O nome dele é trabalho. Não sossega nem na hora do almoço. Ao atender o Blog do Elimar Côrtes por volta das 13 horas desta quarta-feira (02/07), em um restaurante do Bairro República, em Vitória, o delegado Danilo Bahiense, chefe da Superintendência de Polícia Prisional (SPP), falava ao celular a todo momento. Ligava e recebia ligações.
Uma das ligações foi para o gabinete do presidente da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça e decano da Corte, desembargador Adalto Dias Tristão. Queria saber se o magistrado iria colocar em pauta o julgamento de um recurso, movido pelo Ministério Público Estadual, que pleiteava a prisão do jovem Christian Cunha, 19 anos, que matou a namorada a golpes de cavadeira no terreno de uma obra na Praia da Costa, em Vila Velha. Recebeu sinal positivo.
Mais tarde, no julgamento do recurso, os desembargadores acolheram pedido do MP e mandaram o rapaz voltar à prisão – ele havia sido solto por ordem de uma juíza de Vila Velha, sob alegação de que o não representava risco para a sociedade. Como não pára, Danilo Bahiense ficou de olho no julgamento. Quando saiu a decisão do Tribunal de Justiça, mandou sua equipe ir para a rua prender o assassino, o que acabou acontecendo.
A vida de Danilo Bahiense tem sido assim: em toda carreira de delegado, que começou em 1990, ele já prendeu mais de 15.500 criminosos. Em 50 dias à frente da Superintendência de Polícia Prisional (SPP), ele incrementou a unidade: mandou para a cadeia, neste período, pelo menos 309 bandidos – este era o número até o início desta entrevista, às 13 horas desta quarta-feira.
O número subiu para 310, no decorrer do dia, com a prisão de Christian Cunha, que confessou ter matado a namorada, Bárbara Richardelle, 18 anos, no dia 17 de março deste ano. A primeira prisão do acusado foi efetuada pela equipe do delegado Adroaldo Lopes, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher.
Blog do Elimar Côrtes – Por que o senhor decidiu mais uma vez disputar um cargo eletivo, colocando seu nome como pré-candidato a deputado estadual pelo PR?
Delegado Danilo Bahiense – Embora tenhamos 43 anos de serviços prestados, ainda nos sentimos muito úteis e poderemos ajudar em muito com novas legislações, repassando nossa experiência na área de segurança pública a gestores que atuem ou que venham a atuar nesses setores.
– Como o senhor, caso seja eleito, pretende contribuir para uma segurança pública melhor em nosso Estado?
– Cobrando mais dos governantes, não somente para que ações sejam colocadas em prática, mas no sentido de escolher para administras as polícias e demais setores da segurança pública profissionais que de fato entendem do assunto. Colocar o profissional certo no lugar certo e que os gestores saibam, sobretudo, ouvir a base. Há projetos que, se tivessem tido a participação de profissionais experientes em sua elaboração, poderiam estar sendo melhor executados.
– Fale de sua trajetória profissional.
– Comecei a trabalhar aos seis anos de idade vendendo picolé, fui engraxate ambulante, lavador de carros, vendedor de banana e laranja, de cocada (fabricação própria), de lanches em escola, de balas. Fui empregado aos 10 anos de idade em oficina eletrônica em São Torquato; aos 14 anos, com carteira assinada, nas Casas Pernambucanas, posteriormente em oficina de automóvel.
Aos 17 anos fui chefe de Recursos Humanos da Chrysler do Brasil e empresas coligadas ao Grupo. Fez curso técnico em Administração e Magistério. Em 1979, aos 23 anos, me formei em Administração na Faesa, quando estava no cargo de diretor Administrativo de um grupo Imobiliário.
Em 1986, concluí o curso de Direito, na FADIC/UNESCO já como escrivão de Polícia Civil do Espírito Santo, assumindo como delegado no início de 1990. Formado em Psicanálise, Curso Superior de Polícia na Ufes e pós-graduado em Direito Político.
– Com a reestruturação da Polícia Civil, o senhor assumiu a Superintendência de Polícia Prisional (SPP), que passou a atuar de forma mais dinâmica. Conta, inclusive, com um Grupo de Busca e Captura. Como está sendo esse trabalho?
– No interior conseguimos transferir para a Sejus (Secretaria de Estado da Justiça) a escolta dos presos em 73 municípios. No entanto, na de Vitória, a Sejus assumiu apenas a escolta de Viana. Até abril de 2014, quando assumimos a SPP, a Justiça requisitava de 50 a 60 presos diariamente e a Superintendência só apresentava 35 restando um passivo mensal de mais de 400 presos que deixavam de ser apresentados. A consequência disso era a não conclusão dos processos e a liberação de criminosos em virtude de decurso de prazo. Ou seja, os criminosos voltavam a delinquir, tendo a Polícia Civil e a Polícia Militar que fazer um retábulo, ou seja, prendê-los novamente em crimes que cometiam que causavam sérios prejuízos a toda a população capixaba.
A partir da nossa assunção ao cargo, mesmo com redução de efetivo, já que alguns policiais se aposentaram, passamos a apresentar 100% dos presos requisitados cujas requisições do Poder Judiciário aumentaram, chegando a 75 presos em um único dia. Simultaneamente, mantivemos o recolhimento, de presos de segunda a sexta-feira, de todos os presos autuados nos quatro Departamentos de Polícia Judiciária (DPJs) da Grande Vitória, encaminhando-os aos presídios respectivos. Assim, pudemos liberar os policiais daqueles DPJs para terem tempo maior no atendimento a população. Somando -se a isso ainda temos implementando o Setor de Inteligência e Captura que resultou até agora em mais de 300 prisões.
Já nos questionaram como conseguimos fazer mais com menos. Respondo que é somente uma questão de gestão aplicando nossa formação e conhecimento em administração para melhor desempenho no órgão público.
Uma das medidas que proporcionaram o aumento de escolta com menor efetivo foi utilizar, por medida de segurança, algemas de mãos e pés nos presos que são encaminhados aos Fóruns, reduzindo com isso o risco de fuga e de acidentes de maiores proporções. O preso, quando algemado apenas pelas mãos, em caso de fuga, o policial pode fazer o disparo dentro do Fórum acidentalmente e poderá ferir mortalmente juízes, promotores, advogados, servidores, testemunhas, vítimas e o próprio preso, coisa que não mais ocorre.
– Quantos mandados de prisão existem para cumprir hoje no Estado?
– Na realidade existem 18 mil mandados em aberto, sendo que existem muitos elementos que têm mais de um mandado, existindo aqueles que têm mais de 10 mandados de prisão. Os mandados são em virtude de inadimplementos de alimentos, depositário infiel, furto, roubo, latrocínio, tráfico de drogas, porte de arma, homicídios tentados e consumados, extorsão mediante sequestro dentre outros.
Em muitos dos casos os elementos tiveram a prisão decretada por haver mudado de endereço sem que fizessem comunicação a Justiça. Nesses casos, logo após o cumprimento de mandado de prisão e tendo sido regularizado o novo endereço, são imediatamente postos em liberdade, como também ocorrem casos de inadimplentes em alimentos que, quando se vêem presos, os familiares e até patrões pagam a pensão.
É certo que somente apurar um crime, identificar a autoria não reduz a violência. É necessário que tais criminosos sejam retirados do convívio social para que não continuem a delinquir. Exemplo disso é que, quando assumimos a SPI (Superintendência de Polícia do Interior), fizemos inúmeras operações pelo Estado afora, chegando a prender 168 pessoas em um único dia. Em 2012, somente a SPI, prendeu 2.280 pessoas e em 2013, juntamente com a Polícia Militar, foram presas quase 10 mil pessoas presas, o que culminou em redução gradativa no índice de crimes dolosos contra a vida em todo o interior do Espírito Santo.
Atualmente, na SPP, em 50 dias úteis já foram presas 309 pessoas. Fator importante de se registrar: enquanto chefe da Superintendência de Policia do Interior, conseguimos desativar os 32 presídios anexos às nossas delegacias e transferir a escolta de presos aos Fóruns para a Sejus, desonerando nossos policiais que passaram a atuar especificamente no trabalho de Polícia Judiciária.
– Em toda carreira, o senhor tem ideia de quantos criminosos colocou na cadeia?
– Mais de 15.500 e por todos os tipos de crime.
– O senhor é do tipo de profissional que é amado por muitos, mas também odiado por outros, sobretudo por conta de sua atuação no enfrentamento à criminalidade. Isso pode ser problema ou solução no seu caso, que quer se eleger deputado?
– Com certeza, só vejo como solução, já que muitas pessoas que eu investiguei e prendi, quando se tornaram vítimas, nos procuraram na certeza de que com o mesmo rigor e empenho que apuramos os crimes que praticaram, apuraríamos os crimes em que foram vítimas.