A divulgação da conclusão das investigações da morte do soldado Dayclon Nascimento Feu, 28 anos, ocorrida durante uma troca de tiros com bandidos no bairro Padre Gabriel, em Cariacica, na madrugada de 7 de setembro de 2014, está provocando controvérsias. O delegado que comandou as investigações, João Paulo Pinto, afirma que o tiro que atingiu a cabeça de Feu partiu da arma do também soldado Adriano da Rocha Esteves, que estava com a vítima no banco traseiro da viatura, quando a guarnição se deparou com os criminosos.
No entanto, laudo da Perícia Técnico-Científica da própria Polícia Civil não comprova que o tiro saiu da pistola do PM Adriano. A perícia na reconstituição do crime levantou a hipótese do tiro acidental ter saído da arma do próprio soldado Feu, o que significaria uma segunda reviravolta no caso. Feu era lotado na Tropa de Choque do Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar, que é a Tropa de Elite da PM capixaba.
Portanto, de acordo com peritos criminais da Polícia Civil, não é prudente que o delegado João Paulo Pinto, da Delegacia de Crimes Contra a Vida de Cariacica, tenha chegado à conclusão de que foi Adriano quem atirou, mesmo acidentalmente. O próprio delegado, depois de quatro meses de investigações, afirma que não levou totalmente em conta o laudo da Perícia Criminal:
“Não foi comprovado tecnicamente que o disparo veio da arma de Adriano, pois o projétil que atingiu o soldado Feu não foi encontrado. Porém, uma série de indícios nos levam a acreditar que o próprio soldado atirou, uma vez que o tiro partiu do lado oposto de onde estavam os criminosos e a menos de cinco centímetros de distância da vítima”, declarou o delegado titular da DCCV Cariacica, João Paulo Pinto, segundo consta em A Gazeta.
Segundo a mesma reportagem, outras evidências que levaram a polícia a indiciar o soldado Adriano foram as declarações contraditórias do policial, a presença de sangue de Feu em várias partes da arma do militar e a crise psicológica que o levou a internação.
“O disparo foi efetuado diante de um erro, uma imprudência. Adriano quis atingir os criminosos, mas realizou uma ação fora do procedimento padrão e atingiu o companheiro que estava ao seu lado”, destacou o delegado João Carlos Pinto.
De acordo com fontes da Perícia Criminal, o laudo das reconstituições também concluiu que “não foi comprovado tecnicamente que o disparo veio da arma de Adriano, pois o projétil que atingiu o soldado Feu não foi encontrado”. Entretanto, o perito responsável pelo caso, com base nos demais vestígios e com a reconstituição, teria conseguido provar como tudo aconteceu. Ou seja, o tiro não teria saído da arma do soldado Adriano.
Porém, o delegado não concordou com o resultado, o que é normal numa investigação, mas que abre brechas para questionamentos do Ministério Público Estadual, a quem caberá denunciar ou não o soldado Adriano, e do Judiciário.
Segundo o delegado, a farda usada pelo soldado Feu no dia em que foi morto teria sido queimada dentro do Batalhão de Missões Especiais, o que pode ter prejudicado parte da perícia.
Entretanto, uma fonte do Departamento de Criminalística da Polícia Civil informou ao Blog do Elimar Côrtes que o perito responsável pelo caso usou a prova técnica que ele tinha para concluir o laudo, e mesmo queimando a farda, muitos outros vestígios foram encontrados na viatura que fizeram com que ele pudesse afirmar como aconteceu.
No mesmo dia do crime, a polícia prendeu Iaclisson Cajazeira, que foi baleado na troca de tiros com os militares. Um dia depois, foi apreendido um menor de 17 anos. Os dois confessaram ter atirado na direção da viatura e, por isso, foram indiciados por tentativa de homicídio.
Já o soldado Adriano, por enquanto, foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio culposo (quando não há intenção). Mesmo assim, pode ser submetido ao Tribunal do Júri Popular e ser condenado por um crime que, segundo a perícia criminal, não teria comedido. Adriano é investigado também por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM).