Um grupo de oficiais da Polícia Militar solicitou nesta quinta-feira (21/03) às autoridades que façam uma investigação séria, independente e rápida sobre as denúncias feitas pelo coronel Carlos Rogério Gonçalves de Oliveira. Os oficiais querem que a investigação seja realizada pelo Ministério Público Estadual.
Os oficiais de alta patente – coronéis da ativa, em sua maioria – estão levando sua preocupação aos representantes do Judiciário, Ministério Público e Executivo. Na segunda-feira (18/03), o coronel Gonçalves, que cumpre prisão domiciliar por ordem da Justiça – ele é acusado de assédio sexual contra uma cabo –, fez uma série de denúncias contra o Comando Geral da Polícia Militar em entrevista a este Blog.
Revelou que há casos de “oficiais envolvidos com o tráfico de drogas, desvio de combustível, irregularidades no pagamento de diárias, quadrilha de assaltantes, uso de patrimônio e bens públicos para fins particulares, recebimento e pagamento de escalas especiais indevidas, entre tantos”.
Gonçalves denunciou ainda que há desvio de dinheiro público na Polícia Militar e que existem oficiais que praticam relações sexuais com mulheres dentro de viatura, além da prática de orgias sexuais no Centro de Formação e Aperfeiçoamento (CFA) envolvendo oficiais-instrutores e alunas-oficiais e alunas-soldadas, sem que os autores dos crimes sejam sequer investigados pela PM e pelo Ministério Público Militar.
“A segurança pública no Espírito Santo é uma fábrica de dinheiro para os desonestos”, afirma o coronel Gonçalves.
Procurado pelo Blog do Elimar Côrtes para se posicionar sobre as denúncias do coronel Gonçalves, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, disse, por meio da Assessoria de Imprensa, que os casos já estão sendo investigados pela Corregedoria Geral da PM. Segundo a assessoria, a Sesp vai se manifestar somente quando as investigações terminarem.
Enquanto isso, um grupo de oficiais já começou a se movimentar para solicitar ao procurador geral de Justiça, Éder Pontes, que determine ao Ministério Público Estadual a iniciar logo uma investigação:
“Precisamos que a investigação seja feita por um órgão independente. Que seja, por exemplo, o Ministério Público porque as denúncias do coronel Gonçalves são gravíssimas. Não consideramos legal e nem moral que a própria Polícia Militar investigue denúncias que podem ou não atingir seu próprio comandante geral (coronel Ronalt Willian), se levarmos em consideração a entrevista do coronel Gonçalves. Sem uma investigação independente, não se chegará a lugar algum”, ponderou um coronel ao Alto Escalão da PM.
Os oficiais já fizeram chegar ao governador Renato Casagrande, ao presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, e ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a sua preocupação com as denúncias:
“Na entrevista, o coronel Gonçalves não cita nomes, mas todos dentro da PM sabem a que pessoas ele está se referindo. Porém, o público externo pensa que todos nós somos bandidos e apoiamos os oficiais flagrados praticando ato sexual dentro de viatura ou transando com alunas dentro do CFA (Centro de Formação e Aperfeiçoamento). Por entendermos que a maioria absoluta dos homens e mulheres que compõem a Polícia Militar do Espírito Santo são pessoas de bem, é que estamos pedindo quase que uma intervenção na corporação, pelo menos no que diz respeito às investigações das denúncias apresentadas pelo coronel Gonçalves”, prosseguiu outro coronel.
Um outro completou que os oficiais acreditam na Corregedoria Geral da PM e jamais duvidam de capacidade integridade moral e ética de seus integrantes para promover investigação interna, mas ponderou: “Confiamos piamente em nossa Corregedoria, mas para que a sociedade jamais pense que somos corporativistas e que não paire um pingo de dúvida sobre as investigações, solicitamos, ou melhor, imploramos que elas sejam feitas por um órgão externo. No caso, o Ministério Público. Não estamos passando a mão na cabeça do coronel Gonçalves. Se ele cometeu assédio sexual, tem que pagar pelo que fez, mas as denúncias dele são gravíssimas e atingem, infelizmente, toda a corporação”, completou.