Quatro dias depois de ter sido alvo de mandado de busca e apreensão da Polícia Federal, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), o senador capixaba Marcos do Val (Podemos) usou a tribuna do Senado para se defender das acusações de promover ataques ao Judiciário nas redes sociais. Ele afirmou que as buscas feitas em seu gabinete ferem a Constituição e ameaçam a democracia e a harmonia entre os Poderes. Do Val, no entanto, acabou provocando revolta entre os policiais federais, ao citar em sua fala que agentes que estiveram em seus endereços – Brasília e Vitória – teriam ficado constrangido, pediram desculpa e teve até policial federal que, “emocionado”, chegou a “chorar”.
Os mandados contra o senador foram expedidos pelo ministro do STF Alexandre de Moraes na última quinta-feira (15/06). A motivação da ação seria a obstrução da investigação dos atos golpistas contra os três Poderes e a divulgação de documentos sigilosos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre os atos do 8 de janeiro. As contas das redes sociais do senador também foram suspensas.
“Meu agradecimento à Polícia Federal, porque a Polícia Federal estava extremamente constrangida, sabendo que era uma operação política, e não de polícia. Deixando claro o meu histórico, que todos me conhecem. Teve até policial que ficou emocionado, que chegou a chorar no dia (da operação), pedindo desculpa por estar ali, tendo executar uma ordem que ele também sabia que não estava dentro da Constituição”, disse Marcos do Val durante seu discurso.
Na noite de terça-feira (20/06), o Sindicato dos Policiais Federais do Espírito Santo (SINPF-ES) divulgou nota de repúdio às declarações, chamando-as de levianas e mentirosas. Segundo a nota de repúdio, “o senador afirmou que os policiais federais que cumpriram a determinação judicial estavam constrangidos por realizarem a operação e teve policial que ‘chegou a chorar’ pedindo desculpas. O Sindicato afirma que a “Polícia Federal é formada por profissionais de altíssima competência e experiência, acostumados às mais diversas e complexas operações necessárias ao cumprimento de ordens judiciais, apoio operacional e às demais atribuições relacionadas ao órgão.”
Afirma ainda a nota do Sindicato que em “em nenhum momento foram verificadas quaisquer reações como as levianamente mencionadas pelo senador Marcos do Val por parte dos policiais federais envolvidos na operação. Além disso, a menção feita pelo parlamentar a algo que não aconteceu muito incomodou e desrespeitou os policiais federais e a instituição.” Por fim, o SINPF-ES “reafirma o compromisso dos policiais federais com a ética, a aplicação justa das nossas leis e o cuidado com a segurança da sociedade.”
No discurso de segunda-feira, Marcos do Val se defendeu das acusações: “Nunca, nos quase 200 anos de história do Senado, seja no Império ou na República, um senador teve, por força de uma decisão judicial monocrática, sua morada e o seu gabinete, localizado dentro do Senado Federal, invadidos e revistados por expressar a sua opinião e cumprir o mandato a ele outorgado pelos votos de quase 1 milhão de capixabas”, declarou o parlamentar, que foi eleito, em 2018, com 863.359 – Fabiano Contarato também foi eleito com 1.117.036 votos.
Marcos do Val afirmou que há um excesso de decisões monocráticas no Supremo Tribunal Federal. Para ele, o STF está usando suas competências para violar as prerrogativas do Senado Federal. O senador reiterou que não cometeu nenhum crime ao divulgar relatório sigiloso da Abin, pois afirmou que “o sigilo caiu” e que o documento teria sido adulterado pelo general G. Dias (Gonçalves Dias), que foi ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
O parlamentar também refutou acusações de que publicou notícias falsas por apresentar diferentes versões sobre um suposto plano de golpe de Estado que envolvia o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira e a gravação de conversas com o ministro Alexandre de Moraes.
“Começaram com a retórica de que eu sou doido, de que eu sou ora uma coisa, ora outra. Só que se esquecem de que, no setor em que a gente trabalha, o que eu fiz é usado desde a 2ª Guerra Mundial e que a Ucrânia está usando agora, que é a indução de informações. Quando você quer mandar uma mensagem para alguém, você cria uma narrativa para atrair a imprensa e dentro dessa narrativa tem uma mensagem que uma pessoa precisa receber. E, quando eu fiz esse movimento, foi para dizer para todos esses ministros que eu já tive acesso ao relatório e já estava sabendo a verdade. E não citei o ministro Alexandre de Moraes nem o STF, porque achei que ele faria a sua proteção e passaria a relatoria para outro ministro, tomaria providências para dentro da legalidade, da moralidade, mas assim ele não o fez”, explicou.
Segundo o senador, os policiais responsáveis pela operação ligaram para Moraes informando que não estavam achando o “pen drive laranja”, mencionado anteriormente pelo parlamentar, mas não encontraram nada de ilícito. A operação foi planejada, de acordo com Marcos do Val, para acontecer no dia do seu aniversário “sob um forte aparato policial, equipado como uma operação contra criminosos de alta periculosidade”. Alguns policiais que estavam cumprindo a ordem, segundo o senador, ficaram “constrangidos, emocionados, e pediram desculpas”.
Marcos do Val disse que foi “censurado” e teve sua voz calada e suas prerrogativas totalmente violadas por um suposto crime de opinião. Para ele, essa ação é “uma das maiores afrontas já sofridas por um membro do Senado”.
(Com informações também da Agência Senado)