Embora ainda não tenha se posicionado sobre o que achou do livro “Espírito Santo”, escrito às seis mãos, o governador Paulo Hartung deu demonstração de que não está gostando de ver a crise travada entre a Polícia Militar e o secretário de Estado da Segurança Pública, o delegado federal Rodney Miranda.
Ao determinar que a crise deva ser resolvida pelo secretário Rodney e o grupo de coronéis da ativa que fala em nome da corporação – sem a presença, por motivos óbvios, do comandante-geral da PM, coronel Oberacy Emerich –, Hartung deu a entender que não pretende se intrometer no imbróglio.
Pelo contrário, seu recado, dado através de sua assessoria de imprensa e publicado no jornal A Tribuna desta quarta-feira (29/10), significa que Hartung está com a paciência esgotada e exige uma solução rápida.
A crise entre a PM e o secretário da Segurança começou quando o livro “Espírito Santo”, que revela bastidores das investigações do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho – ocorrido em março de 2003 –, foi lançado. O livro foi escrito pelo secretário Rodney Miranda, o juiz Carlos Eduardo Lemos Ribeiro e o sociólogo Luiz Eduardo Soares.
Alguns trechos do livro, segundo os coronéis e demais entidades representantes de outros oficiais e praças da PM, ofendem a Polícia Militar e seus integrantes.
O que os coronéis dizem não entender é porque o secretário não mandou prender, na ocasião das investigações, os militares que ele cita no livro como os policiais que teriam tentando prejudicar as investigações.
Outro diálogo do livro, que está aborrecendo os militares, é uma entrevista fictícia que os autores do livro fazem com o juiz assassinado. Diálogo, do nosso ponto de vista, desnecessário.
Primeiro, por se tratar de ficção e, portanto, não vai ajudar em nada a melhorar a imagem da segurança pública do Estado, que vive uma crise eterna por conta do alto número de violência – assassinatos, assaltos, roubos de carros, etc – que domina nosso território há várias décadas. Portanto, a responsabilidade da violência é de governos anteriores também.
Segundo, porque revela um falso Alexandre Martins, que, apesar de sua garra, determinação e idealismo em torno de uma justiça ideal para todos, jamais foi de guardar mágoas de quem entrasse em seu caminho. Pelo contrário, o juiz agia dentro da lei, sem medo, mas sem rancor.
Por fim, para quem não entendeu o recado de Hartung ou insistir em demorar solucionar a crise, vai um conselho: a paciência do governador tem limite. Num passado recente, ele tomou uma decisão que desagradou à atual cúpula da segurança. Hartung não faz ameaça: ele age rápido e com sensatez.