O Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar do Espírito Santo esteve novamente no olho do furacão esta semana. Seus oficiais e praças passaram mais de 14 horas cercando uma residência, no loteamento Alto Dona Augusta, área nobre de Campo Grande, em Cariacica, negociando com um empresário que mantinha a filha e a namorada dele reféns. Ao final da missão, o BME libertou as moças e prendeu o acusado, sem disparar um tiro de arma convencional.
A ação do empresário começou às 15 horas do dia 14 deste mês e se encerrou às 5h20 do dia seguinte. Foi mais uma da 50 ocorrências de reféns solucionadas com sucesso pelo BME em menos de 11 anos no Estado. O Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar é uma das unidades operacionais bem mais treinadas no Brasil. Por seu comando já passaram oficiais como Juarez Monteiro, Dejanir Silva, Eurijader Miranda Barcelos, Renato Duguay e outros. Também atuou no BME, como um de seus fundadores, o coronel João Henrique de Castro Cunha, hoje chefe do Comando de Polícia Ostensiva Especializado – ao qual está subordinado o BME.
Em entrevista ao Blog do Elimar Côrtes, o comandante do BME, tenente-coronel Alexandre Ofranti Ramalho, fala do treinamento dado à tropa, de sua satisfação de atuar na unidade e do orgulho que tem em comandar homens e mulheres comprometidos em salvar vidas:
“Nossas ações são acompanhadas em tempo real pela mídia. Um erro nosso gera profundo desgaste institucional e governamental. Assim, seguimos a premissa das tropas especiais: treinar, operar e dar treinamento”, diz o comandante Ramalho, que completa:
“Cheguei ao Batalhão de Missões Especiais em outubro de 1992, quando ainda era um sonhador 2° tenente, servindo na antiga Companhia de Polícia de Choque, sob o comando do nosso legendário Capitão Juarez Monteiro da Silva…Sinto-me profundamente honrado em comandar mulheres e homens valorosos, corajosos, dedicados, honestos, habilidosos, talentosos, comprometidos, responsáveis e, acima de tudo, fiéis ao seu comandante. Portanto, em momentos de intensa dificuldade é meu dever e obrigação estar ombreado com essa maravilhosa tropa, que Deus me deu a oportunidade de comandar, para que possa assumir todas as responsabilidades inerentes ao meu cargo e função, bem como isentá-los de qualquer culpa quando da tomada de decisão. O trabalho não é fácil, mas afirmo que vivo o melhor momento profissional da minha carreira.”
O tenente-coronel Ramalho ingressou na Polícia Militar do Espírito Santo em 1º de fevereiro de 1989. Fez o Curso de Formação de Oficiais na Academia da Polícia Militar de Minas Gerais. Foi declarado Aspirante em 1991.
Blog do Elimar Côrtes – Como é a divisão do Batalhão de Missões Especiais (BPM)?
Tenente-coronel Alexandre Ofranti Ramalho – Operacionalmente, o Batalhão de Missões Especiais é constituído por quatro Companhias: duas Companhias de Operações de Choque; uma Companhia de Operações com Cães; e uma Companhia de Operações Especiais. Todas participam ativamente da diversificada carta de serviços disponibilizada à sociedade capixaba, como: Ocorrências com Reféns (Negociadores, Atiradores e Equipe de Invasão Tática), Ocorrências em Presídios, Ocorrências com Explosivos, Operações Motorizadas, em Bairros com Elevado Índice de Criminalidade, Patrulhamento a pé em Áreas de Alto Risco, Operações de Faro para Drogas, Armas e Explosivos, Operações com Cães de Busca e Captura, Operações de Controle de Distúrbios Civis, Operações de Cumprimento de Mandados de Busca e Apreensão e Prisão, dentre outras.
– Quantas operações o BME costuma realizar diariamente?
– Todos os dias apoiamos as Unidades e Sub Unidade da Grande Vitória (1ºBPM, 4°BPM, 6°BPM, 7º BPM, e 11ª Companhia Independente) com Operações Motorizadas em horários pontuais, em que o mapa do crime aponta como período de maior incidência dos crimes de homicídios. Assim, participamos diariamente do Programa Estado Presente, seguindo a premissa do governo em reduzir os índices de homicídios.
Atualmente também estamos trabalhando, em dias intercalados com a ROTAM (Batalhão Ronda Ostensiva Tática Motorizada), em horários pré-definidos, intensificando operações no Bairro da Penha. Além disso, a qualquer momento podemos ser acionados para atender em quaisquer municípios do Estado.
– Existe uma unidade específica para negociações?
– Existem negociadores formados em cursos específicos, realizados pelo próprio BME, que estão distribuídos nos Pelotões das Companhias de Operações de Choque.
Em situação normal participam de todas as operações como os demais policiais. Caso surja uma ocorrência com reféns, retiram a farda e atuam com calça jeans, camiseta preta e colete, para que consigam, durante as negociações, maior empatia com o perpetrador (sequestrador), situação aprovada pelo Comando Geral da PM.
– Como são preparados os militares que atuam como negociadores?
– A cada dois anos realizamos, aqui mesmo no BME, o Curso de Negociação com Reféns Localizados, que dura 30 dias e aborda diversas disciplinas, como neurolinguística; técnicas e táticas de negociação; noções básicas de psicologia; efeitos das drogas, características mais comuns das pessoas que fazem outras reféns; dentre outras.
O curso tem se destacado no cenário nacional, pois, além do arcabouço teórico, todos os dias ocorrem práticas, com simulações diversificadas, quando os alunos são avaliados.
As vagas são distribuídas pela Diretoria de Ensino, Instrução e Pesquisa para toda Polícia Militar, com reserva maior para o BME, unidade promotora e responsável pela resposta, quando da eclosão desses eventos.
A procura por vagas tem sido grande. No ano passado, tivemos a participação de seis policiais militares de outras co-irmãs e um policial federal de São Mateus.
Aproveito para agradecer e informar que somente este ano estamos realizando o quarto curso: Curso para Condutores de Cães de Faro de Drogas, Armas e explosivos; Curso de Atiradores de Elite; Curso de Controle de Distúrbios Civis; e, atualmente, estamos ministrando o Curso de Operações de Choque, com a participação de quatro policiais de outras Polícias Militares, com encerramento previsto para 5 de novembro.
– O que é preciso para atuar como negociador?
– Primeiramente, conduta ilibada dentro e fora da corporação, para que suas atuações sejam respeitadas. Outras características: conhecimento técnico, habilidade para trabalhar em equipe, saber ouvir o outro, poder de argumentação, estar preparado para ser agredido com palavras e não revidar, raciocínio lógico, inteligência emocional, paciência, calma, compreensão das questões sociais, resistência a fadiga, controle emocional, respeito a hierarquia, pois não tem poder decisório, dentre outras.
– Há mulheres entre os negociadores?
– Sim, não há distinção de sexo e por vezes têm mais aceitabilidade com determinados perfis de tomadores de reféns.
– Quantas missões envolvendo reféns o BME já realizou este ano? Todas tiveram sucesso?
– Em 2013, o BME atendeu seis ocorrências com reféns: uma em janeiro e em maio; duas em agosto; e outras duas em outubro. De 2002 a 2012, foram 46 ocorrências. Graças a Deus, em todas conseguimos resgatar as vidas das vítimas. E, em apenas dois casos distintos, os acusados cometeram suicídio: um na Recauchutadora Colatinense, em Cariacica, e outro em Jardim Carapina, na Serra.
– Após libertação de reféns, o BME costuma fazer visita às vítimas?
– Sinceramente não. Recentemente, recebemos no BME aquela vítima do Centro de Vitória, penúltimo episódio no Estado, mas confesso que foi iniciativa da TV Vitória. Já pensamos em fazer isso, até mesmo com as demais pessoas, que ao longo da nossa história ajudamos em diversas outras operações. Entretanto, falta-nos tempo para estruturar esse projeto.
Acredito que é muito importante construirmos essa possibilidade de interação entre nossos policiais e as pessoas que já foram salvas pela intervenção do nosso trabalho. Assim poderão conhecer melhor nossas tarefas e ambiente de trabalho.
– Por ser uma tropa aquartelada, o BME tem de estar em constante treinamento. Como são esses treinamentos?
– Pela diversificada carta de serviços, ratifico ser extremamente importante treinarmos todos os dias. Por isso não podemos estar nas ruas por 24 horas. A atualização profissional faz parte dos nossos valores. Portanto, além dos cursos que realizamos, todos os dias ministramos instruções de assuntos diversificados para a nossa tropa.
Nossas ações são acompanhadas em tempo real pela mídia. Um erro nosso gera profundo desgaste institucional e governamental. Assim, seguimos a premissa das tropas especiais: treinar, operar e dar treinamento.
– O senhor está sempre junto à tropa em missões difíceis, de maior risco, como as que envolvem reféns e as manifestações nas ruas. Como é para o senhor participar dessas operações?
– Cheguei ao Batalhão de Missões Especiais em outubro de 1992, quando ainda era um sonhador 2° tenente, servindo na antiga Companhia de Polícia de Choque, sob o comando do nosso legendário Capitão Juarez Monteiro da Silva. Entre idas e vindas, passei a maior parte da minha carreira nessa Unidade Especial da Polícia Militar. Por isso, sinto-me profundamente honrado em comandar mulheres e homens valorosos, corajosos, dedicados, honestos, habilidosos, talentosos, comprometidos, responsáveis e, acima de tudo, fiéis ao seu comandante.
Portanto, em momentos de intensa dificuldade é meu dever e obrigação estar ombreado com essa maravilhosa tropa, que Deus me deu a oportunidade de comandar, para que possa assumir todas as responsabilidades inerentes ao meu cargo e função, bem como isentá-los de qualquer culpa quando da tomada de decisão. O trabalho não é fácil, mas afirmo que vivo o melhor momento profissional da minha carreira.
Saiba Mais
Ocorrências com reféns nos últimos 11 anos:
2002: nove
2003: duas
2004: oito
2005: três
2006: zero
2007: seis
2008: cinco
2009: quatro
2010: cinco
2011: duas
2012: duas
2013: quatro