Há 60 anos, nascia o capixaba mais apaixonado pelo Flamengo: Udisomar Uliana, o Dinho. Aniversariante da última quinta-feira (13/06), Dinho já colecionou mais de 300 camisas rubro-negras. Hoje, não tem mais essa grande quantidade, pois quando as roupas vão ficando pequenas nele, sua mãe, Tecla Sandre Uliana, doa para pessoas carentes do Morro Jaburuna, bairro vizinho à Glória, em Vila Velha, onde Dinho reside com os pais. Aliás, o vermelho e preto fazem parte de seu corpo. Ele não tira a camisa do Mengão nem para dormir. Vai a qualquer evento – seja religioso, festivo, passeio, consulta médica – vestido com o manto sagrado da Nação Rubro-Negra. No último domingo (16/06), o guerreiro Dinho foi pego de surpresa: recebeu uma justa homenagem do ‘Galão do Sefa’. Trata-se de dois times de futebol veteranos amador da Sociedade Esportiva de Futebol Amador (Sefa), cuja sede fica na Rua Mourisco, 10, na Glória.
A homenagem foi pelo aniversário de 60 anos de Dinho, que ganhou uma camisa feita exclusivamente para ele, com a descrição ‘Número 1 do Galão’. Teve que colocar o uniforme sobre a camisa do Flamengo, com a qual ele chegou ao campo do Sefa, levado por seu sobrinho mais velho: Ronaldo Camporez Souza Júnior. O Galão do Sefa foi fundado em 1º de maio de 1985. Desde então, Dinho vai todos os domingos ao campo ver os ‘peladeiros’ bater uma bolinha. Primeiro, foi levado pelo seu cunhado, Ronaldo Camporez Souza, que jogou no ‘Galão’. Depois, pelo sobrinho Ronaldo Júnior:
“Esta é uma singela homenagem do Galão para o nosso número 1, que é o Dinho. Ele acompanha o Galão desde a sua fundação. Quando não há jogos no domingo, por causa de um mau tempo, por exemplo, Dinho fica triste”, disse um dos coordenadores do Galão do Sefa, Arilson Gallina. “Gostei muito, adorei a homenagem”, agradeceu Dinho, já bastante emocionado.
Dinho, que é católico, teve a sorte de nascer justamente no Dia de Santo Antônio, um dos santos mais populares do Mundo, mas sabe que o padroeiro do Flamengo é São Judas Tadeu. Dinho sofre de uma síndrome, que, aos poucos, o fez perder a coordenação motora. Pode não ter mais condições de se deslocar de casa, na Glória, para ir a um estádio de futebol ver o seu Flamengo, mas não perde um jogo do rubro-negro carioca. Ele já tem a tabela dos jogos do Mengão guardada em sua memória e, no dia da partida – seja pelo Brasileirão, Libertadores, Copa do Brasil –, lá está ele sentado no sofá e ligado na televisão. No passado, quando o jogo não estava na TV – na época em que não havia ainda as TVs por assinatura e nem à cabo –, Dinho ouvia os jogos do Flamengo pelo famoso radinho de pilha, que ganhou de seus pais.
Como bom rubro-negro, Dinho tem um sonho: conhecer de perto o maior ídolo do clube: Zico. Seu sonho maior, porém, não pode mais ser realizado: ele sempre desejou fazer uma foto ao lado de Zico e Roberto Dinamite. Sim, apesar do Dinamite ter sido o maior ídolo do arquirrival (Vasco), Dinho sempre admirou o atacante, numa clara demonstração de que Dinho entende mesmo de futebol. Roberto Dinamite morreu no dia 8 de janeiro de 2023, aos 68 anos de idade, depois de lutar contra um tumor no intestino desde o fim de 2021.
“Eu só não gostava quando o Dinamite fazia gol no Flamengo”, diz Dinho.
Gozador, como todo flamenguista, Dinho só lamenta não ter conseguido fazer seu sobrinho Ronaldo Júnior a se tornar torcedor do Flamengo. “Meu sobrinho é Vasco, coitado”, provoca Dinho. Era com o sobrinho que Dinho, no passado, costumava ouvir os jogos do Flamengo pelo radinho. Hoje, os dois assistem até o ‘Clássico dos Milhões’ juntos, como o que ocorreu no dia 2 de junho de 2024, quando o Flamengo aplicou uma sonora goleada, de virada, sobre o Vasco por 6 a 1, em jogo válido pela sétima rodada do Brasileirão.
Dinho não só coleciona camisas do Flamengo, como também recorda dos jogos mais marcantes. Para ele, o melhor Flamengo de todos os tempos foi aquele que, comandado por Zico, sagrou-se campeão do Mundo no Japão, em 1981. Foi no 13 de dezembro e o Mengão venceu o Liverpool (Inglaterra) por 3 a 0. Nunes, duas vezes, e Adílio marcaram os gols, ainda no primeiro tempo, e botaram os ingleses na roda. O Galinho Zico, no entanto, foi eleito o melhor em campo.
O Liverpool havia conquistado três edições da Liga dos Campeões nos cinco anos anteriores e era o grande time da Europa no momento, mas contra o Flamengo não foi capaz de segurar a qualidade técnica e o toque de bola dos brasileiros. “Me lembro bem desse jogo. Foi de madrugada e fiquei acordado. Não dava pra dormir. Foi só alegria nos dias seguintes”, conta Dinho.
Perguntado sobre quando começou a sua paixão pelo Flamengo, Dinho sorrir: “Na barriga da mamãe”. O ‘Número ‘ do Galão do Sefa tem o saudável hábito: acorda todos os dias às 5 horas da manhã para assistir a uma missa na televisão.