A Polícia Civil do Espírito Santo foi alvo da ação de criminosos. Há três semanas, bandidos destruíram parte do muro do depósito de veículos apreendidos, que é de responsabilidade da instituição policial, e roubaram pelo menos 30 motocicletas. O depósito fica localizado no bairro Alterosas, na Serra. A ação se deu na noite. A notícia sobre o roubo das motos vem sendo mantida em sigilo dentro da corporação.
O chefe da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DRFV), delegado José Virgílio, determinou a abertura de um procedimento investigatório para tentar descobrir a quadrilha que cometeu o roubo. No momento da ação dos criminosos, o pátio era vigiado por apenas dois seguranças de uma empresa privada e com quem a Polícia Civil rompeu encerrou contrato recentemente. Os dois vigilantes foram ouvidos pela Polícia Civil, mas alegaram que não viram nada e nem ouviram nenhum barulho de muro sendo destruído.
No procedimento aberto pela DP de Furtos e Roubos de Veículos, há informação “oficial do furto de 12 motos”. No entanto, fontes da própria Polícia Civil informaram que “a conta está errada” e, depois de uma checagem mais apurada, verificou-se que pelo menos 30 veículos foram levados pelos criminosos. Acredita-se que os bandidos usaram um caminhão ou picapes para transportar as motos roubadas de dentro do pátio da polícia. E, mesmo assim, os dois vigilantes não perceberam nada de estranho.
Como reflexo da preocupação em prender logo os bandidos e recuperar as motos, a Polícia Civil realizou uma operação no bairro Feu Rosa, na Serra, no dia 20 de março e prendeu dois suspeitos de receptação.
As motos roubadas de dentro do pátio da Polícia Civil foram levadas para o depósito da corporação por se tratar de veículos recuperados pela própria polícia, depois de terem sido furtadas ou roubadas na Grande Vitória; ou por terem sido usadas por bandidos na prática de algum crime, como homicídio, tráfico de drogas, assaltos e outros delitos. Significa que quando o proprietário da moto roubada for ao local recuperar o veículo, a Polícia Civil terá de responder pelo caso.
Sindipol denunciou, em janeiro, descaso da administração da Polícia Civil com o pátio de veículos roubados
Há tempos que entidades de classe dos policiais civis vêm denunciando o descaso do Estado em relação ao depósito de Alterosas. Em janeiro deste ano, diretores e advogados do Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo (Sindipol) realizaram mais uma inspeção no local.
Segundo o presidente do Sindipol, Jorge Emílio Leal, o pátio de Alterosas é um “ambiente insalubre e perigoso para os policiais e sociedade”. O dirigente disse que no local “há desvio de função da atividade policial, falta de equipamentos de proteção individual, falta de água encanada até para beber, falta de energia elétrica, muita poeira, falta de extintores, ausência de hidrantes, risco de incêndio, ausência de câmeras, manuseio de produtos químicos altamente perigosos à saúde e falta de segurança das instalações”.
De acordo com o Sindipol, no espaço estão dezenas de carros amontoados e centenas de motos. “Esses veículos são vistoriados e periciados por investigadores que trabalham em desvio de sua função, sem amparo legal, sem o mínimo de segurança do trabalho. Para piorar, na realização das vitorias, são utilizados produtos químicos altamente prejudiciais à saúde sem nenhum tipo de equipamento de proteção individual (EPI)”, disse Jorge Emílio.
Ainda segundo Jorge Emílio, “no local os policiais ficam expostos a constante poeira. A falta d’água para beber e lavar as mãos também é um grave problema. As torneiras da área de vistoria estão secas e não há hidrantes, com potencial de risco de incêndio”.
Na ocasião, Jorge Emílio e seus diretores teriam constatado que “os veículos ficam jogados a céu aberto em local precário, sujeitos inclusive a ações de vandalismo”, o que acabou acontecendo agora com a invasão do depósito e o roubo de 30 motos. A visita foi feita pelo presidente do Sindipol, Jorge Emílio; o diretor Administrativo-Financeiro da entidade, Aloísio Duboc Fajardo; e o advogado Rodrigo Nascimento.
Ainda não mês de janeiro, o Sindipol, segundo Jorge Emílio, oficiou os órgãos competentes para que o problema seja sanado com a intervenção do poder público fiscalizador: Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Município da Serra (SEDUR); Vigilância Sanitária da Serra; Corpo de Bombeiros; Procuradoria Geral de Justiça; Centro de Apoio Operacional de Defesa do Patrimônio Público (CADP); Secretária de Estado de Controle e Transparência; Ministério Público de Contas do Estado; Tribunal de Justiça; Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social; e Chefia de Polícia Civil.