O Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), tomou uma excelente iniciativa. Está realizando uma pesquisa sobre a questão racial nas instituições de Segurança Pública do Brasil. Trata-se de uma iniciativa pioneira, que visa a identificação da incidência de práticas de racismo nessas corporações e das políticas colocadas em prática para lidar com a questão. Uma coisa, todavia, é certa: a polícia brasileira é racista; pratica o racismo não só com seus integrantes bem como com o restante da sociedade.
De acordo com o Senasp, um formulário, cujo link será enviado por e-mail aos profissionais de segurança pública cadastrados na Rede de Educação a Distância da Senasp, deve ser respondido de forma sigilosa. O resultado, segundo o site do Ministério da Justiça, vai permitir compreender de forma mais ampla e aprofundada a composição racial dos profissionais de segurança, buscando conhecer as atividades que realizam, experiências de preconceito, as condições que encontram para ingresso e progressão na carreira e no desempenho de suas atividades cotidianas, bem como as iniciativas institucionais para valorização profissional.
A coordenadora de Valorização Profissional da Senasp, Tatiana Vasconcelos explica o objetivo desse diagnóstico inicial. “Os resultados servirão para a construção de diretrizes de política de pessoal pautadas pela igualdade racial, em especial as políticas de promoção e ocupação de cargos dentro das instituições”. Quando finalizada, os resultados serão transformados em uma publicação e divulgados posteriormente no site do Ministério da Justiça
Recentemente, o site da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo (ACS/PMBM/ES) realizou uma enquete, indicando que polícia pratica mais racismo contra os pobres.
Do total de votantes, 39,3% dizem que a polícia é racista. Dos que consideram a polícia racista, 50,7% afirmam que o racismo é maior contra as pessoas pobres. Já 32,8% consideram que o racismo é praticado contra negros e 16,4% entendem que esse tipo de preconceito é contra homossexuais.
O cientista político e coronel da reserva remunerada da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro Jorge da Silva (foto) afirma que a polícia brasileira é racista:
‘‘A sociedade brasileira é racista. Foi-se o tempo em que se insistia em dizer que éramos uma democracia racial…Como a polícia é parte dessa sociedade (assim como qualquer outra instituição ou setor), ela não poderia ser exceção à regra’’, sintetiza o cientista político e coronel Jorge da Silva.
Nascido e criado no hoje chamado Complexo do Alemão, Zona da Leopoldina do Rio, Jorge da Silva entrou para a PMERJ aos 17 anos, tendo atingido o último posto, o de coronel. É doutor em Ciências Sociais (UERJ), com pós-doutorado na Universidade de Buenos Aires (Equipo de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Letras (2006)).
Professor-adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é atualmente coordenador de Estudos e Pesquisas em Ordem Pública, Polícia e Direitos Humanos, e pesquisador convidado do Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas (Nufep) da Universidade Federal Fluminense. É graduado em Direito e em Letras, com Mestrado em Ciência Política e em Língua Inglesa (Letras).
Além de altos cargos na PMERJ, como os de subsecretário de Estado e chefe do Estado Maior Geral, foi coordenador setorial de Segurança, Justiça, Defesa Civil e Cidadania do Governo do Estado (2000/2002), presidente do Instituto de Segurança Pública – ISP (2003), corregedor interino da Corregedoria Geral Unificada das Polícias Civil, Militar e do Corpo de Bombeiros, e secretário de Estado de Direitos Humanos (2003 – 2006). Todos os cargos exercidos no Rio de Janeiro.