As estatísticas revelam que a cada 10 minutos uma pessoa é assassinada no Brasil. O ano de 2013 foi sangrento e foram contabilizadas 53.646 vítimas de crimes violentos. Os dados são da última edição do Anuário de Segurança Pública. Nesse panorama, os policiais são também presa fácil da criminalidade. O Brasil é um dos países em que os policiais mais morrem.
Só no ano passado, 490 policiais – entre militares, civis e federais – foram assassinados. Nos últimos cinco anos, já foram contabilizados 1.770 mortes de policiais. A população brasileira, incluindo aí o próprio Estado (governos federal, estaduais e municipais, o sistema de Justiça e a sociedade civil), ignora os números e o problema. É como se sociedade brasileira aceitasse de maneira natural a perda da vida do policial. O País acha natural que um agente de segurança pública perca a vida em razão da sua profissão. O Brasil vive uma barbárie.
Nos Estados Unidos, a população foi para as ruas no último final de semana protestar por causa da morte de dois policiais. A revolta tomou conta da cidade de Nova Iorque no domingo (21/12), no dia seguinte ao assassinato dos policiais Wnjian Liu, 32 anos, recém-casado, e Rafael Ramos, de 40 anos, pai de um adolescente de 13.
Os dois foram mortos a sangue frio com tiros na cabeça, enquanto estavam dentro de sua viatura estacionada em frente a um conjunto residencial no Brooklyn, na tarde de sábado. O assassino, Ismaaiyl Brinsley, um homem negro de 28 anos, supostamente pertencente ao grupo “Black Guerilla Family” e com antecedentes criminais, cometeu suicídio após o crime em uma plataforma do metrô.
Durante todo o domingo, moradores novaiorquinos foram ao local da tragédia para depositar flores e velas em memória dos policiais mortos. O time de futebol americano New York Jets respeitou um minuto de silêncio antes de uma partida em memória dos policiais assassinados.
O presidente Barack Obama telefonou do Havaí, onde passa férias, para o chefe de Polícia de Nova Iorque para expressar condolências às famílias. Como já havia feito no sábado, pediu aos americanos que “rejeitem a violência e as palavras que ferem”.
De volta ao Brasil. A morte do policial militar Hugo Ferreira Santos, ocorrida na quarta-feira (17/12) passada, no Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio, aumentou a lista de policiais assassinados no Estado do Rio de Janeiro em 2014. Com ela, chegou-se a 114 o número de agentes de segurança pública vítimas da violência, conforme dados contabilizados pelo Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio (Sinpol). A maioria dos assassinatos ocorreu durante a folga do policial, caso de Hugo Ferreira Santos, que trabalhava na UPP do Complexo do Alemão e morreu com um tiro na cabeça ao reagir a um assalto em uma padaria.
Segundo o Sinpol, até 16 de dezembro deste ano 93 PMs foram assassinados em dias de folga e 18 durante o trabalho no Rio. Na Polícia Civil, segundo de acordo com o Sinpol, foram dois agentes assassinados, sendo um deles aposentado e o outro reagiu a uma tentativa de assalto enquanto estava em folga.
Nos Estados Unidos, o povo protesta quando acredita que policiais matam suspeitos de maneira covarde, como foi o caso de dois jovens negros mortos por policiais – o protesto aconteceu porque a Justiça sequer admitiu abrir processo contra os policiais. Esta mesma população, todavia, protesta também quando policiais são mortos, como ocorreu no domingo.
No Brasil – mais notadamente no Espírito Santo – moradores protestam quando suspeitos de crimes são mortos na troca de tiros com a polícia. Há inúmeros registros de protestos violentos, que, geralmente, são patrocinados por traficantes: moradores interditam rodovias ou avenidas, queimam pneus, incendeiam ônibus, fecham escolas e comércio e atacam até viaturas policiais.
Aqui no Brasil, entretanto, os moradores – e toda sociedade em geral – ignoram solenemente quando policiais são mortos por criminosos. Esperar que moradores no Brasil vão ao local da morte de policial depositar flores em memória da vítima? Esperar que antes de um jogo de futebol se faça um minuto de silêncio em memória do policial morto? Nada disso acontece em terras brasileiras.
É a tal inversão de valores; é como se a vida de um policial, que morre para proteger essa mesma sociedade, não valesse nada. Covarde, a sociedade brasileira aceita passivamente que um policial seja assassinado. O Brasil vive mesmo uma barbárie.