Ela vai alegar que é a chefe e, portanto, é ela quem manda. Na verdade, parece que a delegada Gracimeri Soeiro Gaviorno assumiu a Chefia de Polícia Civil do Espírito Santo com um propósito: destruir a instituição, que muito orgulho deu aos capixabas nos últimos anos. Foi colocada no comando da Polícia por indicação do atual chefe da Casa Militar do governo Paulo Hartung, o coronel da reserva e empresário do ramo de segurança privada José Nivaldo Vieira.
Ao chegar à Polícia Civil, Gracimeri Gaviorno está fazendo tudo que “seu mestre manda” – o governador Paulo Hartung. Aceitou calada a redução de R$ 10 milhões no orçamento da instituição para este ano, reduziu a cota de combustíveis das viaturas, cortou internet em mais de 60 delegacias, colocou policiais civis para trabalhar como porteiros em prédios da instituição, cortou materiais de limpeza nas delegacias e ainda puniu um delegado que combatia organizações criminosas – máfia dos caça-níqueis – em Guarapari.
Não satisfeita com tantos erros em tão pouco espaço de tempo – afinal, ela assumiu o cargo em janeiro deste ano –, Gracimeri Gaviorno acaba de provar que também é competente na arte de retaliar seus próprios colegas de profissão. Ela publica no Diário Oficial do Estado desta quinta-feira (07/05) uma série de mudanças com o intuito de esconder seu verdadeiro objetivo, que é o de atingir o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Espírito Santo, Rodolfo Queiroz Laterza, que nas últimas semanas vem denunciando uma série de decisões tomadas por ela (Gracimeri); decisões que têm impedido o pleno funcionamento da instituição policial.
E Gracimeri também atinge outros delegados, que ela acredita ter passado informações à TV Gazeta e à Rádio CBN sobre a situação caótica de diversas delegacias. Assim, Gracimeri exonerou o sério, competente e exemplo de servidor público – ele serve ao Estado e ao cidadão e não a governantes –, o delegado Hélio Moreira de Menezes da chefia de Divisão Fazendária.
Com sua sanha perseguidora, Gracimeri Gaviorno mandou o delegado Hélio Moreira, que já foi chefe de Polícia Civil por duas vezes e nunca perseguiu ninguém para ser delegado-adjunto da Delegacia Especializada de Acidentes de Trabalho. Hélio Moreira nunca foi capaz de tecer críticas a governos. Enfrentou crises na Polícia Civil e as combateu com trabalho sério e eficiente. Mesmo antes e depois de chefiar a instituição, nunca fez comentários sobre seus superiores.
Gracimeri Gaviorno retirou Hélio Menezes da Divisão Fazendária porque foi lá que a TV Gazeta e a Rádio CBN verificaram a falta de papel e as péssimas condições de trabalho. Denúncia feita, diga-se passagem, pelo presidente do Sindicato dos Servidores Policiais Civis (Sindipol), Jorge Emílio Leal.
Rodolfo Laterza, como presidente do Sindepes, vem fazendo seu papel institucional. Ele ouve, checa e vê pessoalmente os problemas na Polícia Civil a partir da posse de Gracimeri Gaviorno. Como representante de classe e preocupado com a segurança pública, Laterza denuncia as mazelas na imprensa e no Portal do Sindicato, além de mandar ofícios com as mesmas denúncias para a Chefia de Polícia Civil.
Por conta desse perfil, Rodolfo Laterza, que era lotado como delegado adjunto da DP de Crimes Contra a Vida de Vitória, mas em Missão Especial na Delegacia Antissequestro (DAS), está sendo transferido para a Delegacia de Santo Antônio, em Vitória.
A chefe de Polícia, Gracimeri Gaviorno, faz ainda mais cinco mudanças. Faz alterações no atacado como forma de esconder a represália aos delegados Hélio Moreira e Rodolfo Laterza. Dessa forma, o delegado Everton Mauro Fernandes para a Delegacia do Centro; Fábio Almeida Pedroto sai da Delegacia de Atendimento e Proteção às Pessoas Idosas (DAPPI) para ser adjunto na DP Especializada de Tóxicos e Entorpecentes (Deten); Ademir da Silva Pinto, que estava em Santo Antônio, assumir a DAPPI; Marco Antônio Lourenço vai para a DO de Armas, Munições e Explosivos, deixando a DP de Acidentes de Trabalho; e a delegada Denise Maria Carvalho sai da Coordenaria Especial para ser a nova chefe da Divisão Fazendária – só Deus sabe até quando ela vai agüentar conviver com ratos, baratas e outros bichos no prédio onde fica a unidade.
Transferência do presidente do Sindepes é ilegal e delegados prometem reagir
A transferência do presidente do Sindepes, delegado Rodolto Laterza, em especial, é de uma ilegalidade flagrante, pois viola a Lei Complementar 46/94 (Regime Jurídico dos Funcionários Públicos Civis do Espírito Santo) que assegura a inamovibilidade de qualquer dirigente classista no curso de seu mandato. Outra agravante: todas transferências possuem motivações vagas (ex-offício, no interesse do serviço), não sendo respeitosas à Lei 11830/2013, que exige fundamentação clara.
Conforme alguns delegados informaram ao Blog do Elimar Côrtes, a direção do o Sindepes fará reunião de emergência para discutir as reações cabíveis na forma da lei e já conta com apoio de diversas entidades de classe, inclusive nacionais, como a Federação Nacional dos Delegados de Polícia (Fendepol), cujos dirigentes estão indignados e asseguram intervir na situação.
As transferências refletem uma tentativa de calar a categoria frente aos graves cortes e medidas prejudiciais de gestão que estão sendo constatadas pela imprensa e pelos sindicatos. Mais que um atentado à liberdade de associação, é um ataque indireto também a toda imprensa.
Vale frisar que Rodolfo Laterza é membro-diretor da Fendepol e da Associação Nacional dos Delegados de Polícia.