Finalmente, a Justiça marcou o julgamento do coronel Walter Gomes Ferreira em um dos processos em que ele é acusado de cometer assassinato.
O julgamento está marcado para terça-feira, no Fórum de Colatina, em que Ferreira é acusado de ser mandante do assassinato do empresário e fazendeiro Antônio Costa Netto, ocorrido no dia 22 de maio de 2002.
O coronel Ferreira vai a júri popular na terça-feira junto com mais três pessoas. Segundo a denúncia do Ministério Público, Antônio Costa foi assassinado porque estava tentando sair do grupo que seria liderado por Ferreira. Antônio foi morto com um tiro na cabeça. O assassino, um policial militar, foi preso em flagrante minutos após o crime, ainda em Colatina.
O coronel Ferreira estava preso até o dia 10 de dezembro de 2008. Ficou na cadeia por causa desse processo e outras acusações.
Este é o primeiro caso de homicídio em que Ferreira – acusado de ser o braço armado do crime organizado no Espírito Santo – vai a júri. Constam como testemunhas de acusação Manoel Correia da Silva Filho, assassinado no Presídio Monte Líbano, em novembro de 2002, mas cujo depoimento revelando o esquema de pistolagem foi anexado ao processo; e mais duas pessoas que estão nos Estados Unidos e foram ouvidas por teleconferência. As testemunhas não podem retornar ao Brasil por questões de segurança.
De acordo com o jornal A Gazeta deste sábado, o caso é citado resumidamente na página 140 do livro “Espírito Santo”, sem revelar que a conversa é entre Ferreira e a filha de Antônio Costa Netto.
Ainda segundo A Gazeta, a filha da vítima tinha conhecimento do envolvimento do pai com o grupo do coronel e acreditava que ele teria sido morto a mando de Ferreira.
Após o homicídio de Costa Neto, Cabral (que possui ligação com o Coronel) liga para a filha da vítima, que já estava morando nos EUA, e, simulando solidariedade, pergunta se ela não quer que ele dê “cabo” à vida de quem assassinou seu pai. Ela responde que não. As ligações se sucedem e Cabral sugere que ela converse com Ferreira, o que ela recusa.
A filha da vítima resolve procurar, por telefone, a Polícia Civil, que a orienta a gravar as conversas e como deve ser o diálogo para arrancar de Cabral a confissão de autoria de vários crimes.
Num dos telefonemas gravados, Cabral – que parece estar dentro do quartel da PM onde Ferreira estava preso – passa, de surpresa, o telefone para o militar. A moça resolve, conforme fora orientado por um delegado, sustentar um diálogo que levasse o militar a confessar a articulação de crimes.
Na verdade, é esse trecho que surge no livro “Espírito Santo” e na imprensa. “…Os promotores e procuradores trouxeram interceptações telefônicas, judicialmente autorizadas, em que o coronel orientava uma mulher que lhe telefonara a contratar a morte de uma pessoa…”
A conversa interceptada não era de uma pessoa “encomendando um crime”, mas uma testemunha tentando provar que Ferreira comandava um grupo de pistolagem, responsável pela morte, inclusive, de Antonio Costa Netto. A íntegra das gravações foi encaminhada para a Polícia Civil e Ministério Público e consta dos autos do processo.
O advogado do coronel Ferreira, Clóvis Lisboa, entrou com um recurso no STJ e no STF pedindo o adiamento do júri. Ele garante que seu cliente é inocente.
Ferreira também é um dos acusados de mandar matar o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, em março de 2003, juntamente com o juiz aposentado Antônio Leopoldo Teixeira e o ex-policial civil Cláudio Luiz Andrade Baptista, o Calu. Eles negam participação no crime.
O coronel Ferreira também responde a outros processos pela acusação de assassinato. Um deles teve como vítima o então presidente do Sindicato dos Rodoviários, João Nato. Um dos acusados de executar João Nato, o sargento Prado Neto, já foi julgado e condenado a mais de 20 anos de prisão. Prado está preso na carceragem do Comando Geral da PM, em Maruípe. O processo contra Ferreira, por este crime, encontra-se no Fórum de Cariacica à espera de julgamento.
O advogado Clóvis Lisboa garante que Ferreira é inocente também nos outros processos.