A escrivã de Polícia Civil Rosemary da Vitória Barcelos Paganini decidiu ‘pendurar as chuteiras’, como se diz na gíria do futebol. Com 26 anos de Polícia, ela resolveu se aposentar. Deveria ter saído na última terça-feira (03/03), mas até sábado (07/03) ainda cumpria escala especial. Prorrogou por mais uns dias a pedido do delegado Júlio César Oliveira Silva, chefe da Superintendência de Polícia Prisional (SPP), onde ela está lotada desde 1990, quando a unidade foi instalada.
É que o chefe e demais colegas da SPP queriam fazer uma homenagem a Rosemary, para agradecer por seu trabalho na Polícia Civil, o que aconteceu na tarde de sexta-feira (06/03), com direito a bolo, doces, salgados e refrigerantes.
Rosemary Barcelos se aposenta como escrivã de Classe Especial, o último estágio da categoria na Polícia Civil. Ela entrou na instituição em 1989, depois de aprovada em concurso público. Depois de passar pela Superintendência de Polícia Técnico-Científica e Delegacia de Porto de Santana (Cariacica), ela foi ajudar a fundar a SPP, em 1990, quando a unidade foi inaugurada.
A escrivã que acaba de se aposentar trabalhou com vários delegados. Tem sempre um elogio para todos, mas ressalta que três deles se destacaram justamente nos momentos de crise enfrentada pela Superintendência de Polícia Prisional, no período em que a Polícia Civil abrigava presos em suas delegacias: os delegados Júlio Cesar Oliveira Silva, Gilsinho Lopes (hoje deputado estadual) e João Manoel Rodrigues.
“Os delegados Júlio Cesar, Gilsinho Lopes e João Manoel enfrentaram as maiores crises envolvendo a população carcerária na Polícia Civil. Era a época em que os antigos DPJs (Departamentos de Polícia Judiciária) e delegacias distritais abrigavam presidiários. As unidades estavam sempre superlotadas; sempre havia rebeliões. Mas eles enfrentavam as crises com sabedoria, determinação e competência. O doutor Júlio César, que hoje é de novo o nosso chefe, foi o único que passou por aqui duas vezes. Na primeira vez, ele enfrentou uma crise brava, já que, por falta de espaço, a Polícia Civil tinha que abrigar presos dentro de containers. Nesta segunda passagem do delegado Júlio Cesar Oliveira pela SPP, o foco da unidade é outro, pois a Polícia Civil não possui mais presídios
É neste ponto de crises do passado que Rosemary Barcelos relembra os momentos tensos que viveu na SPP. Segundo ela, sempre que estourava uma rebelião de presidiários nas cadeias administradas pela Polícia Civil, os policiais lotados na Superintendência de Polícia Prisional não tinham sossego: “Passávamos as noites aqui dentro da unidade; não havia folgas. Ficávamos ligados 24 horas por dia, ajudando os delegados a remanejar presos para presídios estaduais ou outras delegacias. Era o tempo em que enxugávamos gelo, mas esse período, graças a Deus, acabou”, frisa a escrivã.
Dentro da SPP, que está instalada na sede da Chefatura de Polícia Civil, na Reta da Penha, surgiam desafios também. A unidade, no passado, vivia lotada de presos, mas um drama encarado com muita fé pela escrivã Rosemary Barcelos envolveu sua colega, a agente de Polícia Rosângela Candeias Ximenes, que em pleno serviço teve um AVC (acidente vascular cerebral).
“Eu me lembro como se fosse hoje. Rosângela estava sentada na mesa ao meu lado. Foi no dia 11 de julho de 2008. De repente, ela desmaiou. Fiquei desesperada aqui dentro. Estávamos sozinhas, porque os colegas homens estavam na rua em diligências. Não tínhamos nem viatura da própria SPP. De repente, vi um colega policial, do Departamento de Polícia Judiciária de Colatina, que veio a Vitória transferir um preso, que estava no pátio da Chefatura. Pedi ajuda e ele nos levou ao PA (Pronto Atendimento) da Praia do Suá, onde os médicos diagnosticaram o AVC. De lá, Rosângela foi transferida para um hospital. Graças a Deus ela se recuperou e hoje trabalha normalmente aqui conosco”, diz Rosemary.
Ao lado da colega e amiga, Rosângela agradece. Diz que, mesmo depois da alta hospitalar, continuou com problemas, mas já superados. Perdeu 25% da memória. “Quando voltei a trabalhar, não sabia nem como ligar o computador. Rosemary teve muita paciência comigo”, agradece Rosângela.
O que faz uma policial ficar dentro de uma mesma unidade policial por pelo menos 25 anos, como é o caso da Rosemary Barcelos na SPP? Ela tem a resposta na ponta da língua:
“Quando entrei na Polícia Civil, em 1989, escutei de uma pessoa a seguinte frase: ‘A polícia é igual a cachaça’. E é verdade; a gente vicia. Todo dia na Polícia Civil, e aqui SPP, a gente vive uma situação nova. Acabei me apaixonando pelo tipo de serviço. Devo essa paixão aos colegas. Por isso, mesmo com a sobrecarga de trabalho, que era muito maior no passado, e a correria, me apaixonei pelo trabalho de servir à Polícia, ao Estado do Espírito Santo e à sociedade . Além do mais, nunca nenhum delegado, que chefiou a SPP, quis me tirar daqui. Portanto, aqui na Polícia, a gente cria um vínculo familiar. Tentei cuidar do gabinete e do cartório da SPP como se fossem minha casa”, pontua Rosemary Barcelos, que é mãe de dois filhos, formados em Engenharia.