendência de Polícia Especializada).
Danilo Bahiense tenta acabar com as precariedades na SPTC, que antes era comandada pela atual chefe de Polícia
A chefe de Polícia, Gracimeri Gaviorno, tem deixado o superintendente de Polícia Técnico-Científico, delegado Danilo Bahiense, numa saia justa. Nos últimos dias, a imprensa noticiou o caos que impera no setor. Informa que os laboratórios estão sucateados e com pelo menos 10 anos de déficit tecnológico. O setor está sem equipamentos modernos e a mínima estrutura física necessária. Com isso, há pelo menos 11 mil laudos de perícias criminais não entregues, na última década.
O delegado Danilo Bahiense, com a sua habitual disposição para o trabalho, tem feito o que pode. Pegou o setor com cerca de 10 mil armas sem exames de balísticas. Realizou um mutirão e já fez exames em 7 mil armas.
Só tem um detalhe nessa história toda que passa despercebido pela imprensa: a atual chefe de Polícia, delegada Gracimeri Gaviorno, era a superintendente de Polícia Técnico-Científica antes de assumir o comando da Polícia Civil, em janeiro deste ano. Com seu perfil nada eficiente de gestora, deixou uma bomba para Danilo Bahiense.
(Foto: Secom/ES)