A violência estourou em todo o Brasil no Carnaval deste ano. No Ceará, pelo menos 70 pessoas foram assassinadas até a Quarta-feira de Cinzas. No Espírito Santo, os números oficiais chegaram a 31 homicídios. Houve crescimento no número de assassinatos em todo o País.
Culpar este ou aquele órgão pela tragédia nacional que foi este Carnaval seria demagogia e falta de raciocínio. A juventude, hoje, está muito mais violenta. Não se pode mais olhar com cara feia para um menino na rua. A educação vem de berço. O jovem, em sua maioria, é reflexo de seus pais. Há, entretanto, medidas que poderiam ter sido adotadas previamente pelas policias no Espírito Santo e nos demais estados.
Discursos, porém, têm de ficar de lado. Na esfera policial, estudos antropológicos ou sociológicos têm pouca serventia. O importante é a presença maior da polícia nas ruas. Embora não se deva responsabilizar nenhuma polícia pelo caos neste Carnaval, algumas medidas, todavia, poderiam ter sido adotadas previamente.
No caso do Espírito Santo, todas as autoridades sabem que Iriri, em Anchieta, é um dos mais badalados balneários do Espírito Santo. É onde se praticava um dos melhores carnavais do Estado.
Sempre enfrentou problemas nos carnavais, mas desta vez teve um ingrediente a mais: a guerra do tráfico chegou ao balneário. Foi essa guerra que abriu o Carnaval de Iriri, no último sábado (01/03), quando dois jovens foram executados a tiros na casa onde passariam o Carnaval. Os dois eram da Grande Vitória, assim como os assassinos. No dia seguinte, mais um jovem foi morto, depois de discutir, provavelmente, com um traficante no meio da folia.
Após os três homicídios, a Polícia Militar entrou em ação. Mandou para lá sua tropa de elite, incluindo policiais da Rotam. Seus comandantes aplicaram, mais uma vez, “a polícia do após o fato”. A experiência tem ensinado à Polícia Militar que ela, responsável pelo policiamento ostensivo no País, de acordo com a Constituição Federal, que “a polícia tem de seguir o não fato”.
Iriri tem apenas duas entradas. As autoridades capixabas sabem que para lá vão milhares de pessoas para curtir o Carnaval, principalmente turistas de outros estados. Portanto, não seria mais fácil a polícia chegar antes do fato pelo menos naquele balneário?
Com duas ou mais semanas de antecedência, a PM, com a ajuda da Polícia Civil, poderia fechar as duas entradas de Iriri. Policiais militares e civis deveriam abordar e revistar todo mundo que entrasse no balneário. Um tipo de ação que deveria prosseguir até o final do Carnaval.
Pegariam, assim, quem entrasse armado ou com drogas ou quem seria procurado pela Justiça. É fácil entrar armado em Iriri. Basta ler reportagem que A Tribuna publicou em sua página 3 desta quinta-feira (06/03), em que um traficante revela como vai armado para as ruas. Esse traficante estava livremente por Iriri.
O governador Renato Casagrande investe pesado na segurança pública, mas não tem tido retorno desejável, infelizmente. Ele adquiriu para as duas polícias milhares de computadores, que poderiam ser instalados nas viaturas, não só nas duas entradas de Iriri, mas também nas de outros balneários populares e procurados por turistas no Carnaval. Por meio da internet, a polícia saberia se quem estivesse entrando no balneário era procurado pela Justiça.
No discurso, é fácil falar o que as polícias deveriam fazer. O problema é colocar a turma nas ruas. A justificativa seria a mesma de sempre: o efetivo policial é pequeno. Pode ser, mas tal desculpa não serve mais no atual contexto. O efetivo policial capixaba pode ainda estar aquém do necessário, mas é mal distribuído.
Abre-se aqui um parêntese para justificar a má distribuição do policiamento no Estado. No início da noite desta quinta-feira (06/03), pelo menos cinco soldados, recém formados, estavam armados com fuzil na porta de uma famosa padaria no bairro Santo Antônio, em Vitória. Protegiam o quê? Protegiam clientes fazendo compras? Não seria melhor se esses mesmos soldados estivessem combatendo o inimigo principal da região, que são os traficantes, nos diversos pontos de vendas de drogas existentes na região? Fecha-se o parêntese.
Este governo é o que mais realizou concursos públicos para contratação de policiais militares e civis em todos os tempos. Então, cadê os 1.100 soldados formados no dia 18 de dezembro do ano passado? Cadê os mais de 500 investigadores que Renato Casagrande nomeou desde que tomou posse?
Quem sabe, com a polícia chegando antes do fato, o número de assassinatos não seria bem menor? Valeria a pena; seria um esforço de trabalho em conjunto. Os técnicos da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social começam a planejar o policiamento para o Carnaval de 2015. Contam com os 2.100 soldados que ainda vão iniciar curso de formação no decorrer deste ano.
É um equívoco pensar assim porque, embora o número de vagas do atual concurso seja para 2.100 policiais, nem todos os candidatos que se inscreveram no processo seletivo conseguirão ser aprovados. Além do mais, não cabem 2.100 pessoas fazendo curso num mesmo tempo no Centro de Formação de Aprendizado da PM, em Tucum, Cariacica.
Será que a sociedade vai ter de ouvir a vida toda que “com a nomeação de novos soldados e investigadores” a segurança pública vai melhorar?