Uma nova proposta em discussão entre os integrantes dos CNJ (Conselho Nacional de Justiça) poderá fazer com que o nome de magistrados investigados por irregularidades não seja divulgado publicamente. A informação é do jornal Folha de São Paulo. O debate foi colocado por iniciativa do conselheiro José Lúcio Munhoz que enviou e-mail aos seus colegas questionando se a forma atual para tramitação dos processos está correta.
Hoje, durante a fase de apuração das denúncias, o nome dos envolvidos é mantido em sigilo. Eles são identificados nos documentos disponíveis ao público apenas pelas iniciais. Quando o relator do processo apresenta seu voto no plenário do CNJ, os nomes tornam-se oficialmente públicos.
Sob o argumento de que não vê como correto esse procedimento atual, Munhoz questiona se não é preciso “preservar a imagem dos investigados ou requeridos antes da decisão final”.
“Ou retiramos da pauta e do processo as iniciais e colocamos nomes completos na identificação dos feitos, ou devemos também, nós, quando relatarmos os processos ou nos manifestarmos sobre eles, utilizar também apenas as letras iniciais”.
A proposta, colocada inicialmente como um tema “para reflexão” gerou mal-estar nos corredores do CNJ, segundo a Folha apurou, e desencadeou imediatamente uma operação abafa.
Conselheiros contrários a essa tese trabalham para que o tema não entre oficialmente na pauta. A ideia de Munhoz é de que isso seja feito na reunião administrativa desta segunda-feira hoje, que é fechada.
Procurado pela Folha, o conselheiro disse que não defendeu uma posição, apenas sugeriu “discutir um padrão de comportamento”. Irritado com a polêmica interna criada em torno do assunto, reclamou dos colegas.
“Nem sei se vamos discutir isso. Mas, hoje, você fala “A” no conselho, e no dia seguinte sai “B” na imprensa. Está difícil fazer uma conversa, porque no dia seguinte está na imprensa e isso dificulta muito o nosso trabalho. É difícil caminhar tranquilamente num ambiente onde não existe privacidade”.
Conselheiros ouvidos pela Folha identificaram no e-mail de Munhoz uma forma “indireta” e “aparentemente despretensiosa” de tentar reduzir a transparência no trabalho do conselho.
E isso justamente num momento em que o órgão corre risco de perder o poder de investigar as irregularidades praticadas por magistrados.
Uma ação tramita no STF (Supremo Tribunal Federal) e foi o estopim da crise que deixou em lados opostos o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, e a corregedora do CNJ, Eliana Calmon.
A ação foi proposta pela AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) – entidade da qual Munhoz foi vice-presidente – com a alegação de que o CNJ só pode investigar magistrados depois que eles já tenham sido julgados por seus tribunais.
Conselheiro por indicação do Tribunal Superior do Trabalho, Munhoz propôs modificações no conselho, semelhantes ao que pede a AMB.
Fonte: site www.folhaonline.com.br