A Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) vai colocar em funcionamento, nos próximos dias, um novo modelo de tratamento convencional completo em sua Estação de Tratamento de Água (ETA V) de Carapina, na Serra, com a finalidade de combater a grande quantidade de turbidez (lama) que desce da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria da Vitória, que aumenta nos dias de fortes chuvas e acaba provocando a suspensão do fornecimento de água para a população que reside em bairros da Zona Norte de Vitória e parte dos municípios de Cariacica, Serra, Fundão e Aracruz. O investimento nesse serviço é de R$ 61,5 milhões e vai beneficiar a população de 134 bairros localizados nas cinco cidades afetadas.
Na quarta-feira (21/02), por exemplo, as chuvas intensas provocaram um aumento significativo na turbidez (lama) da água do Rio Santa Maria, tornando-a imprópria para captação e tratamento pela Cesan. Conforme explicou a diretora de Engenharia e Meio Ambiente da Companhia, Kátia Muniz Côco, esse fenômeno provoca a suspensão imediata da captação até que o manancial apresente condições adequadas para o tratamento e distribuição à população.
A turbidez elevada, causada pela sedimentação de partículas na água, torna o processo de tratamento da água mais desafiador, podendo interromper o abastecimento. No Rio Santa Maria, onde normalmente o nível da água se mantém em torno de 1,30 metro, durante o período chuvoso atingiu 4,8 metros. Além do aumento do volume, a velocidade da água também se elevou, levando consigo uma quantidade significativa de sedimentos.
Graduada e Mestre em Engenharia Ambiental, Kátia Côco explica ainda que a Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria é relativamente pequena. Por isso, “se não for protegida ambientalmente, qualquer chuva deixa o solo exposto”, deixando, assim, excesso de barro, o que reflete na turbidez. Segundo ela, de terça para quarta-feira a turbidez ultrapassou a casa de mil unidades. Essa quantidade não permite o tratamento da água. Na floto-filtração, o sistema de tratamento permite a separação das matérias orgânicas presentes na água a partir da injeção de ar dissolvido. Nele as partículas se movem para a superfície do tanque, onde serão removidas por raspadores de lodo.
“Para resolver essa questão, a Cesan está evoluindo no tratamento da água, que é um tratamento adicional, que chamamos de convencional completo. É dividido em cinco fases: adição de produtos químicos; floculação; decantação; filtração; e desinfecção. Teremos etapas adicionais para tratamento da água quando a turbidez atingir um grau mais alto. Na próxima semana já começaremos a colocar a unidade em operação”, avisa Kátia Côco.
Ainda de acordo com a diretora de Engenharia e Meio Ambiente da Cesan, a vazão do tratamento da água começa a se reduzir quando a turbidez do Rio Santa Maria chega a 500 unidades. Por isso, se reduz também a distribuição de água para a Grande Vitória. No entanto, garante Katia Coco, a partir do novo tratamento, na próxima semana, o abastecimento será normal independente do excesso de lama que desce do rio:
“Para se ter ideia, até 2004 foram registrados quatro indícios de turbidez. Em 2023, por seis vezes ultrapassou-se a casa das 500 unidades de turbidez. A partir de agora, mesmo com o nível histórico de turbidez, a Cesan terá condições de fazer o tratamento sem prejudicar o abastecimento. Na terça-feira (20/02) fizemos a última paralisação para a interligação na unidade de tratamento de Carapina, com a instalação dos novos equipamentos adquiridos”, disse Kátia Côco.
A obra começou em 2021, no segundo mandato do governador Renato Casagrande (PSB). De acordo com Katia Coco, esta é uma das obras prioritárias da Cesan. No entanto, ela alerta à população do entorno da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria da Vitória – que possui uma área de drenagem de aproximadamente 1.876 km2 e abrange cinco municípios capixabas – sobre a importância da preservação do meio ambiente: “É preciso que se faça a cobertura vegetal da Bacia. É necessário se ter o devido cuidado com o meio ambiente”, pondera Kátia Côco, que, na quinta-feira (22/02), participou do Fórum da Coordenadoria Regional da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria da Vitória e Jucu – Ministério Público: Recursos Hídricos, Sustentabilidade e Meio Ambiente, realizado no auditório da Pousada e Buffet Il Conventino, em Santa Teresa. A Bacia contempla Santa Maria de Jetibá e parte dos municípios de Cariacica, Santa Leopoldina, Serra e Vitória.
No evento, promovido pelo Ministério Público Estadual, a diretora Kátia Côco trouxe à luz uma discussão sobre a importância do Rio Santa Maria da Vitória no abastecimento de água para a Grande Vitória. Em seu painel, intitulado “Água: contribuição das nascentes na sustentabilidade e disponibilidade dos recursos hídricos”, Kátia destacou os investimentos em tecnologia avançada realizados pela Cesan e ressaltou a necessidade de uma parceria coletiva em ações de conservação da bacia hidrográfica: “É um privilégio estar aqui hoje para falar de um tema tão importante. Nossos investimentos são fundamentais, mas é crucial reconhecer que a conservação da bacia hidrográfica depende da colaboração de todos. A parceria entre governos, instituições, comunidades e setor privado é essencial para proteger esse recurso vital para as gerações futuras”, destacou.
Por que o abastecimento de água é prejudicado quando chove muito?
Parece contraditório, mas quando chove muito o abastecimento de água para a população pode ser afetado. Isso acontece por causa da grande quantidade de lama e outros detritos que as chuvas levam para o leito dos rios. São as florestas, nos topos dos morros, e as matas ciliares, nos fundos dos vales, que protegem os cursos d´água e impedem que todo esse material chegue ao rio. Porém, como essas áreas estão degradadas, há uma piora expressiva na qualidade da água que a Cesan capta nos períodos de chuva forte, dificultando o tratamento e obrigando a Empresa a paralisar estações de tratamento com mais frequência para a lavagem de filtros.
Com as chuvas fortes cada vez mais frequentes por causa das mudanças climáticas e sem as florestas que protegem rios, córregos e lagos, os sedimentos se movem com velocidade e chegam ao leito, aumentando a turbidez (lama) na água. O fluxo intenso ainda pode provocar o deslizamento das encostas e das margens, elevando a quantidade de resíduos e de terra na água.