Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informam que, em 2010, a região de São Pedro, em Vitória, registrou 37 assassinatos. No ano seguinte, o índice caiu, com o registro de 24 homicídios. Em 2012, a queda foi fenomenal: 15 homicídios. Uma queda de 62,5% em relação ao ano anterior.
Desde 2010, a Polícia Militar resolveu “adotar” a região de São Pedro. Imprimiu lá o que vem dando certo em outros estados brasileiros: o Policiamento Comunitário, que, por sinal, começou no Espírito Santo nos anos 90.
Com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da ONU (PNUD), do governo Federal, a presença do Estado (por meio, principalmente, da Defensoria Pública e da própria Polícia Militar) e a participação da Prefeitura Municipal de Vitória, com políticas sociais e melhorias na infraestrutura da região, a Polícia Militar pode agir com prevenção (em primeiro lugar) e repressão, através do projeto Territórios da Paz.
A diminuição dos índices de criminalidade começam a cair em 2010 após lançamento do projeto, que ocorreu a cinco meses do término do governo Paulo Hartung. O trabalho foi lançado pelo então secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, atualmente acumulando a titularidade das secretarias da Justiça e Ações Estratégicas – responsável pelo programa Estado Presente.
O ‘Território de Paz’ chegou a São Pedro por meio da Coordenação Estadual de Polícia Interativa, hoje transformada em Diretoria de Direitos Humanos e Polícia Interativa da Polícia Militar. Os policiais foram capacitados a operar com Polícia Interativa, ao mesmo tempo em que foi lançado o Sistema de Governança Operacional para os Territórios de Paz.
“A queda nos índices de homicídios não é mérito tão somente da Polícia Militar. É um conjunto de ações, em que participam a própria PM, a ONU, através do PNUD, a Prefeitura de Vitória, a Defensoria Pública e, principalmente, as comunidades da região de São Pedro. A reaproximação da Polícia Interativa com as comunidades que englobam São Pedro foi muito importante”, define o comandante da 5ª Companhia (Grande São Pedro) do 1º Batalhão da PM (Vitória), capitão Webstone Alves Christ.
A reaproximação da PM com as lideranças comunitárias possibilitou a realização de reuniões quase que diárias. As políticas de prevenção tornaram-se ponto fundamental nos últimos três anos.
Um exemplo claro dessa política é que no ano passado 1.500 crianças foram formadas pelo Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).
Esta tem sido, aliás, uma política adotada em toda área do 1º BPM desde que o tenente-coronel Andrey Carlos Rodrigues – hoje comandante da Polícia Ambiental – assumiu o comando do Batalhão responsável pelo policiamento na capital.
Prova dessa realidade é que, em Vitória, os índices de homicídios têm registrado uma média razoável de queda. Em 2011, foram 127 assassinatos, contra 113 em 2012. É ainda um número bastante exagerado.
Se todas as unidades da Polícia Militar do Estado seguissem uma mesma norma, com certeza o Espírito Santo viveria hoje outra realidade. O problema é que por mais que o Alto Escalão da PM – por meio de seu comandante geral, o sempre bem intencionado coronel Ronalt Wilian – defenda o modelo de Policiamento Comunitário, sempre haverá no meio do caminho um empecilho.
Este empecilho, entretanto, não é capaz de impedir a PM de apresentar bons frutos à sociedade. Ainda na área do 1º Batalhão, a região da Grande Santo Antônio, controlada pela 2ª Companhia, a queda de homicídios em 2012 foi de 52% em relação ao ano anterior. Caiu de 37 homicídios para 18.
Qual o segredo? Simplesmente a Polícia Militar agiu com rigor e inteligência, distribuindo o policiamento para as principais ruas, becos e escadarias dos morros que estão em Santo Antônio. E, com a ajuda significante da Polícia Civil, por meio da Delegacia de Tóxicos e da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), prendeu vários criminosos.
Com os bandidos – principalmente os chefões do tráfico – na cadeia, ficou mais tranqüilo trabalhar em conjunto com as comunidades que habitam a Grande Santo Antônio.
Fazer policiamento comunitário não é difícil. Basta ter vontade. Graças a esse modelo, em São Pedro, a Polícia Militar realizou no ano passado 290 ações de combate ao tráfico. Prendeu 84 acusados de crime, graças a mandados de prisão expedidos pela Justiça, que atendeu pedidos da própria PM, por intermédio do Serviço Reservado de Informação (P-2) do 1º BPM. E ainda: apreendeu 50 armas, recuperou 48 veículos roubados.
Registrou, segundo o Comando de Policiamento Ostensivo Metropolitano (CPOM), 102 ocorrências de crimes contra o patrimônio. Número insignificante (no sentido de inexpressivo para a imprensa, mas importante) para uma região em que residem mais de 40 mil pessoas.
Mais “insignificante” ainda se levar em consideração que, na região de Jardim da Penha e Jardim Camburi, foram registrados 1.884 ocorrências, contra 1.658 da Praia do Canto de crimes contra o patrimônio.
Se os números da queda da criminalidade em São Pedro são significantes (aí, sim, cabe a expressão expressiva), mais importante ainda é a cumplicidade (no bom sentido da palavra) de seus cerca de 40 mil moradores com a Polícia Militar.
Diariamente, a PM faz visitas do tipo tranquilizadoras e domiciliar aos habitantes de São Pedro. São as chamadas “Visitas Interativas”, algo ensinado nos anos 90 pelo então tenente Julio Cézar Costa, quando introduziu, com a ajuda de abnegados, ousados e inteligentes praças e outros oficiais, a Polícia Comunitária em Guaçuí, no extremo Sul do Espírito Santo.
Todos os dias, os sargentos que integram a Companhia de São Pedro chegam pela manhã e assimilam as ocorrências registradas no plantão anterior. A pé, de bicicletas ou em viaturas eles vão para as ruas.
De carro, vão para as casas conversar com os moradores envolvidos nas ocorrências. Os sargentos são os comandantes das células interativas e levam a conciliação aos moradores:
“As pessoas daqui de São Pedro confiam na Polícia Militar. Elas ligam para os telefones da Companhia sempre que há algo irregular. Quando ocorre um assassinato ou tentativa, sempre há um morador que nos telefona dando informação de quem cometeu o crime. Assim, vamos desenvolvendo nosso trabalho, tentando, a cada dia, contribuir para que a paz seja uma constante no território de São Pedro”, resume o capitão Alves Christ.