A reivindicação dos médicos legistas ligados à Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo é legítima. Afinal, eles recebem o pior salário do País – pouco mais de R$ 4.200,00 por mês. Querem equiparação pelo menos com os demais médicos da saúde pública estadual, que recebem R$ 8 mil.
A via eleita pelos médicos legistas para mostrar sua insatisfação com o governo capixaba, entretanto, é ilegítima, ilegal e, sobretudo, desumana. Promover uma greve, como eles vêm realizando desde segunda-feira (24), sem fazer necropsia nos corpos de vítimas de morte violenta no Departamento Médico Legal de Vitória, está causando transtorno e indignação aos familiares, que nesta quinta-feira (27/03), diante da inércia do governo do Estado e da Justiça capixaba, decidiram fazer protesto em uma das principais avenidas da capital, a Reta da Penha, com queima de pneus.
A greve dos médicos legistas já havia sido anunciada para se iniciar no dia 16 deste mês. Um dia antes, porém, a Justiça do Estado concedeu liminar em favor do governo, proibindo os profissionais de fazerem a paralisação. Eles obedeceram até segunda-feira, quando, enfim, resolveram cruzar os braços. Um total desrespeito à Justiça, que, tão somente por este gesto, já deveria ter promovido intervenção no DML.
O governo, por sua vez, começou a agir na quarta-feira (26/03), quando decidiu abrir negociações com a categoria. Ficou decidido que os médicos iriam começar a atender somente 50% dos serviços.
Paralelamente, o secretário de Estado da Segurança Pública, André Garcia, determinou aos médicos dos quadros da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros passem a executar os serviços técnicos de necropsia, atribuição do DML, conforme consta em portaria publicada no Diário Oficial desta quinta-feira (27/03). Atitude correta do secretário de Segurança.
Ao mesmo tempo, o chefe de Polícia Civil, delegado Joel Lyrio Júnior, determinou ao delegado-corregedor Bruno Taufner Zanotti passe a atuar, junto Ao DML, a partir desta quinta-feira, junto com um escrivão de Polícia, para adotar procedimentos administrativos e, posteriormente, criminais em caso de desobediência dos médicos legistas a uma determinação judicial. Atitude correta do chefe de Polícia.
“Cada um vai ter de responder por seus atos”, explicou agora cedo o delegado Joel Lyrio, em entrevista à CBN.
Os familiares de vítimas de morte violenta – assassinato ou acidente – não podem pagar o pato. Nesta manhã, há pelo menos 20 corpos para serem liberados do DML para sepultamento, sem contar outros serviços essenciais.
O trabalho dos médicos legistas é essencial; logo, eles merecem uma remuneração melhor.