O governador Renato Casagrande (PSB) participou neste sábado (17/02) das comemorações dos 150 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos ao Brasil e ao Espírito Santo. Para Casagrande, o evento é um marco histórico para ele, já que sua família, que é de Castelo, Região Serrana do Estado, descende de italianos. A celebração começou cedo, com o embarque de um grupo de participantes no Aquaviário da Praça do Papa, em Vitória. O cortejo marítimo percorreu o caminho até o Porto de Vitória, em frente ao Palácio Anchieta. O governador e a primeira-dama, dona Virgínia Casagrande, estavam no alto da Escadaria Bárbara Lindemberg, que liga a Avenida Jerônimo Monteiro ao Palácio, para recepcionar os participantes do cortejo. Dali, onde já estavam centenas de descendentes de diversas famílias que vieram da Itália há 150 anos, o grupo se dirigiu à Catedral Metropolitana, para uma missa.
Na próxima quarta-feira (21/02) se comemora o “Dia Nacional do Imigrante Italiano” em referência à chegada em 1874 da Expedição de Pietro Tabacchi ao Espírito Santo, evento que inaugura a imigração em massa de italianos para o Brasil. Ao todo, foram 388 camponeses – trentinos e vênetos – que embarcaram no navio à vela “La Sofia” e chegaram à Capital capixabas em busca de oportunidades, trabalhos e vivências. Por isso, para celebrar a data, aconteceu neste sábado uma ampla programação com atividades culturais que envolveram músicas, danças, religiosidade e comidas típicas. O evento é uma realização da Associação Federativa Italiana do Espírito Santo (Comunità) e do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) com a colaboração de diferentes entidades.
“Para mim e minha família, em especial, este momento é um marco histórico muito importante. Meu tataravó veio da Itália junto com os primeiros imigrantes. A presença de imigrantes italianos aqui contribuiu e contribui muito para o desenvolvimento do nosso Estado. No entanto, vale frisar que todos os imigrantes que vieram para o Espírito Santo ajudaram, junto com os demais povos, nosso Estado a crescer e se transformar na potência que é hoje”, pontuou o governador Casagrande.
A comemoração foi marcada por trajes de época, música e muita dança, reunindo descendentes representantes de várias cidades do Espírito Santo para marcar a data. O Espírito Santo é considerado, oficialmente, o berço da imigração italiana no Brasil, pois foi em território capixaba que teve início a grande epopeia da imigração italiana para o País. A inauguração desse processo imigratório se deu em 1874 com a chegada da Expedição Tabacchi, composta por 388 camponeses norte-italianos (trentinos e vênetos).
O médico-cirurgião Jesse Rangel Tabacchi, residente na Mata da Praia, em Vitória, é de uma das famílias italianas que chegaram ao Espírito Santo na primeira leva de imigrantes: “Meus familiares chegaram aqui em 1874, no navio ‘La Sofia’. Já sou da quinta geração dos Tabacchi e este momento é um marco para todos nós. Eles chegaram na mesma embarcação, em que estavam 388 pessoas, e seu destino, depois de desembarcar no Porto de Vitória, foi Santa Cruz, em Aracruz”, disse Jesse Tabachi, ao lado de seu primo, o capitão da Reserva Remunerada do Corpo de Bombeiros Jorge Tabacchi.
O grupo saiu da portaria principal do Palácio Anchieta, na Cidade Alta, e foi até a Catedral de Vitória, onde aconteceu a Missa Polifônica Italiana, que contou com a participação do Coro das 100 vozes – a missa, toda em italiano, foi celebrada por Dom Décio Zandonade, cuja família também veio da Itália, indo se fixar em Venda Nova do Imigrante, Região Serrana capixaba.
Na Catedral, o grupo foi recepcionado pelo prefeito da Capital, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e a primeira-dama, Paula Pazolini. Ele comentou sobre a importância da vinda de imigrantes italianos para o Espírito Santo:
“Celebrar a imigração italiana é celebrar a nossa história. Temos no Espírito Santo uma das maiores colônias italianas do Brasil e nossa trajetória é marcada pela ajuda desses europeus que fazem parte da construção do nosso estado. Esta também é uma grande oportunidade para além do reconhecimento, de demonstrarmos mais uma vez uma das nossas características mais marcantes: a do acolhimento. Parabéns a toda colônia italiana e parabéns a todos que convivem tão ativa e harmoniosamente em prol de uma sociedade cada vez mais pujante e igualitária”, declarou Pazolini.
A imigração Italiana no Espírito Santo
Em 17 de fevereiro de 1874, chegava ao porto de Vitória o navio “La Sofia”, conduzindo 388 imigrantes italianos. Eles foram contratados por Pietro Tabacchi, que possuía a fazenda “Monte das Palmas”, em Santa Cruz. O empreendimento, porém, não prosperou, provocando descontentamentos e revoltas. Um grupo seguiu para colônias oficiais da Região Sul enquanto outros aceitaram a proposta do Governo do Espírito Santo para se instalarem na “Colônia Imperial de Santa Leopoldina”, sendo direcionados ao Núcleo de Timbuhy, no atual município de Santa Teresa.
No acervo do APEES, existem centenas de documentos que testemunham esse importante fato histórico. Dentre eles, está um ofício que mostra a existência de imigrantes na localidade em outubro de 1874. Trata-se de um pedido de ressarcimento feito pelo colono Francesco Merlo, encaminhado no dia 28 de outubro de 1874 ao Presidente da Província. Francesco solicita do governo a restituição dos gastos que teve com a passagem da Itália à Colônia de Nova Trento, no valor de 122 Fiorins, pelo fato de não ter sido reembolsado pelo contratante. Com base neste documento foi publicada a Lei nº 13.617, que reconhece oficialmente a cidade de Santa Teresa como a pioneira da imigração italiana no Brasil.
A primeira expedição de italianos para o Espírito Santo foi batizada com o sobrenome do seu idealizador. De acordo com o sociólogo Renzo M. Grosselli, no livro “Colônias Imperiais na Terra do Café”, da Coleção Canaã do APEES, Tabacchi era um italiano oriundo de Trento que já se encontrava na província desde o início da década de 1850. Ao observar o interesse do país pela mão de obra europeia, ele decidiu oferecer terras para os imigrantes em troca do direito de derrubar 3,5 mil jacarandás para exportação.
Após um longo período de negociação, o Ministério da Agricultura autorizou o contrato com Tabacchi, que por sua vez enviou emissários ao Trentino (Tirol Italiano), à época sob o domínio austríaco, para capitanear famílias. Assim, no dia 3 de janeiro, às 15 horas, partia do porto de Gênova a embarcação “La Sofia”. Em 01 de março, começou a viagem até o porto de Santa Cruz, em direção à propriedade de Tabacchi. Foi a primeira expedição em massa de camponeses da Itália para o Espírito Santo e daria início à epopeia emigratória dos italianos. Porém, os colonos logo perceberam que foram enganados por falsas promessas. Não existiam as terras preparadas e a situação nos alojamentos era caótica.
A Expedição Tabacchi inaugura um movimento migratório. Desta vez, o foco dos agenciadores se concentra na península itálica, especialmente nas regiões norte-nordeste, de onde partiram aos milhares para diversos países do mundo e, em um número considerável, para o Brasil. A Itália recém-unificada era um país desconexo, com altas taxas demográficas e uma grande massa de desempregados. Sem alternativas, muitos viajaram para realizar o “sonho da América”. Em 1875 as partidas dos transatlânticos de Gênova e de outros portos da Europa se tornaram rotinas.