O soldado da Polícia Militar Wagner Guimarães Rocha foi absolvido da acusação de integrar uma das quadrilhas de traficantes de drogas do Complexo da Penha, em Vitória. Preso no dia 16 de dezembro de 2011, dentro da Operação Társis, Wagner foi absolvido em julgamento realizado um ano depois pela 4ª Vara Criminal (Tóxicos) de Vitória.
No entanto, seis pessoas presas juntamente com o militar foram condenadas; enquanto outras duas também absolvidas. Já o investigador da Polícia Civil Celso Machado Castelan, também preso na mesma operação, teve seu processo desmembrado pela Justiça e poderá ser sentenciado (condenado ou absolvido) a qualquer momento.
A condenação das demais seis pessoas foi um golpe da Justiça nos traficantes que agem no Complexo da Penha – que engloba os Bairros da Penha, São Benedito, Alto Itararé, Estrela e Bonfim. A gangue foi presa na Operação Társis, efetuada pelo Grupo Especial de Trabalho Investigativo (Geti) do Ministério Público Estadual, em conjunto com as polícias Militar e Civil.
Os seis foram condenados pelo juiz Pedro Benedito Alves Sant’Ana, da 4ª Vara Criminal de Vitória, no dia 19 de dezembro de 2012, justamente um ano após a prisão.
Segundo o Ministério Público, durante as investigações desenvolvidas na Operação Társis, verificou-se que os denunciados associaram-se para a prática do tráfico de drogas nos Bairros da Penha, São Benedito e Estrela “em caráter permanente e estável”.
De acordo com a denúncia, que consta nos autos do processo nº 024.12.000960-0, parte das informações obtidas nos levantamentos realizados pela equipe de campo decorre de dados produzidos no transcorrer da Operação denominada “Társis/Drácula”, também em trâmite na 4ª Vara Criminal de Vitória.
Na sentença, o juiz Pedro Benedito ressalta que as informações indicam ainda que São Benedito possui uma criminalidade muito bem organizada, “a qual atua no comércio de drogas com influência sobre inúmeros bairros da capital, incluindo o Bairro da Penha e Estrela, bem como na articulação de delitos contra o patrimônio, em especial nas regiões nobres de Vitória, sendo que os investigados estariam no topo dessa organização”.
O juiz determinou, ainda, a destruição das drogas e demais materiais apreendidos. Também decretou a perda, a favor da União, dos demais materiais e do dinheiro apreendido, tendo em vista que estes têm procedência ilícita, devendo ser revertido em favor do FUNAD (Fundo Nacional Antidrogas).
Foram condenados a oito anos, um mês e 22 dias de reclusão Pedro Paulo Vieira, Ismael Cirilo Vieira (ele era servidor em cargo comissionado na Prefeitura de Vitória à época da prisão), André Machado e Jerlon Rodrigues de Freitas. Já Leandro Rodrigues Coutinho foi sentenciado a nove anos de reclusão. Todos, que já se encontram presos, pegaram regime inicial fechado.
Greisieli Souza Coutinho foi condenada a seis meses 24 dias em regime aberto. O juiz Pedro Benedito, entretanto, substituiu a pena privativa de liberdade por duas penas restritivas, para serem cumpridas como prestação de serviços a comunidades ou a entidades públicas. La já estava em liberdade desde julho passado.
Se PM é inocente, investigador tem situação complicada
Segundo seus colegas de farda, a absolvição do policial militar Wagner faz justiça a um militar que sempre procurou trabalhar dentro do que determinam a lei a ética. Wagner é de uma família de militares – seu irmão é capitão da PM.
Em juízo, Wagner Rocha afirmou que trabalhava no combate ao tráfico de drogas nas regiões dos bairros Bonfim, Bairro da Penha e São Benedito, sendo informado dos acontecimentos pelo acusado Ismael.
Do próprio depoimento dos policiais à Justiça, “estes afirmaram que não há associação ao tráfico em relação ao acusado Wagner, muito pelo contrário, que é um excelente policial, atuante diretamente no combate ao tráfico, ademais, repudiando policiais corruptos.”
Já a situação do investigador Celso Castelan, que na época da prisão estava lotado na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), é, segundo consta na denúncia do Geti, bem relacionado no Bairro da Penha, onde nasceu.
“Possui vários imóveis no bairro, três deles na Avenida Hermínio Blackman, n° (s) 615 e 529 e casa de esquina sem número. Tal fato é corroborado pelas próprias declarações do policial que ao ser ouvido na sede do GETI reconheceu que os imóveis lhe pertencem e que não os declarou junto à Secretaria da Receita Federal quando da realização de sua declaração anual de rendas. Referidos imóveis, inclusive, foram divididos em várias quitinetes (pequenos apartamentos), cujos lucros também não são declarados”, diz trecho da denúncia do Geti.
Mais adiante, prossegue: “Todavia, é na atividade de agiotagem desenvolvida por CELSO que se encontra sua contribuição para o tráfico de drogas, pois, a grande maioria de seus clientes são traficantes de drogas que adquirem empréstimos para a compra de drogas e pagamentos diversos, incluindo traficante ISMAEL CIRILO VIEIRA, o qual inclusive indica outras pessoas a CELSO. Frise-se por oportuno, que a conduta do denunciado já havia sido levada a conhecimento da Corregedoria da Polícia Civil desde maio do corrente ano (2011) quando denúncia anônima recebida pelo “disk denúncia” órgão vinculado à Secretaria de Estado de Segurança Pública já havia recebido informações do envolvimento do policial civil e de outro policial militar com traficantes do bairro da Penha e Morro do São Benedito”.
O relatório do Geti diz mais: “Esses empréstimos por sua vez, também são pagos com o dinheiro do tráfico, o que na visão mais simples, torna a função de CELSO elementar para o bom andamento do “movimento”. A preocupação em não conversar os assuntos por telefone, fica evidente nesse diálogo, onde o traficante ISMAEL, marca de passar em uma obra de CELSO, a qual está sendo executada no Bairro da Penha. O bom relacionamento de CELSO com ISMAEL faz com que pessoas procurem ISMAEL pra localizar CELSO e “trocar” os cheques. Materiais como notas promissórias e cheques em nome de várias pessoas foram apreendidos na residência de CELSO CASTELAN, comprovando sua lucrativa atividade extra”.