Treze coronéis da Polícia Militar entregaram seus cargos ao comandante-geral da PM, coronel Oberacy Emerich Júnior, em represália à decisão do governador Paulo Hartung (PMDB) de afastar da corporação o coronel Renato Duguay e mandá-lo trabalhar como assessor técnico do secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Rodney Miranda.
Na manhã desta sexta-feira, conforme informou em primeira mão o Blog do jornalista Elimar Côrtes, dois coronéis – Julio Cezar Costa e Marco Aurélio Capita – já haviam entregue seus cargos ao comandante Emerich.
A decisão dos coronéis foi tomada em reunião realizada na tarde desta sexta feira no Quartel do Comando Geral da PM, em Maruípe. Esta é uma crise sem precedentes na história da corporação, que já enfrentou aquartelamento nos governos de José Ignacio Ferreira e Vitor Buaiz, e que foi promovido pelos praças – sargentos, cabos e soldados – por questões salariais.
Os 13 coronéis renunciaram aos cargos de comandantes de policiamento ostensivo e chefes de diretorias em solidariedade ao coronel Renato Duguay. Conforme o blog do jornalista Elimar Côrtes informou em primeira mão, o Diário Oficial do Estado trouxe nesta sexta-feira a nomeação de Duguay para trabalhar como assessor técnico de Rodney Miranda e, assim, deixar a Diretoria de Informática da PM sem prejuízo dos vencimentos de coronel.
A transferência de Duguay para a Sesp foi entendida como uma punição pelos militares porque ele vinha sendo o porta-voz da tropa – por ser o mais antigo entre os coronéis da ativa – nas críticas dos oficiais ao secretário Rodney por causa do livro “Espírito Santo”.
Rodney é um dos três autores do livro – os demais são o juiz Carlos Eduardo Lemos Ribeiro e o sociólogo Luiz Eduardo Soares – que, segundo os militares, ataca a Polícia Militar capixaba, além de denegrir policiais “sem prova”. O livro conta bastidores das investigações do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho. Dois sargentos da PM já foram condenados pela acusação de intermediar o assassinato e um coronel aguarda em liberdade o julgamento, como suspeito de ser um dos mandantes do crime.
Os coronéis da ativa alegam que não estão saindo em defesa dos acusados do crime e sim em defesa da corporação e de quem teve seu nome “manchado” no livro escrito pelo secretário da Segurança.
Um dos oficiais que teria sido acusado, no livro, de tentar atrapalhar as investigações é o coronel Capita, que na manhã desta sexta-feira entregou seu cargo de corregedor geral da PM. No livro, no entanto, os autores usam nome fictício para se referir a Capita.
O coronel Renato Duguay decidiu não aceitar o cargo de assessor técnico da Sesp. Segundo ele, a legislação não o obriga a aceitar um cargo comissionado no poder público. Ele entende que, ao nomeá-lo para o cargo, o governo e o secretário Rodney tiveram a intenção de humilhá-lo:
“Não fui comunicado, previamente, para ocupar o cargo, que é de confiança do senhor secretário da Segurança. Não há nenhuma clareza para justificar tal nomeação. Se a minha ida para o cargo de assessor técnico da Sesp é para o bem do serviço público, ninguém me passou isso. Como, na verdade, não há nenhum indicativo de que fui nomeado para o cargo por conta da confiança que o titular da Sesp (Rodney Miranda) tem por mim, principalmente por causa de meu posicionamento contra as acusações que ele faz à nossa corporação e a nossos colegas no livro, não vou aceitar o cargo”, garantiu o coronel Renato Duguay.
“Na verdade, estou sofrendo um assédio moral. Me mandam trabalhar justamente com o homem que vem caluniando nossa corporação”, completou o oficial, que já foi subsecretário da Segurança Pública, na gestão do promotor de Justiça Evaldo Martinelli.
APOIO
Representantes de cinco entidades militares se reuniram na sede do Clube dos Oficiais, em Camburi, e decidiram ficar solidários com os coronéis que colocaram seus cargos à disposição e com Renato Duguay.
As entidades voltaram a repudiar o conteúdo do livro, que, segundo eles, “ataca a PM”. Revelaram ainda que o coronel Renato Duguay está atuando na defesa da “infâmia retratada no livro escrito pelo secretário Rodney Miranda” e, por isso, “não pode ser castigado por ser o porta-voz dos demais coronéis.
O secretário Rodney Miranda foi novamente procurado pelo blog para comentar a reação dos militares e o motivo pelo qual quer levar Renato Duguay para ser seu assessor técnico. A assessoria de imprensa do secretário informou que ele não vai se pronunciar.
Os militares, quando criticam o livro, citam somente o secretário Rodney. Não criticam o juiz Carlos Eduardo e nem o sociólogo Luiz Eduardo.
Os autores do livro entendem que não cometeram nenhuma calúnia contra a corporação e nem contra militares. Eles afirmam que fizeram a obra com base nas investigações policiais e nos processo judiciais.