Uma sindicância realizada no âmbito do 2º Batalhão da Polícia Militar (Nova Venécia) revela a ligação de policiais militares – praças e um oficial – com traficantes, agiotagem, extorsão, ameaça e desvio de combustível.
Em um dos itens, o encarregado da sindicância revela que policiais estariam vendendo drogas dentro de viatura e repassando informações para traficantes do Norte do Estado sobre operações policiais.
O acusado de tráfico Alex Moreira Queiroz, com quem os policiais teriam ligação, já se encontra preso. Foi preso na Operação Cavalo de Aço da Polícia Federal.
Os militares acusados na sindicância são o tenente Antônio Ednis Bergamin Júnior, o sargento Darlan Souza Dias e os soldados Wellington Charles da Rocha Viana e Clébio Maciel Raulino.
A sindicância foi instaurada em 22 de novembro de 2007 por determinação do então comandante do 2° BPM, tenente-coronel Emanoel Bermudes Santos, através da portaria 20/2007.
Posteriormente, o então corregedor geral da PMES, coronel Robson Luís Martins Barbosa, solicitou ao capitão Fábio Fachetti, encarregado da sindicância, que elaborasse o relatório. A determinação do corregedor Robson se dar através da Comunicação Interna C-3, número 395/2008.
As investigações começaram pelo soldado Wellington Charles, sobre quem pesavam suspeitas de uso de drogas e ligação com traficantes do município de Montanha, onde os acusados eram lotados na época (2007). O pelotão de Montanha era, na ocasião, subordinado ao 2° BPM.
Depois de investigarem o PM Charles, os agentes da P-2 (Serviço de Inteligência) do 2° BPM que trabalharam nas investigações chegaram aos demais acusados.
Em eu relatório enviado à Corregedoria Geral da PM em Vitória, o capitão Fábio Fachetti chega às seguintes conclusões sobre o soldado Charles:
1) De ser usuário de drogas ilícitas;
2)De vender drogas utilizando a viatura policial, eis que fora visto na casa de Alex com viatura policial;
3)De vender informações privilegiadas das ações policiais a traficantes de drogas ilícitas, indicando data/horário de Operações Policiais que visavam a repressão a este tipo de delito;
4) De exercer a atividade policial fardado em certa ocasião mantendo com apenas uma munição no tambor do revólver, vez que as demais munições sob sua cautela teriam sido trocadas por drogas ilícitas;
5) De que teria sido vítima de overdose de cocaína provocada pelo consumo excessivo de drogas, que resultou na sua internação no Hospital Maternidade Nossa Senhora Aparecida, em Montanha, em 24 de julho de 2007;
6) De ter, em novembro de 2007, junto com o soldado Clébio Raulino, invadido uma residência na localidade de Vinhático, em Montanha, para cobrar uma dívida de R$ 15 mil para um fazendeiro da região. Na residência, os dois PMs teriam ameaçado o dono da casa que devia dinheiro ao fazendeiro;
7) De realizar cobranças de dívidas de juros para o sargento Darlan, que seria agiota, segundo o relatório do capitão Fábio Fachetti.
Quanto ao soldado Clébio, o capitão o acusa de ser parceiro de Charles nas cobranças de dívidas para agiotas de Montanha e de fazer ameaças aos devedores.
Sobre o sargento Darlan, de acordo com o relatório da sindicância do capitão, “pesam fortes indícios das seguintes irregularidades”:
1)Prática de agiotagem na região, utilizando para suas cobranças policiais militares;
2)De possuir em nome de familiares empresas tomadas de pessoas em cobrança de dívidas a juros, como locadora de veículos, restaurante, loja de componentes eletrônicos, marmoraria;
3)De ter adquirido ilicitamente uma fábrica de blocos e pré-moldados, assumindo o controle da empresa por três meses por causa de uma dívida de R$ 50 mil que os ex-donos tinham com ele (sargento Darlan);
Já o tenente Bergamin, segundo o capitão Fábio Fachetti, confessou ter tido acesso aos autos da sindicância no âmbito do 2° BPM, após a entrega do relatório à autoridade delegante, na qual constam os seguintes indícios das condutas irregulares:
1) De praticar crime militar ao exercer a administração da empresa Doce Lar Premoldados, que está em nome de sua família, inclusive no horário de expediente administrativo da PM;
2) De mensalmente, quando no exercício da função de comandante de Pelotão, ter recolhido gasolina em postos de combustíveis dentro e fora de sua área de circunscrição e vendido para terceiros, inclusive para o sargento Darlan, arrecadando o dinheiro e incorporando ao seu patrimônio particular;
3) De se apropriar indevidamente de cota de combustível doada pela Prefeitura de Montanha para serem utilizadas pelas viaturas durante a festa de São João;
4) De cancelar multas de trânsito para pessoas de grande poder aquisitivo ou “mulheres bonitas;
5) De não realizar prestação de contas ou balancetes das verbas recebidas pelo Pelotão;
6) De manter em certo período de tempo estreito relacionamento com o soldado Charles e o traficante Alex, inclusive frequentando a casa do traficante;
7) De comunicar oficialmente com bastante atraso fatos graves ocorridos em Montanha, envolvendo subordinados,
8)Informado com mais de um mês de atraso ao comando do 2° BPM uma tentativa de suicídio do PM Charles, que na verdade, segundo o capitão Fábio Fachetti, se internou por causa de uma overdose de cocaína.
Todo o relatório das investigações feitas pela equipe do capitão Fábio Fachetti, com farta documentação e os depoimentos dos policiais acusados, foi entregue à Corregedoria Geral da PM em 2008.
Até hoje, no entanto, a sindicância encontra-se parada na corregedoria. Não foi levada adiante. Ou seja, não virou Inquérito Policial Militar (IPM) e nem foi encaminhada à Auditoria de Justiça Militar.
Os militares continuam trabalhando normalmente: o soldado Charles foi transferido para Colatina; o tenente Bergamin, o sargento Darlan e o soldado Clébio encontram-se na sede do 2° Batalhão, em Nova Venécia.
Procurados pelo Blog do Elimar para falar sobre o resultado da sindicância a qual foram submetidos, os quatro militares não foram atenderam as ligações.