Ele teve uma infância como qualquer outra criança. Lá na cidade de Ribeirão Vermelho, que fica no Sul de Minas Gerais, jogava futebol, andava de skat, praticava natação. Frequentou uma universidade particular e conseguiu se formar em Direito. Em sua terra natal, exerceu a advocacia. Mas o sonho de menino ainda não havia se concretizado: Vitor Alano de Oliveira queria ser delegado de Polícia Civil.
Em 2010, o já advogado Vitor Alano se inscreveu para o concurso de delegado de Polícia Civil do Espírito Santo. Foi aprovado. Sua inscrição foi realizada na condição de candidato portador de necessidades especiais.
Vitor não tem a perna esquerda e possui restrições motora em ambas as mãos causada por uma deficiência congênita. Mesmo assim, foi exigido dele que fizesse o Teste de Aptidão Física (TAF).
A exigência para fazer os puxados exercícios físicos foi feita por um dos fiscais do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos, da Universidade de Brasília (Cesp/UnB), contratado pelo governo do Estado para realizar o concurso.
Quando compareceu no dia marcado para o TAF, Vitor acreditou que apenas passaria por uma perícia médica (essa é mais uma fase aos PNE’s), mas na hora que o fiscal da Banca Examinadora (Cespe) viu aquele jovem mineiro – que anda com ajuda de uma muleta –, foi logo dizendo e perguntando: “O que você faz aqui?”
“Respondi que estava ali para a perícia médica e que estava concorrendo às vagas reservadas. O fiscal, então, me disse que a Polícia não aceitava deficientes em seus quadros e que, se eu quisesse continuar no concurso, deveria fazer os exercícios em igualdade de condições com os demais”, recorda Vitor.
Na hora ele não sabia o que fazer, mas como tinha vindo de muito longe, Sul de Minas, não viu outra saída a não ser fazer o teste. Fez as barras fixas com certa facilidade, mas nas flexões abdominais, não conseguiu completar todas, faltava impulso da perna. Ainda que tivesse conseguido, Vitor não conseguiria correr os 2,2 quilômetros em 12 minutos. “Certamente iria causar algo grave em minha saúde.”
Alguns candidatos ao mesmo concurso relataram a Vitor que, após o TAF, foram ao hospital. “Imagina eu com apenas uma perna?”, brinca Vitor, para depois cair na real: “Depois de chorar muito e tentar superar a humilhação que passei, refleti e decidi lutar na Justiça”.
Vitor Alano ingressou com um mandado de segurança e conseguiu uma liminar para participar das demais fases do concurso.
Passou em todas e a vaga dele foi reservada por força da decisão liminar. Vitor cursou a Academia de Polícia Civil (Acadepol) e obteve decisão favorável de mérito em um dos processos, em que a 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual de Vitória cassou o ato administrativo que o havia eliminado e reconheceu a omissão do edital e o abuso praticado pela administração do Cesp/UnB em convocá-lo para o TAF.
Vitor Alano fez todo o Curso de Formação de Delegados, mas faltava a última vitória: a de ser nomeado delegado. Para tanto, contou com incentivadores importantes, como o diretor da Acadepol, delegado Heli Schimitel, que sempre viu nele um aluno “super dedicado” e um jovem com “futuro brilhante na Polícia Civil do Espírito Santo.”
Mas faltavam a nomeação e o direito de participar da sessão destinada à escolha de localização para exercício da função. A história mudou no dia 31 de agosto – sexta-feira passada –, quando o juiz Manoel Cruz Doval, da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Vitória, concedeu liminar a Vitor Alano, “determinando a nomeação provisória do requerente, autorizando, desde já, a participação na sessão destinada à escolha de localização para exercício da função de delegado de Polícia Civil”.
Vitor Alano é, de fato, um lutador. Hoje ele está com 31 anos. Nasceu com má formação na perna esquerda. Com 5 anos de idade, sua perna foi amputada. “Sempre tive uma vida normal. Eu me adaptei muito facilmente à muleta. Creio que seria mais difícil a adaptação a uma nova perna”, diz Vitor, que sempre jogou futebol, já praticou skate e fez natação. Hoje, “malha” em academia.
Ele se formou em Direito em 2006. Fez seu curso na Unifenas (Universidade José de Rosário Vellano), no campus de Campo Belo, cidade mineira vizinha a Ribeirão Vermelho.
Vitor Alano de Oliveira, novo delegado de Polícia Civil do Espírito Santo. Tem condições de provar daqui para frente que hoje os profissionais de Polícia Judiciária trabalham com a inteligência, com o conhecimento.