Ao completar 40 anos na última quinta-feira (29/08), a deputada estadual Camila Valadão (Psol) concedeu entrevista ao ‘site’ Blog do Elimar Côrtes em que fala de suas propostas como candidata a prefeita de Vitória. A Capital do Espírito Santo jamais teve uma mulher à frente do Executivo Municipal, tabu que ela explica como pretende quebrar: “Sem dúvida, pretendemos dialogar e sensibilizar as mulheres para a importância de termos pela primeira vez na história uma mulher no comando da Prefeitura. Existem evidências em todo o mundo que as cidades governadas por mulheres possuem mais investimentos nas políticas sociais e melhores indicadores de desempenho”, afirma Camila.
Graduada em Serviço Social e doutora em Política Social, Camila Valadão foi presidente do Conselho Regional de Serviço Social e integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos. Elegeu-se vereadora de Vitória em 2020 pelo PSOL com 5.625 votos. Foi eleita para seu primeiro mandato de deputada estadual em 2022, tornando-se a mulher com a maior votação na história da Assembleia Legislativa, com 52.221 votos.
Camila é sobrinha da mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutora em Serviço Social pela UFRJ e professora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Política Social na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Vanda Valadão, que foi a primeira mulher a assumir o cargo de secretária Municipal de Segurança Pública no Estado. Vanda foi secretária em Vitória, a partir de 2005, no primeiro mandato do então prefeito João Coser (PT), que também é candidato a prefeito da Capital capixaba nas eleições de outubro de 2024. Camila Valadão tem uma ligação afetiva com a Guarda Municipal de Vitória e reserva para a unidade, caso seja eleita prefeita, mudanças que possam possibilitar melhoria no combate à violência em Vitória:
“…Falar de segurança é falar do nosso direito fundamental à vida. Dessa forma, a gente constrói um conjunto de propostas, eu diria não para avançar nessa temática, mas para reformular, porque a forma como a Segurança Pública vem sendo construída por parte da gestão atual do município está transformando Vitória em uma cidade do medo permanente. A gente está falando de uma gestão que não tem direcionamento estratégico da sua Política de Segurança Pública, que não dialoga com os demais municípios, com o Governo do Estado, com as forças da Segurança Pública, e a gente entende que é preciso retomar tudo isso de uma maneira planejada”, diz Camila Valadão.
Blog do Elimar Côrtes – Os críticos afirmam que o atual prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, deixou a cidade no isolamento político e econômico. Como reverter essa situação para que a Capital volte a ter protagonismo político e econômico?
Camila Valadão – O atual prefeito administra a Prefeitura de uma forma extremamente autoritária. Não dialoga com os servidores, movimentos e também com a diversidade política e social existente na nossa cidade. O resultado disso é uma gestão completamente isolada em si mesma, o que inviabiliza o desenvolvimento econômico e social da nossa cidade. Uma cidade potente economicamente é aquela que pulsa iniciativas, projetos e cultura.
Nesse sentido, o nosso Plano de Governo prevê, além da ampliação dos espaços de participação social, a retomada do diálogo e parceria com os Governos Estadual e Federal, a realização de um planejamento estratégico para definir as prioridades econômicas regionais e o fomento ao turismo.
– Como a senhora avalia a educação hoje no município de Vitória?
– A educação em Vitória conta com uma rede extremamente avançada em comparação aos demais municípios do Espírito Santo. Isso é resultado de um longo processo, o que, portanto, não pode ser creditado a atual gestão. Considero que desde o início do mandato do atual prefeito, uma das principais potências da nossa rede vem sendo atacada, que é a gestão democrática nas escolas. Ao invés de fazer avançar esse mecanismo fundamental, que qualifica a nossa rede, o prefeito busca enfraquecê-lo.
– Se eleita prefeita, que propostas a senhora vai implementar para melhorar a educação em Vitória.
– A nossa primeira proposta é exatamente fortalecer a gestão democrática como um princípio fundamental para a qualidade da educação da nossa cidade. Apontamos ainda como propostas a valorização das trabalhadoras da educação, o investimento na melhoria e na modernização dos nossos CMEIs e EMEFs, as ações para garantir uma educação diversa e inclusiva e, ainda, o fortalecimento da política de Educação de Jovens e Adultos além de efetivar um modelo de Educação Integral na rede municipal de ensino, com o objetivo de integrar as políticas de esporte, arte e cultura.
– Quais são suas propostas para a segurança pública de Vitória?
– É importante lembrar que o atual prefeito prometeu paz e segurança e o que vimos nesta área foi um retrocesso absoluto. Em vários bairros de Vitória os moradores vivem sob tensão e conflito, resultado de uma gestão que abandonou os bairros periféricos, que não construiu políticas públicas para a nossa juventude e que isolou a cidade das demais forças de Segurança Pública. Na nossa concepção, segurança se faz de forma articulada com as demais políticas, com participação comunitária e diálogo com as Polícias Militar, Civil e Federal. Além disso, no âmbito local, precisamos de uma Guarda Municipal valorizada e qualificada.
Nessa direção, como principais propostas na área da segurança, destaco a implementação de um novo modelo municipal de segurança pública, com foco na proteção da vida e na promoção da cidadania; a construção de um Pacto Municipal de Redução da Violência Urbana e Doméstica; a criação do Observatório Municipal da Violência, com o objetivo de coletar, produzir e sistematizar dados sobre segurança pública, violência e vitimização; o fortalecimento do Conselho Municipal de Segurança; e a elaboração do Plano Municipal de Segurança de Vitória, com o objetivo de definir prioridades para a atuação na área.
– Setores do funcionalismo, como os profissionais da educação, reclamam da falta de diálogo da atual gestão com os servidores. A senhora pretende, se eleita, abrir um canal de diálogo com o funcionalismo?
– A participação social é o primeiro item do nossos Plano de Governo e a prioridade da nossa gestão. Só é possível construir avanços para a nossa cidade a partir das contribuições de quem vive e trabalha nela. Por isso, nós queremos fortalecer os espaços de participação que já existem e criar novos espaços, como o Orçamento Popular e o Fórum de Conselhos Municipais.
– Como deverá ser a Vitória do futuro na sua visão?
– Na nossa visão, a Vitória do futuro deve ser uma Vitória sem medo, com oportunidades e direitos para todas as pessoas.
– Fale mais sobre ‘Vitória sem medo’.
– Vitória sem medo é o primeiro eixo do nosso programa e não é por acaso. A gente teve certeza, andando pela cidade, dialogando com servidores públicos, com pessoas que estão em diferentes áreas e regiões, que o que ainda prevalece é esse sentimento de medo. O medo da perseguição política por parte dessa gestão; o medo porque foi prometido uma cidade com mais paz e o que nós tivemos foi, na verdade, o aumento dos conflitos e da violência; o medo de circular, o medo de dirigir com segurança…Esse foi o primeiro eixo que nós consideramos. A gente precisa construir uma cidade sem medo. E, dentro desse eixo, as primeiras propostas são para ampliar e fortalecer a participação popular na administração pública.
Um segundo tema é a Segurança Pública, um tema fundamental, porque falar de segurança é falar do nosso direito fundamental à vida. Dessa forma, a gente constrói um conjunto de propostas, eu diria não para avançar nessa temática, mas para reformular, porque a forma como a Segurança Pública vem sendo construída por parte da gestão atual do município está transformando Vitória em uma cidade do medo permanente. A gente está falando de uma gestão que não tem direcionamento estratégico da sua Política de Segurança Pública, que não dialoga com os demais municípios, com o Governo do Estado, com as forças da Segurança Pública, e a gente entende que é preciso retomar tudo isso de uma maneira planejada.
Em relação à Guarda Civil Municipal, é importante ressaltar que ela tem um papel fundamental na segurança da nossa cidade. A gente entende que a Guarda é uma das forças que estão vinculadas à segurança, mas não atua sozinha. Não é possível a gente partir da concepção de uma Guarda que vai dar conta de todos os problemas, de todas as formas de violência. A gente está falando de uma Guarda que tem o seu escopo de atuação que, na nossa análise, precisa estar voltada à lógica da prevenção, à lógica da proximidade. E nós queremos recuperar esse papel, que é a verdadeira missão da Guarda Municipal na cidade de Vitória.
A gente também precisa falar de uma Guarda valorizada, esse que é um pleito antigo. Se a gente considera o debate das Guardas em várias cidades do País, vemos que Vitória ficou para trás, que a nossa Guarda não tem valorização. Não recebem [guardas municipais] remunerações justas, aliás temas que a gente precisa retomar: a valorização; a remuneração; condições de trabalho; apoio psicológico para os nossos guardas, já que, cada vez mais a atuação nas ruas é uma atuação que provoca o estresse. São várias situações de conflitos e isso requer uma atenção também do poder público para com a Guarda Municipal. E também realizar concurso público. A gestão atual ficou três anos sem fazer concurso público. Anunciou só agora, na véspera da eleição, completando o quarto ano de gestão. Existe uma defasagem de efetivo, o que levou e leva a uma sobrecarga e também a uma completa ausência da Guarda Municipal em locais que são estratégicos para a gente na cidade de Vitória.
– Na sua percepção, que obras são mais necessárias hoje em Vitória?
– É importante destacar que obras são fundamentais, mas devem ser debatidas e planejadas com a cidade. A atual gestão fez o anúncio de várias obras na véspera da eleição, sem debater com as comunidades. Além disso, o prefeito inaugurou obras não finalizadas.
Vamos conduzir as obras da cidade de forma debatida e planejada, minimizando os transtornos para a vida das pessoas. Na nossa avaliação, Vitória precisa de investimentos na área de mobilidade, requalificação de espaços públicos e construção de equipamentos na área da saúde. Além disso, é urgente priorizar as obras em locais que podem trazer sérios danos para a vida das pessoas, como contenção de encostas e moradias em áreas de risco.
– A senhora é a única mulher a disputar a eleição para prefeita este ano. Vitória nunca teve uma mulher como chefe do Executivo Municipal. Pretende sensibilizar o eleitorado feminino e atrair os votos com esse fator?
– Sem dúvida, pretendemos dialogar e sensibilizar as mulheres para a importância de termos pela primeira vez na história uma mulher no comando da Prefeitura. Existem evidências em todo o mundo que as cidades governadas por mulheres possuem mais investimentos nas políticas sociais e melhores indicadores de desempenho.
– Se eleita, a senhora pretende fazer com que o Executivo Municipal volte a ter diálogo com o Governo Estadual?
– Hoje eu já possuo uma boa relação com o Governo do Estado. Embora tenha um mandato independente na Assembleia Legislativa, dialogo com o Governo sobre temas e pautas de interesse da população. Essa deveria ser a postura de qualquer governante sério. A pirraça do atual prefeito levou a cidade de Vitória ao isolamento.
– Como a senhora avalia as últimas pesquisas de intenção de votos para a Prefeitura de Vitória?
– As últimas pesquisas indicam que temos um espaço significativo para crescer, uma vez que temos baixa rejeição e muita gente que ainda não conhece a nossa campanha.