O empresário, carnavalesco e coronel da reserva da Polícia Militar Herman Antônio da Silveira Neto, primo em primeiro grau do ex-governador Paulo Hartung (PMDFB), se envolveu em um acidente automobilístico nesta quinta-feira (05/05), por volta das 8h30.
Já na noite de 26 de abril, foi a vez do9 soldado PM Guilherme Gavaza Santos avançar um sinal luminoso em Vila Velha, dirigindo uma viatura descaracteriza, e atropelar uma motociclista, que está em estado grave. Dois casos graves, que merecem punição severa, tanto para o coronel quanto para o policial.
O coronel Herman foi conduzido pela Corregedoria Geral da PM para a Delegacia de Delitos de Trânsito, se recusou a se submeter ao teste do bafômetro, teve que assinar um Termo Circunstanciado (TC) e agora, se condenado pela Justiça, poderá pegar até dois anos de detenção.
O coronel Herman estava dirigindo seu carro no bairro Mata da Praia (Vitória), com sintomas de embriaguez, segundo os policiais militares que fizeram a ocorrência.
No cruzamento da avenida Dante Michelini com a rua Construtor Teixeira, ele teria avançado o sinal, de acordo com o Boletim de Ocorrência da PM, e bateu em dois carros que estavam parados no semáforo.
Herman, que já foi comandante do 1° Batalhão da PM (Vitória), fugiu em seu veículo do local do acidente. No entanto, os dois motoristas que tiveram os carros atingidos pelo coronel, esperaram o sinal abrir e o perseguiram. Houve nova batida, mas os motoristas conseguiram parar Herman e chamaram a Polícia Militar. O coronel se feriu com um pequeno corte no rosto.
Ao chegarem ao local do acidente, os policiais viram que se tratava de um coronel que, mesmo na reserva, tem o direito de ser conduzido a um distrito policial por outro oficial superior.
Antes de ser levado à DP de Delitos de Trânsito, Herman foi conduzido pelo corregedor geral da PM, coronel Carlos Liberato, à Delegacia de Goiabeiras. Herman demonstrou nervosismo. Ele chegou a empurrar o coronel Liberato, que o segurava pelo braço para encaminhá-lo para dentro do local.
“Aparentemente ele teria ingerido bebida alcoólica, mas isso será verificado depois. Ele está sendo apresentado na delegacia exatamente para isso, para que sejam tomadas as medidas de praxe”, disse o coronel Liberato.
A princípio, segundo o chefe da Corregedoria, ele será investigado por infrações de trânsito. “O boletim vai ser feito. Ele se recusou a fazer o bafômetro, que é um direito dele. Agora o delegado vai analisar o caso e vai ver o que vai ser feito com ele. Ele pode ser encaminhado para exame de sangue, caso queira fazer”, disse Liberato.
Na DP, o coronel da reserva foi ouvido pelo delegado Fabiano Contarato. Ao observar que Herman poderia estar embriagado, o delegado determinou que ele fosse submetido ao teste do bafômetro – a legislação brasileira determina tolerância zero ao uso de álcool para quem está dirigindo.
O coronel se recusou, dizendo que não faria exame nenhum. Fabiano Contarato, então, sugeriu que ele fizesse o exame etílico, que é um exame de sangue para detectar a presença ou não de álcool no corpo. Novamente, o coronel Herman se exaltou e disse que não cumpriria a ordem do delegado.
Como a Constituição Federal não obriga ninguém a produzir provas contra si mesmo, o coronel assinou um TC, que, neste caso, o obriga a ir à presença de um juiz quando intimado.
Herman foi indiciado no artigo 305 do Código Nacional de Trânsito, que é o de se evadir do local de acidente. Caso, no futuro, vá a julgamento na Justiça, ele poderá pegar de seis meses a dois anos de detenção.
Mesmo na reserva, um militar deve obediência às leis da corporação. Além de responder na esfera civil, o coronel Herman também será submetido a uma sindicância a ser realizada pela Corregedoria Geral da PM. Caso a sindicância encontre vestígios de que o oficial teria transgredido a disciplina militar, ele será submetido a Inquérito Policial Militar.
O coronel Herman Silveira é primeiro grau do ex-governador Paulo Hartung. É dono de uma empresa chamada Estrutural, que prestou vários serviços para o governo do Estado. É também um dos diretores da Escola de Samba Jucutuquara.
Em entrevista À TV Gazeta, o delegado Fabiano Contarato disse que o coronel Herman estava “visivelmente alterado” durante seu depoimento, o que poderia significar, segundo ele, sintoma de embriaguez.
Contarato lamentou o fato de o coronel ter se recusado a fazer o teste do bafômetro e disse que a legislação de trânsito no Brasil foi feita para beneficiar as pessoas ricas.
“Nota-se claramente que a lei serve para dividir as pessoas em classes sociais. As mais ricas, por terem acesso às informações, dirigem embriagadas, provocam acidentes, se recusam a fazer o teste do bafômetro e fica por isso mesmo. Os pobres é que são punidos. Defendo uma mudança na lei. Quando o motorista se recusar a fazer o bafômetro, que se prevaleça a presunção de culpa”.
Os últimos dias foram, lamentavelmente, de desgaste para a Polícia Militar capixaba em termos de irresponsabilidade no trânsito por parte de integrantes da tropa. Às 22h30 do dia 26 de abril, o policial Guilherme Gavaza Santos, que dirigia uma viatura descaracterizada, avançou um semáforo em um cruzamento na Praia da Costa, Vila Velha, e atropelou uma estudante que pilotava uma moto.
A moça (Juliana Guerra) está internada em estado grave. A infração no trânsito – avanço de sinal – e o acidente praticados pelo policial foram filmados pelas câmeras de TV instaladas nas ruas pela Prefeitura de Vila Velha.
As imagens são chocantes. Mostram o policial avançando o sinal e atingindo a moto. A estudante é jogada ao chão e sai rolando. Guilherme fugiu do local com o carro da PM. Só parou um quarteirão depois e não prestou socorro à vítima, o que é mais um crime.
Sua primeira preocupação foi telefonar para a própria Polícia Militar e pedir ajuda. Logo, colegas de farda chegaram ao local – onde o militar estava escondido – e protegeram o policial, em vez de prestar socorro à vítima do acidente.
Uma atitude lamentável, que merece também punição severa por parte do comandante geral da PMES, o justo coronel Anselmo Lima: deveriam ir presos, imediatamente, o policial criminoso (afinal, quem pratica um acidente de trânsito comete um crime) e seus colegas de farda que o protegeram.
Detalhe: viatura descaracterizada da PM normalmente é usada em investigações secretas da Diretoria de Inteligência ou do Serviço Reservado de algum Batalhão.
Guilherme não estava trabalhando. Portanto, usava um carro da Polícia Militar – que poderia estar sendo utilizado no combate à criminalidade – fora de serviço, o que é proibido.
Lamentavelmente, pessoas que deveriam servir de modelo para a sociedade aproveitam a profissão para cometer lambanças nas ruas. Que a Justiça saiba punir, com rigor, o coronel Herman e o policial militar que deixou gravemente ferida uma jovem por conta de sua irresponsabilidade e imprudência ao volante.