Advogado e coronel reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Alexandre Martins de Castro falou, nesta quarta-feira, pela primeira vez sobre o livro “Espírito Santo”, que aborda bastidores das investigações do assassinato de seu filho, o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, ocorrido em março de 2003.
Ele critica parte do livro e deixa uma ponta de mágoa por nunca ter sido consultado pelos autores – o secretário de Estado da Segurança Pública, o delegado federal Rodney Miranda; o juiz Carlos Eduardo Lemos Ribeiro e o sociólogo Luiz Eduardo Soares – sobre a obra.
O livro criou uma crise institucional entre o Alto Comando da Polícia Militar e Rodney. Oficiais da PM entendem que parte do conteúdo do livro denegriu a corporação e acusou militares que sequer tiveram seus nomes inseridos nos processos. Dois sargentos foram condenados como suspeitos de intermediar o assassinato do juiz. Um coronel da reserva, um juiz e um ex-policial civil são acusados de serem mandantes do crime.
O advogado Alexandre Martins critica, sobretudo, a parte do livro que descreve um perfil nada condizente com que seu filho realmente era no tratamento com as pessoas.
“Não gostei da parte em que os autores citam diálogos atribuídos ao meu filho. Acho que a parte fictícia do livro apresenta um perfil do meu filho que eu não conhecia”, disse o pai de Alexandre Martins, em entrevista exclusiva para o Blog do jornalista Elimar Côrtes.
O livro traz citações como se o juiz Alexandre Martins não tivesse comedimento no trato com as pessoas, usando expressões de baixo nível (palavrões):
“Nunca vi meu filho falar palavrão”, afirmou o pai de Alexandre Martins, que, além de advogado, é professor de Direito em uma faculdade de Vitória.
Alexandre Martins disse que nunca foi consultado pelos três autores, que também nunca perguntaram nada a ele sobre o livro. Ele entende que a obra causou polêmica porque o oficialato da PM se sentiu atingido:
“Confesso que não vi ofensas à PM e a seus oficiais. Pelo que entendi do livro, tudo é direcionado às pessoas que participaram da morte do meu filho, como os acusados de serem os intermediários e mandantes do crime”, disse Alexandre Martins.
Ele ressalta que a PM e o Judiciário capixabas “são instituições fortes e que merecem todo respeito. Não entendi, lendo o livro, que as instituições tenham sido atingidas”.
Mais uma vez, Alexandre Martins garante ter respeito pelas instituições:
“Eu tenho carinho muito grande pelas instituições, mesmo depois da morte de meu filho, até porque elas nada têm a ver com o crime. Sou um coronel reformado da PM do Rio”, lembrou o advogado.
Ele optou pela reforma para poder exercer sua outra profissão, a advocacia, com liberdade. Alexandre Martins é bastante respeitado moral e intelectualmente entre os militares de todo o País devido ao seu trabalho na PM fluminense.
A crítica maior de Alexandre Martins ao livro é quanto à parte em que os autores retratam um perfil diferente do apresentado por seu filho e que toda a sociedade, amigos e colegas conheciam:
“Não gostei dos diálogos que eles atribuem ao meu filho. Não é o perfil que conheci do Alexandre. Meu filho não era nenhum aloprado. Pelo contrário, ele era educado e tratava todos muito bem e com serenidade. Eu dei a ele (Alexandre Martins Filho) a mesma educação que tenho”
O advogado Alexandre Martins discorda dos oficiais da PM, que vêm pedindo a federalização das investigações. Na esfera da Polícia Civil e do Judiciário capixaba, as investigações já se encerraram. O caso se encontra na Justiça Estadual. Os acusados de serem executores e de intermediar o assassinato já foram julgados e condenados. Faltam ir a júri os acusados de serem os mandantes.
“Uma coisa é a polêmica causada pelo livro; outra coisa é o processo. O que eu critico sempre é a lentidão no julgamento dos mandantes, mas entendo que a legislação permite essa lentidão”, disse Alexandre Martins.
Abaixo, um depoimento do advogado Alexandre Martins de Castro
“Tenho carinho muito grande pela PM e o Judiciário capixabas”
“Nunca fui consultado pelos autores do livro, que também nunca me perguntaram nada sobre o livro. Creio que o livro causou polêmica porque oficiais se sentiram atingidos.
Não vi ofensa. Tudo é direcionado às pessoas que participaram daquele cenário todo. Não tenho nada contra o livro.
Pelo que entendi do livro, os autores quiseram dizer que Alexandre levou um tiro, não da instituição, e sim no sentido figurado, pois três integrantes da PM teriam participado da trama (intermediários e mandantes).
A PM e Judiciário são instituições fortes e que merecem todo respeito. Não entendi, lendo o livro, que as instituições tenham sido atingidas.
Eu tenho carinho muito grande pela PM e o Judiciário capixabas, mesmo depois da morte de meu filho, até porque elas nada têm a ver com o crime.
Sou um coronel reformado da PM do Rio. Pedi para ser reformado para exercer a advocacia com mais liberdade.
Não vi ofensas à corporação e à oficialidade. Vi sim menção a alguns integrantes.
Repito: não gostei dos diálogos que eles atribuem ao meu filho. Não é o perfil que conheci do meu filho. Meu filho não era nenhum aloprado. Pelo contrário, ele era educado e tratava todos muito bem e com serenidade. Eu dei a ele (Alexandre Martins Filho) a mesma educação que tenho”.
Outro aspecto que gostaria falar é sobre o pedido de federalização que os oficiais falam. Não tem nada a ver a federalização. A polêmica criada pelo livro é uma coisa; e as investigações da polícia capixaba e o processo na Justiça são outra coisa completamente diferente.
As instituições trabalharam com seriedade e competência. O que eu critico é a lentidão no julgamento dos acusados de serem os mandantes. Quanto aos executores e acusados de intermediar, já foram condenados.
Compreendo a lentidão, porque, como advogado, entendo que os advogados de defesa têm que usar todos os recursos disponíveis para defender seus clientes. A lei dá direito a isso. Critico a lentidão como pai.
Nunca critiquei nenhum advogado de defesa dos acusados. Eles são meus colegas. Quando encontro os advogados na rua ou nos tribunais, os cumprimento normalmente. Eles são profissionais”.
(Depoimento do advogado Alexandre Martins de Castro, pai do juiz assassinado em março de 2003, Alexandre Martins de Castro Filho)