Nascida no Espírito Santo, a Geocontrol entrou, definitivamente, para um seleto grupo de empresas a criar e fornecer tecnologias para o sistema de segurança pública e de defesa do Brasil. Logo, estará se expandindo para mercados estrangeiros. Credenciada como Empresa Estratégica de Defesa pelo Ministério da Defesa, a Geocontrol participa de um grupo formado por 48 instituições privadas que estão habilitadas a serem fornecedoras prioritárias das Forças Armadas.
A Geocontrol começou a chamar a atenção do Exército a partir de seu primeiro produto elaborado para os governos dos Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, que é o Conecta. Segundo site da empresa, trata-se de “um computador robustecido de alta resistência criado inicialmente para ser embarcado em carros de equipes operacionais das forças emergenciais (Polícia Militar, Bombeiros, SAMU e outras).”
O equipamento, associado a software exclusivo e ao sistema de rastreamento veicular Georast, garante comunicação entre equipes internas e externas, com troca de mensagens e repasse de informações, e permite o acesso a dados online de bancos de dados.
Já em utilização pelas Secretarias de Segurança Pública do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Pernambuco (projeto-piloto), hoje o policial acionando teclas na tela sensível a toque é capaz de saber na hora, na rua e no momento da operação se um veículo foi roubado, se um suspeito tem mandado de busca e apreensão ou se a Carteira Nacional de Habilitação de um motorista deve ser apreendida.
Interessada em produzir produtos para a área de Defesa, a Geocontrol procurou o Exército para conhecer suas demandas. Naquele momento, o Exército realizava pesquisa para a compra de um computador militar para seus blindados no modelo do Conecta, só que com mais robustez e capaz de atender as normas militares. A Geocontrol entendia que a experiência acumulada com o Conecta dava condições de competir com estrangeiros na produção desse produto personalizado.
Não bastava, porém, a empresa tão somente ter interesse em vender produtos para as Forças Armadas; ela tinha que ter o perfil traçado pelo governo brasileiro dentro da Estratégia Nacional de Defesa (END), aprovada em dezembro de 2008 pelo então presidente, Luís Inácio Lula da Silva. A END teve como base estudos feitos pelo filósofo e teórico social Roberto Mangabeira Unger, a pedido do então ministro da Defesa, Nelson Jobim:
“O Brasil é pacífico por tradição e por convicção. Vive em paz com seus vizinhos. Rege suas relações internacionais, dentre outros, pelos princípios constitucionais da não-intervenção, defesa da paz e solução pacífica dos conflitos. Esse traço de pacifismo é parte da identidade nacional e um valor a ser conservado pelo povo brasileiro.”
“País em desenvolvimento, o Brasil ascenderá ao primeiro plano no mundo sem exercer hegemonia ou dominação. O povo brasileiro não deseja exercer mando sobre outros povos. Quer que o Brasil se engrandeça sem imperar. Talvez por isso nunca tenha sido realizado no Brasil, em toda a sua história, amplo debate sobre os assuntos de defesa. Periodicamente, os governos autorizavam a compra ou a produção de novos materiais de defesa e introduziam reformas pontuais nas Forças Armadas. No entanto, nunca propuseram uma estratégia nacional de defesa para orientar de forma sistemática a reorganização e reorientação das Forças Armadas; a organização da indústria de material de defesa, com a finalidade de assegurar a autonomia operacional para as três Forças: a Marinha, o Exército e a Aeronáutica; e a política de composição dos seus efetivos, sobretudo a reconsideração do Serviço Militar Obrigatório.”
“Porém, se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mundo, precisará estar preparado para defender-se não somente das agressões, mas também das ameaças. Vive-se em um mundo em que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o envolvimento do povo brasileiro no debate e na construção da sua própria defesa”, diz a introdução da Estratégia, que já está em vigor.
Uma das diretrizes da Estratégia é exatamente o fortalecimento das empresas brasileiras, conforme explicou ao Blog do Elimar Côrtes o coronel da reserva do Exército e consultor da Geocontrol, Hudson Marques Junior, em entrevista concedida no escritório da empresa, em Jardim da Penha, Vitória, na manhã de quarta-feira (10/12):
“Pela END aprovada em 2008, as Forças Armadas tinham alguns caminhos a seguir. Um deles é o fortalecimento da base industrial brasileira, em que o governo prioriza empresas de nosso País na aquisição de tecnologias eletrônicas para o Exército, Marinha e Aeronáutica. Foi aí que entrou a Geocontrol, uma empresa genuinamente capixaba, que atendeu as demandas do Exército”.
O Exército, segundo o coronel, precisava de um computador semelhante ao Conecta, porém muito mais forte, resistente a quedas, vibração dos blindados e à água. A Geocontrol construiu um protótipo, que agradou ao Exército. Foi realizada, então, licitação, para que outras empresas nacionais pudessem participar do processo para a venda do computador para a corporação. A empresa capixaba acabou vencendo as demais concorrentes. Qualquer empresa brasileira do ramo poderia participar da licitação.
A Geocontrol passou a construir o Computador Portátil Militar (CPM-EB), cujos aparelhos já estão instalados nos blindados Guarani. Trata-se de um computador militar embarcado, robusto, com tela sensível a toque. É construído para Terminal de Comandoe Controle (C2) para blindados e veículos táticos leves; atende aos exigentes requisitos militares do Exército Brasileiro e da OTAN; e é capaz de administrar a comunicação de dados entre os diversos sistemas do veículo blindado e de se interligar, via rádio, à estrutura de C2 de postos de comando, de outros veículos e tropas desembarcadas:
“Esse modelo de computador é um dos itens presentes no carro blindado que contribui para a chamada consciência situacional: ele possibilita saber onde está o blindado; onde estão os demais do mesmo Exército; e onde estão os inimigos. Dentro do computador há um sistema que permite que se tenha um mapa de toda a região e onde está cada uma das pessoas envolvidas na operação. Ele permite receber ou transmitir mensagens de texto, via rádio, sem precisar usar a voz. Além disso, o computador tem resistência a qualquer intempérie”, ressalta o coronel Hudson.
“A Geocontrol entrou no mercado de defesa nacional com o CTM-EB, que foi desenvolvido pela empresa de acordo com as necessidades do Exército. É um equipamento inovador, porque não existe no Brasil nenhuma empresa que faça esse tipo de equipamento”, explicou o coronel.
Hudson Marques aponta outra vantagem para as Forças Armadas: antes, o Exército adquiria esse modelo de computador do exterior, que era muito mais caro. “Além do mais, a compra do material estrangeiro não gerava empregos no Brasil e nem impostos. Agora, geramos empregos, pagamento de impostos e se valoriza a tecnologia brasileira”.
Outro produto desenvolvido pela empresa capixaba para o Exército é um rádio de comunicação. O equipamento, porém, é muito mais seguro do que os rádios convencionais, pois transmite dados e não há transmissão de voz, o que poderia alertar o inimigo para a chegada de blindados brasileiros. Esse tipo de rádio está sendo usado por tropas do Exército no Complexo da Maré, no Rio, onde a força ajuda as polícias cariocas no combate ao tráfico de droga, dentro de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Capixaba conquista título de ‘‘Empresa Estratégica de Defesa’
A Geocontrol foi conquistando, assim, credibilidade. Por ter provado que toda sua tecnologia é construída no Brasil e por lançar produtos estratégicos, a companhia ganhou do Ministério da Defesa o título de ‘Empresa Estratégica de Defesa’.
A Geocontrol saiu na frente em outro projeto do Exército, que agora está necessitando de um notebook militar, que precisa ser resistente à chuva, queda, choque, calor, poeira e que não é danificado mesmo submerso num rio ou mar por determinado período:
“Poucos países do mundo produzem o notebook que o Exército necessita. Os engenheiros da Geocontrol ouviram atentamente as especificações exigidas pelo Exército Brasileiro, projetaram o computador e desenvolveram um protótipo. Este foi apresentado ao Exército, que agora vai abrir novo edital para a aquisição do equipamento. Significa que outras empresas, além da Geocontrol, podem se habilitar a desenvolver e vender o notebook para o Exército. Vai se chamar Computador Portátil Militar (CPM)”, antecipa o coronel Hudson para ao Blog do Elimar Côrtes.
A Geocontrol está desenvolvendo, atualmente, novo equipamento que atenda os requisitos do projeto Cobra (Combatente Brasileiro). O projeto visa equipar os militares do Exército (dos praças aos oficiais) para colocá-los dentro de um contexto moderno, conforme explica o consultor da empresa, o coronel Hudson:
“Os soldados (militares) serão equipados com roupas, botas, enfim, todo um sistema que permite ter consciência situacional. O soldado, quando em operação, estará conectado com câmeras, rádio, equipamento de visão noturna. Tudo a ser administrado por um computador, como os blindados. O militar estará com um PDA, que é uma espécie de smartphone”, explica o consultor da empresa capixaba.
A Geocontrol busca sua internacionalização. Para isso, foi procurada pelo grupo europeu Thales, com sede na França e com escritório em outros países. Na última quarta-feira (10/12), dois executivos da empresa, que são holandeses, estiveram na sede da companhia capixaba. A Thales é o quarto maior grupo industrial do mundo ligado à defesa.
Com a Thales, a Geocontrol firmou parceria na produção do Sotas, um sistema que atua como intercomunicador e integrador de comunicações dos blindados. O sistema proporciona serviços de voz e dados de alta qualidade. O Exército comprava o produto da fábrica da Thales na Holanda, que, por sua vez, buscou parceria no Brasil para o desenvolvimento do produto e a Geocontrol foi escolhida. Significa a transferência de tecnologia de um produto estrangeiro para uma empresa capixaba:
“Esta parceria atende à Estratégia Nacional de Defesa, que prevê a transferência de tecnologia. Além do mais, tecnologia de fora só vem para o Brasil quando as empresas brasileiras não puderem atender as exigências das Forças Armadas. A Thales submeteu a Geocontrol a um processo de qualificação como parceira industrial e ela foi aprovada. Está habilitada a atender o Brasil, a América do Sul e países da África”, esclarece o consultor Hudson Marques Junior.
A Geocontrol, que tem projetos no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Brasília (DF), Sergipe, Pernambuco e Rio Grande do Sul, é uma comprovação de que quando uma empresa brasileira desenvolve tecnologia de defesa avançada, habilita-se a entrar num clube sofisticado:
“A Geocontrol produz alta tecnologia. Comprovou que pode aplicar tecnologia sofisticada em outros produtos com atuação na área civil, como transporte e segurança pública. Ao mesmo tempo, aprimora e capacita seus técnicos e engenheiros. Em breve, a Geocontrol estará também produzindo tecnologia para a Marinha”, acredita o coronel Hudson Marques Junior.
Definição de Empresa Estratégica de Defesa
IV – Empresa Estratégica de Defesa – EED – toda pessoa jurídica credenciada pelo Ministério da Defesa mediante o atendimento cumulativo das seguintes condições:
a) ter como finalidade, em seu objeto social, a realização ou condução de atividades de pesquisa, projeto, desenvolvimento, industrialização, prestação dos serviços referidos no art. 10, produção, reparo, conservação, revisão, conversão, modernização ou manutenção de PED no País, incluídas a venda e a revenda somente quando integradas às atividades industriais supracitadas;
b) ter no País a sede, a sua administração e o estabelecimento industrial, equiparado a industrial ou prestador de serviço;
c) dispor, no País, de comprovado conhecimento científico ou tecnológico próprio ou complementado por acordos de parceria com Instituição Científica e Tecnológica para realização de atividades conjuntas de pesquisa científica e tecnológica e desenvolvimento de tecnologia, produto ou processo, relacionado à atividade desenvolvida, observado o disposto no inciso X do caput;
d) assegurar, em seus atos constitutivos ou nos atos de seu controlador direto ou indireto, que o conjunto de sócios ou acionistas e grupos de sócios ou acionistas estrangeiros não possam exercer em cada assembleia geral número de votos superior a 2/3 (dois terços) do total de votos que puderem ser exercidos pelos acionistas brasileiros presentes; e
e) assegurar a continuidade produtiva no País;
Fonte: Lei nº 12.598, de 21 de março de 2012.