Pela primeira vez desde o “tsunami” que enfrentou entre 2017 e 2018 para que colocasse seu nome na disputa à Presidência da República nas eleições do ano passado, o apresentador de TV e empresário Luciano Huck falou como candidato. Num evento no Centro de Convenções de Vila Velha, Região Metropolitana da Grande Vitória, ele criticou o presidente Jair Bolsonaro e elencou as prioridades para o Brasil retomar o caminho do desenvolvimento econômico e social.
Para uma plateia formada por estudantes, jovens empresários e jovens políticos – e também políticos da velha oligarquia capixaba –, o dono do Caldeirão do Huck, da Rede globo, deu o tom de que como seria a sua campanha em 2022:
“Precisamos acabar com as desigualdades sociais e aumentar a eficiência do Estado brasileiro”, disse Luciano Huck, que em 2018 abriu mão de se filiar a um partido e, assim, acabou também não disputando as eleições.
Vestindo uma camisa esporte, calça jeans e tênis, Luciano Huck estava bem a vontade. Sentou-se para o debate ao lado do ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, do empresário Eduardo Mufarej, fundador do RenovaBR, e da fundadora do Movimento Vila Nova, Tayana Dantas, filiada ao Cidadania.
Tayana Dantas se filiou ao Cidadania (ex-PPS), pelo qual deverá se colocar à disposição para disputar a Prefeitura de Vila Velha em 2020. O ex-governador Paulo Hartung é apontado como nome para disputar uma possível pré-candidatura a vice-presidente numa chapa de Luciano Huck.
Luciano Huck não citou o nome de Jair Bolsonaro, mas por duas vezes fez menção ao Presidente da República. Primeiro, quando afirmou que o País tem, sim, milhões de pessoas passando fome – num café ad manhã com jornalistas estrangeiros, recentemente, Bolsonaro disse que o Brasil não tem pessoas que passam fome.
E, depois, Huck garantiu que, apesar de respeitar a legitimidade do governo eleito, “estamos vivendo o último capítulo que não deu certo”, na referência à propaganda bolsonarista de que o País vive o “primeiro capítulo de uma renovação”.
Educação
“Na Coréia do Sul, a educação se transformou em prioridade de Estado e não de governos. Lá, o investimento em educação é feito independente do viés político do governante. Na Coréia, os professores são idolatrados”.
Falando de futuro
“Vou falar de coração: não estou a fim de passar rápido por nossa geração sem poder lutar. Não estou a fim de ver um País injusto, desigual e ineficiente. Estou completamente fora da minha zona de conforto. Eu poderia ficar atrás das paredes do Projac (estúdios da Rede Globo), nas redes sociais. Mas, não. Estou aqui trocando ideias, falando do futuro do Brasil”.
País precisa de um bom roteirista
“Para se planejar o futuro do Brasil, é preciso ter um excelente roteirista. É igual a um programa de TV: precisamos ter um bom roteiro. Precisamos de gente. Eu não sou técnico em economia, educação, segurança pública e nem em políticas públicas. Mas eu sei ouvir histórias, eu sei contar histórias. O meu programa me possibilita ir à casa dos brasileiros, conhecer as pessoas e suas necessidades. Nesses 20 anos eu troquei ideias com as pessoas e sei como o País é desigual. A pobreza no Brasil é muito grande por causa dessas desigualdades”.
“As pessoas estão passando fome”
“Nas gravações que realizamos no programa País afora, vejo o quanto as pessoas estão necessitadas. As pessoas estão pessoas passando fome no Brasil. E tem gente que ainda diz que as pessoas não passam fome em nosso País. Temos 7 milhões de brasileiros vivendo com menos de 2 reais por dia no País. Numa das visitas ao Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, vi casas que sequer tinham fogão. Esse País vai explodi. Hoje, no Brasil, temos 37% da população vivendo em favelas”.
Qualificação dos políticos
“Quem tem o poder de mexer no ponteiro da desigualdade é o governo. O governo, porém, é feito por políticos. Por isso, nossa geração tem que qualificar os políticos Chile e Singapura, por exemplo, acabaram com as favelas. Portanto, buscamos, com o Renova BR buscar construir um projeto que acaba com as desigualdades e aumenta a eficiência do Estado brasileiro”.
“Estamos vivendo o último capítulo que não deu certo”
“E como fazer essa transformação? Com reformas básicas, com capital humano. Minha cruzada é convocar a minha geração a lutar. Precisamos de gente nova no governo. Com todo respeito ao governo que está aí, que foi eleito democraticamente, nós não estamos vivendo com esse governo (de Jair Bolsonaro) o primeiro capítulo da renovação. Estamos vivendo o último capítulo que não deu certo.”
Movimento cívico
“Meu projeto não é pessoal; meu projeto de País. Através de movimento cívico, quero construir um projeto aberto e avançado para nosso País”.
“Nasci duas vezes”
“Deus foi generoso comigo e me fez nascer duas vezes. Primeiro, em 3 de setembro de 1971; depois, em 24 de maio de 2015, quando eu e minha esposa (a apresentadora de TV Angélica) e filhos sofremos um acidente aéreo” – neste ponto, Luciano Huck para e se emociona”.
“Estou tentando controlar o fogo”
“Outra emoção foi quando o Paulo Guedes (atual ministro da Economia do governo Bolsonaro) bateu à porta de minha casa e me disse que, um ano antes das eleições de 2018, minha residência sofreria um tsunami, com a chegada de pessoas falando de eleições presidenciais. Desde então, estou tentando controlar o fogo. Se a vida está me dando chance, tenho que controlar e decidir”.
Escola do rico tem que ser igual a do pobre
“Refirmo a necessidade de o País investir na educação. Não podemos falar em meritocracia se a escola do rico não for igual ao do pobre. Uma escola não precisa de piscina olímpica; precisa de qualidade. Nossa elite é muito passava. Temos que colocar a mão na massa. Por isso, convoco todas as pessoas para lutarmos em prol de um País eficiente e afetivo do ponto de vista social”.