16 de junho de 2019. O pastor Anderson do Carmo de Souza é assassinado com mais de 30 tiros na casa da família, em Pendotiba, Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
21 de junho de 2019. Cinco dias após o crime, com exclusividade o site Blog do Elimar Côrtes informa que a pastora e deputada federal Flordelis dos Santos Souza (PSD/Rio), 59 anos, havia se transformado na principal suspeita de ser a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson. A informação havia sido confirmada ao Blog por um dos investigadores da Polícia Civil fluminense que atuaram e continuam atuando no caso. Na ocasião, o Blog do Elimar Côrtes informou que a morte do pastor teria sido motivada por questões financeiras e passionais.
24 de agosto de 2020. Um ano e dois meses após o furo de reportagem do Blog do Elimar Côrtes, a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado do Rio prenderam oito pessoas pelo envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo. A força-tarefa da Operação Lucas 12 informou que a viúva, a deputada federal Flordelis, é a mandante do crime. Flordelis, no entanto, não pôde ser presa por causa da imunidade parlamentar — quando somente flagrantes de crimes inafiançáveis são passíveis de prisão.
Segundo a polícia, antes do assassinato a tiros, Flordelis começou a tentar matar o marido em maio de 2018, botando veneno (arsênico) na comida dele.
Nesta semana, o Blog do Elimar Côrtes manteve contato com um dos policiais civis que atuam na investigação do assassinato do pastor Anderson e fez uma pergunta óbvia: “O que levou a polícia a suspeitar da viúva com apenas uma semana após o crime?”
A resposta do policial carioca é um ensinamento para policiais que investigam crimes contra a vida: “A experiência mostra que o local de crime fala. O cadáver fala e o conjunto probatório demonstra a motivação. Desde o início entendi que não poderíamos falar na morte do pastor Anderson do Carmo sem envolver a deputada Flordelis. Ela é a figura central”.
Resumo dos fatos:
– O Inquérito Policial concluiu que o pastor Anderson foi morto por questões financeiras (um dos motivos noticiado um anos e dois meses antes pelo Blog do Elimar Côrtes) e poder na família – o pastor controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis, hoje rebatizado de Comunidade Evangélica Cidade do Fogo;
– Flordelis é uma das 11 pessoas denunciadas pelo Ministério Público Estadual;
– Após o crime, Flordelis relatou em depoimento e à imprensa que o pastor teria sido morto em um assalto;
– A deputada vai responder por cinco crimes: homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso. Pelo envenenamento, ela responderá por tentativa de homicídio.
O diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP) da Polícia Civil do Estado do Rio, delegado Antônio Ricardo Nunes, informou que pelo menos 20% da família da deputada federal Flordelis estão envolvidos no assassinato do pastor Anderson do Carmo.
“Temos 11 pessoas respondendo criminalmente, levando em conta que a família são 55, nós temos 20% da família envolvida nesse crime”, afirmou o delegado. Flordelis e o marido tinham o hábito de adotar crianças.
Nome da Operação Lucas 12 mostra como a Bíblia se conecta com o caso Flordelis
A operação, realizada pela Polícia Civil e Ministério Público do Estado do Rio, recebeu o nome de Lucas 12 porque o capítulo 12° do Evangelho de Lucas, no Novo Testamento da Bíblia, fala sobre a hipocrisia e traz logo em seu 2° versículo uma das frases mais conhecidas ditas por Jesus: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”.
A descrição pode estar diretamente ligada à narrativa de que a deputada federal e pastora Flordelis e sua família tentaram evitar que seus nomes fossem vinculados ao assassinato do pastor Anderson do Carmo e, por isso, foi o motivo escolhido pela polícia para batizar a operação.
Outros trechos também trazem semelhanças com o fato. O 3° versículo traz a seguinte fala de Jesus: “O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa, será proclamado dos telhados”.
No trecho, há uma similaridade com o fato de que diversas conversas desconhecidas com planos para matar o pastor foram trazidas ao público com a investigação, como, por exemplo, quando, segundo a PC e o MPRJ, Flordelis diz que teria que matar o marido por não poder se divorciar: “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus”.
Presos na Operação Lucas 12
A polícia assim dividiu a participação na morte de Anderson.
Presos na casa de Pendotiba (Niterói), local do crime:
- Marzy Teixeira da Silva (filha adotiva):cooptou Lucas para matar o Pastor Anderson. Também participou dos envenenamentos;
- Simone dos Santos Rodrigues (filha biológica):responsável pelos envenenamentos. Simone buscou informações sobre uso de veneno na internet;
- André Luiz de Oliveira (filho adotivo):ex-marido de Simone, foi flagrado em conversas com Flordelis combinando o envenenamento;
- Carlos Ubiraci Francisco Silva (filho adotivo):pastor, é citado por participação no planejamento da morte;
Preso em Camboinhas (Niterói):
- Adriano dos Santos (filho biológico):auxiliou no episódio da carta falsa;
Presa em Guaratiba (Zona Oeste do Rio):
- Andreia Santos Maia (mulher do ex-policial Marcos):auxiliou no episódio da carta falsa.
Presa em Brasília:
- Rayane dos Santos Oliveira (neta):buscou por assassinos para as tentativas anteriores, como Lucas. Estava no apartamento funcional da mãe.
Já estavam presos:
- Flavio dos Santos Rodrigues (filho biológico):apontado como autor dos disparos, já estava preso e teve um mandado de prisão expedido nesta segunda;
- Marcos Siqueira (ex-policial):auxiliou no episódio da carta falsa e já estava preso com mais um mandado de prisão expedido nesta segunda.
Além desses nove, foram denunciados:
- Flordelis dos Santos de Souza:é a mentora do crime. Responderá por homicídio triplamente qualificado; tentativa de homicídio duplamente qualificado; associação criminosa majorada; uso de documento ideologicamente falso e falsidade ideológica;
- Lucas Cezar dos Santos (filho adotivo):já estava preso, mas não teve mandado de prisão nesta operação.