Denúncias de irregularidades na carceragem da Polícia Militar do Espírito Santo acabam de chegar à Corregedoria Geral da PM e esta semana chegarão ao Ministério Público Estadual. Indicam que alguns policiais e ex-policiais, que estão presos pela acusação de diversos crimes – como assassinatos, assaltos e tráfico de drogas –, transformaram a carceragem numa verdadeira colônia de férias.
Fotografias feitas no interior das celas mostram os presidiários – que são policiais ou ex-policiais militares – fazendo churrasco, preparando sua própria comida e usando computadores com internet.
Algumas celas – de policiais com maior poder aquisitivo – possuem ventiladores, geladeiras, forno microondas, fogão a gás, ar condicionado, aparelhos playstation, esteira elétrica e bicicleta ergométrica para a prática de ginástica.
Comércio ilegal também estaria ocorrendo dentro da carceragem, o que é proibido pela Lei de Execuções Penais – que rege todas as unidades prisionais do Brasil, inclusive às de policiais militares, civis e federais.
Como prova do comércio ilegal estaria, segundo denúncias, a venda de uma Parati. O carro teria sido vendido pelo próprio diretor do Presídio Militar, tenente José Mauro Gomes Fernandes, para o soldado Matos, que cumpre pena por homicídio.
Embora seja avaliada em R$ 7 mil, a Parati foi vendida por R$ 11 mil. De acordo com denúncias que chegaram à Corregedoria, a diferença seria para o soldado pagar os “favores” que obteve quando ainda cumpria pena em regime fechado. Hoje, o soldado Matos teve sua pena regredida para o regime semiaberto.
A negociação entre o tenente e o presidiário ocorreu no dia 11 de outubro deste ano. O carro já teria sido passado para o nome do soldado Matos.
Porém, há cerca de oito meses, outro policial preso foi punido com 30 dias pela Corregedoria Geral da PM sem poder receber visita porque vendeu uma geladeira velha para outro militar preso por R$ 50,00.
As irregularidades, de acordo com as denúncias, não se restringem a mordomias. Um ex-PM, que está preso por assassinato, estaria recebendo ameaças de morte e já teria tentado suicídio duas vezes nos últimos meses.
Passa os dias sob efeito de medicação, depois de ter sido atendido no Hospital da Polícia Militar. A denúncia aponta que o ex-PM teria sido torturado por supostos agentes da Corregedoria, o que está sendo investigado também.
O caso do policial ameaçado chegou ao conhecimento da Associação dos Familiares Vítimas de Violência do Espírito Santo, que, por meio de sua presidente, Maria das Graças Narcot, entrou com pedido na Justiça solicitando a transferência do ex-PM para uma prisão domiciliar:
“Ele vem sendo incentivado a se matar. Sofre pressão psicológica de todas as partes, dos policiais presos e de outros militares que estão soltos. Qualquer coisa que acontecer com esse rapaz é de responsabilidade do Estado do Espírito Santo”, alerta Graças Narcot.