A Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde (Agir), com sede em Goiás, está prestes a assumir a administração médica e burocrática dos dois Prontos de Atendimentos (PAs) do município de Vitória: Praia do Suá e São Pedro. A Agir, que é uma OS (Organização Social), entretanto, enfrenta uma série de acusações nos dois Estados em que atua e que se transformaram em procedimentos em Tribunais de Contas e Tribunais de Justiça Estaduais e do Trabalho. São irregularidades que vão do campo administrativo, passando pelo mau atendimento ao público, a assédio moral contra médicos e demais trabalhadores à fraude em documentos, como Notas Fiscais, além de recebimento indevido milionário de recursos financeiros.
Na licitação aberta pela Prefeitura de Vitória para a contratação da organização social para administrar os dois PAs da Capital capixaba, a Agir saiu vencedora na unidade da Praia do Suá. Em São Pedro, o vencedor foi o Instituto Ideais, com a Agir na segunda posição. No entanto, especialistas da área garantem que Ideias vai desistir ou será desclassificado pela Comissão de Licitação por conta de sua incapacidade em administrar unidades do porte de um PA. Sendo assim, o caminho estaria livre para o Instituto Agir assumir a gestão também do PA de São Pedro.
Pela administração dos dois PAs, a Agir, caso a decisão seja confirmada pelo prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), receberá cerca de R$ 6 milhões por mês. O resultado das duas licitações já foi publicado, mas a Prefeitura de Vitória teve que abrir prazo para recursos. O prazo está se esgotando e, em breve, o Município deverá publicar a homologação do resultado.
O Ministério Público Estadual de Goiás instaurou Inquérito Civil Público para apurar possíveis infrações de natureza administrativo-institucional cometidas pela Agir, no âmbito da administração do Hospital de Urgências Governador Otávio Lage (Hugol). De acordo com documentos enviados ao ‘site’ Blog do Elimar Côrtes, a Agir teria recebido cerca de R$ 51 milhões da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás entre agosto de 2014 e junho de 2015 – período anterior à inauguração do hospital, oficialmente realizada em julho do mesmo ano.
Na época, a promotora de Justiça Fabiana Zanalloa destacou que o contrato de gestão não estabelecia a utilização de recursos para despesas pré-operacionais, visto que os recursos estavam vinculados à prestação de serviços, o que configuraria uma inversão contratual de objetivo.
Em pronunciamento da Tribuna da Assembleia Legislava de Goiás, em 12 de novembro de 2024, o deputado estadual Wilker Barreto (Mobiliza) chamou atenção para o resultado do chamamento público que definiu a celebração de contrato para a gestão do HPS 28 de Agosto e do Instituto da Mulher Dona Lindu. Em Sessão Ordinária, o parlamentar repudiou a escolha da Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde (Agir), envolvida, segundo ele, “em múltiplas denúncias e investigações com outro nome (razão social).”
Durante seu pronunciamento, Wilker destacou que a Agir foi alvo de investigações e denúncias por fraudes, coação de médicos, recebimento de R$ 51 milhões em repasses ilegais e denúncias de assédio e perseguição. O parlamentar alertou sobre o risco que essa escolha representava para a saúde pública do Estado e criticou a ausência de audiência pública.
“Em uma rápida pesquisa do instituto escolhido para administrar duas unidades de extrema necessidade para a saúde do nosso Estado, nós já temos que o instituto trocou de nome. No nome antigo, que tem a mesma sigla, tem várias denúncias de investigações do Ministério Público de Goiás, na nova não aparece nada. Nenhum deputado teve acesso aos estudos, nenhuma audiência pública foi feita e nós estamos falando de R$ 2 bilhões. Será que isso não é levado em consideração?”, questionou na Tribuna do Legislativo Estadual.
No dia 17 de fevereiro de 2025, o Metrópoles noticiou que a 4ª Vara Cível de Goiânia determinou a suspensão do contrato da OS que administra o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente ( Hecad) com uma empresa selecionada para realização de cirurgias de fissuras labiopalatinas. Segundo a publicação, a Agir havia sido contratada pela Secretaria de Saúde de Goiás, em 2023, para fazer a gestão do Hecad por mais quatro anos, pelo valor global de R$ 615 milhões.
A Agir conduziu, em outubro de 2024, o processo seletivo que declarou a empresa Shirley de Souza Correa Perillo Ltda vencedora para a realização do procedimento cirúrgico no Hecad, que foi suspenso pela 4ª Vara Cível em 13 de fevereiro de 2025.
Na decisão liminar, o Juízo apontou “indícios da suposta ilegalidade no processo de chamamento” que teve a Shirley como vencedora. A suspensão foi determinada em um processo de autoria de outra empresa, segundo a qual o contrato foi assinado no mesmo dia da publicação do resultado e antes do prazo para análise de recurso, configurando suposta “simulação” do procedimento.
Em 28 de fevereiro de 2025, o Portal Alex Braga informou que, após receber mais de R$ 60 milhões do Governo do Amazona, o Instituto Agir teria deixado pacientes agonizando no Hospital 28 de Agosto. Segundo a publicação, duas filhas que estavam com os pais internados na unidade relataram o descaso, a falta de atendimento e a desinformação na unidade gerida pela Agir, contratada por R$ 2 bilhões pelo governo do Amazonas.
“O caso do senhor Luiz Lima da Silva, de 66 anos, é um dos exemplos mais trágicos dessa realidade. Após 11 dias internado, ele só conseguiu realizar o procedimento de cateterismo cardíaco graças à mobilização de sua filha, Luana da Silva, assistente administrativa, que recorreu às redes sociais para denunciar a situação. Em vídeo divulgado em seu Instagram, Luana chamou a atenção para a gravidade do caso e expôs a urgência de melhorias na assistência médica do hospital”, diz a reportagem.